Duas décadas depois de a ciência conseguir cultivar, com sucesso, células-tronco embrionárias em laboratório, uma companhia de biotecnologia anunciou, ontem, a primeira experiência terapêutica com esse tipo de estrutura em um paciente humano. Cercado de sigilo, o teste da Geron Corporation, será realizado em uma pessoa com lesão na medula espinhal, problema causado por um traumatismo que resulta na perda de diversas funções locomotoras e sensitivas. A empresa americana foi a primeira a receber, no país, autorização governamental para manipular as controversas células embrionárias com esses fins.
A Geron não forneceu informações sobre o paciente ; idade, sexo, gravidade da lesão ;, mas afirmou, em comunicado à imprensa, que ele estava cadastrado no Shepherd Center, um hospital com centro de pesquisas clínicas de reabilitação em Atlanta, na Geórgia. Também foi informado que as células-tronco embrionárias utilizadas na pesquisa provêm de uma clínica de tratamentos para infertilidade, cujos embriões não implantados foram doados à ciência. Como têm capacidade de se transformar em qualquer tipo de célula, as estruturas embrionárias serão manipuladas para darem origens a células nervosas. Teoricamente, elas poderiam se deslocar até o local da lesão e ajudar os nervos a se regenerar.
Ainda não se trata, porém, de uma pesquisa com o objetivo de cura ou tratamento da lesão. Na fase 1, o estudo vai verificar o nível de segurança das estruturas obtidas por meio das células-tronco embrionárias quando injetadas no organismo do paciente. ;A função primária dessa fase é assegurar a tolerância nos pacientes com lesões espinhais;, diz o comunicado.
A servidora pública Gabriela Costa, 35 anos, é portadora de distrofia muscular e afirma que, mesmo que a pesquisa ainda esteja no início, trata-se de um grande avanço. ;A FDA (agência americana similar à Anvisa brasileira) já havia reprovado estudos desse laboratório. Então, o fato de uma agência tão rigorosa ter aprovado agora, depois que as exigências foram adequadas ao exigido, indica que é um procedimento seguro;, acredita. Gabriela lembra que é preciso cautela, pois a pesquisa pode não dar certo e frustrar quem deposita as esperanças no teste. Ela conta, porém, que os pacientes estão ;com os olhos voltados; ao experimento da Geron.
Nas ondas do mar
Pesquisadores do Brasil e do mundo estão desvendando o potencial de espécies oceânicas no combate a células tumorais. Veja como:
; Estudos produzidos nos últimos anos mostram que pressões ecológicas promoveram o desenvolvimento de moléculas complexas em certas espécies marinhas
; Mais de 3 mil novas substâncias foram identificadas a partir de organismos marinhos, provando o grande potencial desse ambiente como fonte de novas
classes de moléculas bioativas
; Produzidas por um mecanismo secundário, essas moléculas favorecem a defesa de alguns animais e vegetais marinhos e contêm propriedades anticâncerígenas
; Para os cientistas, esse mecanismo explica a sobrevivência de certas espécies às adversidades marinhas e representam esperança para o desenvolvimento de novas drogas
Em águas brasileiras
Sargassum vulgare
; Pesquisadores da UFC estudam os alginatos ; polissacarídeos formados por unidades de ácido manurônico e ácido gulurônico ; isolados da alga marinha Sargassum vulgare
; Nas experiências em camundongos, avaliou-se o potencial antitumoral dos alginatos da S. vulgare em carcinomas mamários na região axilar desses animais
; A substância, principalmente quando administrada por via oral, inibiu significativamente o crescimento do tumor nos camundongos
* A associação do alginato com uma droga quimioterápica muito usada (5-FU) mostrou ser uma interessante estratégia terapêutica para redução da toxicidade dos compostos
A alga
; Nos trópicos e subtrópicos de ambos os hemisférios, o gênero Sargassum
é um importante componente da flora marinha
; Em termos ecológicos, as espécies de Sargassum formam populações de
porte variado que constituem bancos, muitas vezes, extensos
; A Sargassum vulgare produz metabolismos secundários que reduzem a palatabilidade das algas para os herbívoros, influenciando, assim, a estrutura das populações dos costões rochosos
Ascídia endêmica
; De uma espécie de ascídia endêmica no litoral nordestino identificada como Eodistoma vannamei, o grupo da UFC isolou duas moléculas estaurosporinas que também apresentaram atividades antitumorais
; Testes em células e em camundongos já demonstraram propriedades de combate a tumores
; Os pesquisadores estão isolando micro-organismos presentes nessa ascídia, na tentativa de encontrar entre eles os produtores dessas moléculas
; A partir dessa identificação, será possível produzir os compostos por meio da fermentação
Fonte: Universidade Federal do Ceará