Um estudo publicado na revista especializada Science demonstrou como o organismo tenta minimizar os efeitos colaterais provocados pelo próprio sistema imunológico, quando o corpo luta contra uma infecção. A pesquisa também traz novas informações sobre o porquê de a fumaça do cigarro ser um importante fator de risco para o desenvolvimento de doenças pulmonares, como bronquite crônica e enfisema.
Quando uma bactéria ou um vírus entram no corpo, o sistema imunológico começa uma batalha para neutralizar qualquer perigo ao organismo. Um dos principais ;soldados; que trabalham contra os invasores é um tipo de célula chamada neutrófilo, que emite enzimas tóxicas para matar os visitantes indesejados. Ao mesmo tempo, porém, essas enzimas podem causar danos colaterais ao tecido infectado ; em uma analogia com guerras, seria uma espécie de ;fogo amigo;. Por isso, os neutrófilos precisam atuar o mais rápido possível, para eliminar a infecção sem prejudicar o corpo.
;Apesar de ser uma importante estrutura na luta contra as infecções, se o neutrófilo agir sem controle ele pode danificar nossos corpos;, explicou, no estudo, Sir Robert Snelgrove, pesquisador do Imperial College London, da Inglaterra. ;Sabemos que sua persistência contribui para o desenvolvimento e a severidade de várias doenças que atingem o pulmão, como a fibrose cística e a obstrução crônica pulmonar.;
De acordo com Snelgrove, o neutrófilo pode causar danos particularmente no pulmão, onde ele costuma liberar as enzimas tóxicas no colágeno, estrutura essencial para o funcionamento do órgão. Em contato com o pulmão, o neutrófilo acaba arrancando do tecido epitelial uma molécula chamada PGP, o que desencadeia um efeito cascata. Solto, o fragmento é identificado erroneamente como um invasor, aumentando a convocação de soldados para lutar contra ele. Porém, uma outra enzima liberada pelos pulmões, a LTA4H, consegue degradar o fragmento de PGP, quebrando o ciclo e prevenindo os danos.
O cigarro entra na história porque, segundo a pesquisa liderada por Snelgrove, a fumaça do tabaco modifica o PGP de forma a aumentar ainda mais sua habilidade de recrutar uma quantidade expressiva de neutrófilos. Além disso, ela inibe a performance da LTA4H. É por isso que pacientes com doenças pulmonares crônicas costumam acumular uma grande quantidade de neutrófilos nos pulmões. ;Há algum tempo sabemos que existia um link entre o hábito de fumar e as doenças obstrutivas crônicas. Mas somente agora conseguimos mostrar que a fumaça do cigarro pode limitar severamente a efetividade de uma enzima que contribui para limpar o excesso de neutrófilos. Isso pode ser um fator de risco para os pulmões, o que afeta a capacidade de uma pessoa respirar facilmente;, diz a introdução da pesquisa. (PO)