Ciência e Saúde

Pesquisa mostra que 35% das mulheres no Brasil sofrem com disfunção sexual

Médicos orientam o que deve ser feito para evitar traumas

postado em 01/09/2010 10:45
Nunca se falou tanto de sexo. Jamais ele foi considerado tão importante. O dinheiro que se gasta com isso não para de crescer. E nunca se faz tanto sexo como agora. Boa parte das mulheres, porém, parece não aproveitar a festa como poderia. Dados da mais ampla pesquisa feita sobre sexo já realizada no país ; o estudo Mosaico Brasil ;, em 2008, mostram que 35% das mulheres adultas sofrem de algum tipo de disfunção sexual. Os estudiosos no assunto revelam que, a cada 100 mulheres, 35 nunca atingiram o orgasmo e uma em 10 tem problemas de desejo sexual. Na vida de cada uma, isso torna-se um problema que atrapalha não só a relação conjugal, mas também a saúde mental e física.

Segundo especialistas, as causas das disfunções sexuais femininas podem ser tanto orgânicas ; como doenças e uso de drogas ; quanto psicológicas. É consenso nos consultórios, contudo, que grande parte dos problemas sexuais são provocados justamente por razões emocionais. ;Isso envolve as várias nuances do relacionamento a dois e a construção da sexualidade individual;, diz o psicólogo e sexólogo Paulo Bonança. São traumas, culpas e até desentendimentos com o parceiro que acabam agravando o quadro de disfunção sexual.

Entre os fatores orgânicos, há elementos como a fisiologia da mulher ; má formação congênita, questões hormonais e até doenças como o diabetes, a hipertensão e a depressão ; e o uso de remédios. Já os fatores emocionais passam pelo âmbito cultural, influenciado pela sociedade ; com seus valores e preconceitos ;, pela herança herdada dos pais e até mesmo pela religião.

Gérson Lopes, ginecologista e presidente da Comissão de Sexologia da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), destaca que, primeiro, é necessário a mulher conhecer e entender o seu corpo e, principalmente, não ignorar os problemas que surgem. Ou seja, a mulher deve procurar um médico quando aparecer qualquer tipo de problema que a incomode em relação ao sexo. ;Esses problemas são muito mais comuns do que se imagina. O melhor de tudo é que eles têm tratamento. Se forem orgânicos e fisiológicos, o ginecologista resolve. Se for na esfera emocional, o sexólogo trata rápido, dependendo dos fatores causadores. Se não for tratado, a mulher pode entrar em depressão;, esclarece Lopes.

Libido
As duas maiores queixas que o ginecologista recebe em seu consultório são a falta de desejo sexual e a falta de excitação, ou ausência de prazer. ;Isso afeta, principalmente, mulheres a partir dos 40 anos, que começam a ter a libido reduzida(1) por conta do início do climatério;, esclarece. O médico explica que essa ausência se dá de duas formas: quando a mulher tem desejo, mas não sente prazer, o que, possivelmente, está associado a fatores emocionais; e quando ela consegue ter prazer, mas não há lubrificação vaginal adequada, o que faz com que a relação sexual se torne dolorida. Essa segunda situação, de acordo com Lopes, na maioria da vezes, está relacionada à deficiência na produção do hormônio estrogênio.

Mesmo sabendo das consequências decorrentes da menopausa, a comerciante Maria*, 50 anos, se assustou quando começou a sentir dor no ato sexual. ;Ficava me perguntando o que havia de errado, pois eu sentia desejo, mas o sexo me machucava. Procurei o médico e ele me disse que minha lubrificação vaginal havia diminuído e que iria diminuir mais com a idade ; na época, tinha 42 anos. Ele me passou alguns remédios, para acertar meus hormônios, e me receitou lubrificantes. A partir daí, retomei minha vida sexual e não tive mais dores;, relata a comerciante.

Contudo, uma disfunção chama a atenção dos especialistas: a falta de orgasmo. Esse problema, segundo Lopes, atinge mulheres jovens de 20 anos a 30 anos e, possivelmente, é causado pela ;ditadura; do orgasmo e pela ansiedade do desempenho sexual. Paulo Bonança acrescenta que a pressão sobre a mulher para que ela se enquadre nos padrões de beleza e para que ela corresponda à imagem da ;mulher dos sonhos; ; a mais bonita, a melhor de cama, a que está sempre com vontade e tem prazer o tempo todo. ;Se espera que as pessoas sigam os padrões de comportamento. Isso é negar o que ela sente de verdade. Esses aspectos são externos e não representam o que a pessoa sente e quer;, diz o sexólogo.

Longe das nuvens
A publicitária Mônica*, 36 anos, afirma nunca ter tido um orgasmo. ;Adoro sexo, sinto prazer, mas nunca fui até ;as nuvens;, como minhas amigas dizem sentir-se quando têm orgasmo;, brinca. A publicitária alega que o fato de ter sido gorda na adolescência reflete-se hoje. ;Sempre acho que o meu parceiro não vai me achar gostosa e isso me atrapalha, porque fico prestando atenção se ele está observando alguma coisa no meu corpo;, conta. Mônica revela que a obrigação que ela sente de estar sempre bonita para o prazer do outro a incomoda. ;Não é todo dia que estamos bem, mas me sinto na obrigação de estar.;

O que a publicitária vive é a realidade de muitas mulheres. Bonança ressalta, porém, que o sexo não é algo pensado, mas sim sentido. Segundo ele, quando uma pessoa faz sexo se observando, ela está fora do ato, não está em contato com o prazer. Por outro lado, fingir que não está acontecendo nada e não conversar sobre o problema só agrava o quadro. ;É a fantasia de que, se não se tocar no assunto, não se vai passar pela angústia e ansiedade. Essa própria disfunção é um sintoma de que a pessoa encobre algo;, analisa o sexólogo. ;O ideal é que a pessoa busque ajuda. Uma terapia específica com sessões no consultório e com possíveis tarefas de casa ; atividades de autoconhecimento.; Bonança insiste, contudo, que a mulher deve conversar com o parceiro. ;O companheiro pode até pensar que não há nenhum problema, mas sente que algo está errado. O corpo fala.;

Nomes fictícios a pedido das entrevistadas

1 - Estrogênio em queda
A menopausa é um dos fatores que podem desencadear uma redução da libido. Quando começa, na meia-idade, o corpo diminui a produção do estrogênio ; que inicia na adolescência, quando é responsável pelo aparecimento dos sinais sexuais secundários na mulher. A diminuição desse hormônio é a causa da falta de lubrificação vaginal, que acaba por afetar as relações sexuais, ao tranformá-las em algo desagradável e doloroso. O tratamento é feito com a reposição hormonal indicada por um ginecologista.

O número
10%
Índice de mulheres no Brasil que sofrem com a falta de desejo sexual, segundo a pesquisa Mosaico Brasil

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