Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Engenheiro inventa umidificador feito de sucata para ambientes pequenos

Não é só o Distrito Federal que sofre com o tempo seco. O problema se estende aos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo e Tocantins. Nesses tempos de recordes de baixa umidade do ar ; em agosto, chegou a 7% em cidades do interior paulista ;, os umidificadores são cada vez mais usados para aliviar o sufoco da secura. Enquanto muita gente corre para as farmácias e lojas de eletrodoméstico para comprar o aparelho, o engenheiro eletricista de Santa Rita do Sapucaí (MG) Cláudio Lasso preferiu inovar ; e economizar: criou um umidificador feito de sucata e que não necessita de energia elétrica. ;Um produto baseado na demanda social e ambiental;, define.

Diferentemente dos estudos científicos, que demoram anos para serem concluídos, os inventos surgem da necessidade de resolver rapidamente algum problema. No caso de Lasso, era o sofrimento da sobrinha de 9 meses, que estava sofrendo com o tempo seco. Em casa, ele colocou em prática princípios da engenharia aliados à preocupação com o meio ambiente ; além de não gastar energia elétrica, o equipamento é feito apenas de objetos que costumam ir para o lixo. ;Optei por materiais que todos temos em casa, para que qualquer pessoa possa fazer seu umidificador em poucos minutos;, diz o inventor.

O material utilizado é composto por uma garrafa, um pote de sorvete, um CD velho e um pano absorvente, do tipo Perfex (veja arte). A forma de utilização do pano, segundo Lasso, é o grande diferencial do seu invento, garantindo mais eficiência. Apenas a ponta dele é colocada na água, fazendo com que ela demore mais para evaporar. ;Uma toalha molhada na cabeceira da cama leva cerca de 20 minutos para secar. Já o umidificador de ar absorve 1cm de água por dia, dependendo da umidade relativa do ar e do tamanho da vasilha;, compara o inventor.

O professor do departamento de Engenharia da Construção Civil da Escola Politécnica da USP Vanderley Moacyr John explica que qualquer tecido de algodão (quanto mais grosseiro melhor) pendurado com a ponta de baixo colocada dentro d;água obtém o mesmo resultado. ;A água sobe pelo tecido por capilaridade, o que aumenta a área de contato com o ar, aumentando a quantidade de água evaporada;, explica. ;Eu mesmo já improvisei, em um hotel de Brasília, uma toalha pendurada com a parte de baixo encostando na água da pia;, conta.

Boa solução
A invenção de Lasso é elogiada por outros especialistas. ;A fabricação é muito simples e barata, colaborando, inclusive, para a redução de descarte de material usado;, opina Mauro Severino, professor de engenharia elétrica da Universidade de Brasília (UnB). Saulo Rodrigues, coordenador de pós-graduação em desenvolvimento sustentável da UnB, acha a ideia muito interessante, principalmente porque elimina o uso da energia elétrica. ;Precisamos de soluções como essa para reduzir os problemas ecológicos. Principalmente porque cerca de 70% desses problemas é de responsabilidade do consumo de energia de combustíveis fósseis, que ainda passa pela energia elétrica;, avalia Rodrigues.

Para melhorar sua eficiência, o engenheiro mineiro sugere que o umidificador caseiro seja colocado em frente a um ventilador, que servirá para espalhar a umidade. Além disso, o inventor explica que, por ser pequeno ; cerca de 30cm de altura e 15cm de comprimento ;, o umidificador não ocupa muito espaço, como bacias de água. ;Eu mesmo uso na mesa em que trabalho;, exemplifica Lasso. Com isso, ele pode ser utilizado em diversos cômodos, e a pessoa pode construir vários para distribuí-los pela casa.