Ciência e Saúde

Reanimação cardiorrespiratória, a massagem cardíaca, salva vidas há 50 anos

A reanimação cardiorrespiratória (RCP), conhecida popularmente como massagem cardíaca, só foi reconhecida oficialmente em 1960. Especialistas defendem que toda a população seja treinada e passe a conhecer o método, possibilitando que mais vidas sejam poupadas

postado em 23/10/2010 08:00
A sigla é pouco conhecida, mas capaz de salvar muitas vidas: RCP. Trata-se da reanimação cardiorrespiratória, popularmente chamada de massagem cardíaca. Estima-se que a técnica, aprovada para o uso em larga escala há exatos 50 anos, fez aumentar em cerca de 30% as chances de sobrevida de quem, seja por razões clínicas ou por algum acidente, parou de respirar e cujo coração parou de bater. Especialistas afirmam, no entanto, que no Brasil a técnica é pouco difundida, tanto entre profissionais de saúde quanto entre leigos, e que a capacitação da população poderia ajudar a salvar mais vidas. Descobrir alguma forma de reanimação sempre foi um desafio para o homem. Desde a Idade Média, métodos diferentes eram utilizados na tentativa de salvar a vida de pacientes com parada cardíaca. Em 1767, um grupo de cidadãos de Amsterdã, na Holanda, reuniu-se para criar uma técnica para ajudar as pessoas que se afogavam no rio que corta a cidade. A técnica incluía desde o aquecimento da vítima até cócegas em sua garganta. Foi apenas na década de 1950, porém, que a reanimação moderna começou a se delinear. Os médicos norte-americanos James Elam e Peter Safar foram os primeiros a demonstrar experimentalmente que uma massagem poderia manter o paciente vivo, fazendo com que os batimentos cardíacos e a respiração fossem retomados, com o bombeamento manual do sangue e do ar. Em 1960, a RCP foi aprovada oficialmente pela Academia Nacional de Ciências, pela Sociedade Americana de Anestesiologia, pela Sociedade Médica do Estado de Nova York e pela Cruz Vermelha Americana como o método preferido de reanimação. De acordo com o especialista em resgate Marcos Haley Barbosa, a técnica é extremamente útil, pois trabalha os diversos tipos de paradas cardíacas e respiratórias. ;Ela serve tanto para o paciente que teve a parada por razões clinicas, ou seja, por um problema de coração previamente existente, quanto para quem sofreu algum tipo de acidente, como queda, afogamento ou qualquer outro tipo no qual tenha havido perda significativa de sangue;, explica. Pedido de ajuda O médico socorrista do Exército Paulo Guimarães explica que três procedimentos são necessários para que uma pessoa que sofreu uma parada cardíaca possa sobreviver. ;Primeiramente, é preciso que alguém chame ajuda, seja para os bombeiros ou para médicos. O segundo passo é iniciar a reanimação cardiopulmonar;, explica Paulo. ;Ela deve prosseguir até a chegada de ajuda médica, que fará o terceiro passo ; a desfibrilação ;, para, em seguida, dar um suporte mais avançado para o paciente, que é o quarto pilar básico;, afima o médico, que participou de um programa para disseminação da técnica entre a população do Haiti, após o terremoto que sacudiu o país em janeiro. Ele explica que as chances de sobrevivência de um paciente que recebeu a reanimação são bem maiores do que as de um paciente que não teve essa ajuda. ;Quanto mais pessoas souberem como fazer massagem cardíaca externa, mais chances de sobrevivência terão as vítimas de parada cardíaca súbita. RCP realizada por pessoas que socorrem a vítima duplica a sobrevivência de paradas cardíacas tidas fora dos hospitais;, conta. Marcos defende que todas as pessoas sejam treinadas para fazer a RCP em uma situação de emergência. ;Hoje, no Brasil, estima-se que cerca de 30 mil brasileiros recebam, anualmente, treinamento em reanimação cardiopulmonar e primeiros socorros. Números pouco expressivos, se comparados aos dos Estados Unidos, onde quase 15 milhões de pessoas recebem treinamento em RCP;, lamenta. ;O ideal é que mais pessoas recebam treinamento prático, efetivo, com manequins, para que possam se capacitar a executar a reanimação só com as mãos;, completa o médico. O estudante de enfermagem Júlio Cesar Pereira dos Santos, 23 anos, resolveu se matricular em um curso para aprender RCP. ;Na faculdade, nenhuma matéria trata da reanimação. Acho que é uma lacuna muito grande na formação dos profissionais de saúde;, conta. ;Tenho uma amiga estudante de medicina que estava em uma festa e foi perguntada: ;Se alguém aqui passar mal, o que você pode fazer?; Infelizmente, ela sabia que não poderia fazer quase nada. Depois disso, procuramos aprender a técnica;, conta o futuro enfermeiro. Engana-se quem pensa que desde então a técnica continua a mesma. Anualmente, a Sociedade Americana do Coração (AHA, na sigla em inglês) revisa o protocolo de reanimação cardiorrespiratória. ;Isso serve para atualizar o protocolo de acordo com as principais mudanças na sociedade e os maiores avanços na medicina;, explica Marcos Haley. Uma das mudanças recentes foi a inclusão de um novo passo no protocolo, que inclui ligar para a emergência, incluído devido à popularização dos celulares. (Veja Passo a passo) A reanimação cardiorrespiratória completa exige, além de movimentos contínuos de compressão do peito, a chamada respiração ;boca a boca;. No entanto, o próximo protocolo proposto pela AHA deve tornar esse passo não obrigatório. ;Isso se dá pelo fato de que, muitas vezes, o socorrista acaba perdendo muito tempo com a técnica e deixando de fazer o mais importante, que são as compressões no peito. Além disso, a respiração boca a boca muitas vezes transformava-se num fator complicador, pois o socorrista não se sentia à vontade para executar a técnica num estranho;, conta o médico Paulo Guimarães.

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