Situado a 55,7 milhões de quilômetros, Marte é muito mais ativo e mais parecido com a Terra do que se imaginava, apesar da aparência fria e seca. A superfície do Planeta Vermelho tem interagido com a água desde o passado longínquo. Até alguns milhões de anos atrás, vulcões lançavam seus gases na atmosfera marciana. Especialistas da agência espacial norte-americana, a Nasa, chegaram a essas conclusões após analisarem os isótopos de carbono e oxigênio presentes no dióxido de carbono suspenso no ar. A medição foi possível graças ao Analisador de Gás Térmico e Expandido da sonda espacial Phoenix Mars Lander, que tocou o solo e Marte em 25 de maio de 2008.
O instrumento foi capaz de realizar análises mais precisas do que aparelhos similares das sondas Viking, que esmiuçaram Marte na década de 1970. ;A composição isotópica estável da atmosfera marciana revela que seu dióxido de carbono tem proporções de carbono e oxigênio similares às existentes na atmosfera terrestre;, afirma ao Correio, por e-mail, Paul B. Niles, cientista planetário do Johnson Space Center, da Nasa, e autor da pesquisa publicada na revista científica Science.
Niles explica que a baixa gravidade e a ausência de campo magnético indicam que o dióxido de carbono se perde no espaço. ;A atmosfera marciana recentemente se repovoou com dióxido de carbono emitido de vulcões, sugerindo que o vulcanismo era muito ativo até recentemente;, afirma. No entanto, o fato de a assinatura vulcânica não constar em isótopos de oxigênio sugere que o dióxido de carbono de Marte reagiu com a água a temperaturas próximas do congelamento. ;A substância, em estado líquido, está bastante presente sobre a superfície do planeta. A água é recente e abundante o bastante para afetar a composição isotópica da atmosfera;, acrescenta o cientista. Os isótopos são variantes do mesmo elemento, porém com pesos atômicos diferentes.
A confirmação desses resultados foi obtida ao se comparar a composição de meteoritos marcianos coletados na Terra. Os fragmentos espaciais contêm minerais de carbonato capazes de se formar somente na presença de água líquida e de dióxido de carbono. ;Um meteorito em particular, o EETA 79001, possui minerais de carbonato totalmente compatíveis com as medidas atmosféricas realizadas pela Phoenix Mars. Esse meteorito se cristalizou sobre Marte durante a mais recente era geológica do planeta, apenas 170 milhões de anos atrás, assegurando que os processos de formação do carbonato e suas condições associadas à presença de água têm ocorrido em Marte, mesmo sob um clima seco e frio;, observa Niles.
Ele lembra que o estudo não se concentrou em medir a quantidade de água em Marte ; a descoberta do líquido deu-se de forma indireta. O dióxido de carbono se dissolve rapidamente em reação com a água líquida, formando o bicarbonato, que possui um átomo adicional de oxigênio, derivado da molécula. ;Quando esse processo está em equilíbrio, o dióxido de carbono se dissolve e permite a extensiva comunicação com a água, recebendo as ;impressões digitais; do líquido;, comenta Niles.
Marcas
Descobertas anteriores de grandes voçorocas, ou erosões, em formação ativa sobre a superfície marciana apontam que elas teriam sido produtos do contato com a água. ;Poderia ser água o bastante para determinar a assinatura vista no dióxido de carbono atmosférico;, comemora o cientista da Nasa. Paul Niles também destaca que a Phoenix Mars já havia descoberto grandes reservatórios de gelo perto da superfície de Marte. ;Isso sugere que o solo marciano tem água abundante. No entanto, em quase todas as regiões, ela é fria o bastante para ser líquida;, emenda.
Ao ser questionado sobre a importância da descoberta para aferir uma maior compreensão sobre o passado geológico de Marte, Niles responde: ;A principal coisa agora é que temos evidências de que muitas alterações ocorreram em Marte por causa da água, e a baixas temperaturas;. Na opinião dele, os resultados explicam que sistemas hidrotermais extensos não estiveram presentes na superfície marciana. ;Isso é consistente com o fato de o planeta ser desprovido de placas tectônicas, ao contrário do que ocorre na Terra;, comenta.