O Brasil ; considerado uma das peças-chaves nas negociações da 10; Conferência das Partes sobre Diversidade Biológica (COP-10), que ocorre na cidade japonesa de Nagoia ; não pretende se comprometer com nenhuma meta de proteção das espécies se o acordo não contemplar uma divisão dos lucros provenientes da diversidade com os países que a abriga. Em outras palavras, isso significa que as nações que utilizam recursos naturais de outros países teriam de dividir os lucros dessa utilização. Conhecida pela sigla em inglês ABS, a questão do acesso e compartilhamento de benefícios é tão complexa que um grupo paralelo e informal foi criado na tentativa de costurar um acordo até a próxima semana, quando os ministros do Meio Ambiente das nações devem chegar ao Japão. ;Se adotarmos um protocolo ABS, podemos ter um plano estratégico na compreensão de que também teremos recursos financeiros. Esses aspectos estão interrelacionados;, afirmou Paulino Franco de Carvalho, chefe da divisão de meio ambiente do Ministério das Relações Exteriores (MRE) do Brasil.
A posição brasileira vai contra o interesse de nações que atualmente utilizam espécies nativas, principalmente de países tropicais, sem compensá-los financeiramente. Por isso, a discussão promete ser um dos principais desafios dos líderes mundiais, que até o dia 29 discutem metas de preservação para os próximos 10 anos. ;Acho vergonhoso essa questão ainda não ter sido aprovada;, comentou o secretário interino de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente (MMA), João de Deus. Apesar de divididas, as 188 delegações que estão em Nagoia já veem espaço para negociar a abrangência do acordo. Enquanto o Brasil defende a inclusão irrestrita de derivados da biodiversidade, as nações mais ricas defendem um acordo menos restritivo, contemplando apenas o uso direto das espécies.
Oceanos
Enquanto as discussões continuam, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) lançou um relatório com dados alarmantes sobre a vida nos oceanos. De acordo com o estudo, que mapeou a vida em 18 regiões do planeta, o aquecimento global deve reduzir a fertilidade dos oceanos nos próximos 40 anos, eliminando centenas de espécies de peixes e de corais. Além dos efeitos do aumento da temperatura da água, o crescimento excessivo de algas corre o risco de envenenar a água e causar mortes em massa de peixes.
Segundo a pesquisa, a diminuição da vida marinha também deve ter impactos sobre a indústria pesqueira, que será dominada por espécies menores, que ocupam a base da cadeia alimentar. ;Serviços multimilionários, inclusive a indústria da pesca, o controle climático e os que sustentam indústrias como o turismo, estão sob risco se os impactos ao ambiente marinho continuarem;, afirmou Achim Steiner, chefe do Pnuma, em comunicado.