Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

A temporada de catapora vem aí

Os meses de agosto e setembro são os preferidos do transmissor da enfermidade que atinge 60 milhões de pessoas, por ano, no mundo inteiro

Febre alta, coceira, mal-estar; e surgem os pontinhos vermelhos por todo corpo dois dias após os primeiros sintomas. É a catapora. No inverno começa a temporada da varicela. Popularmente chamada de catapora, a doença causada pelo vírus Varicela zoester atinge principalmente crianças de 5 a 9 anos ;público que representa em termos universais cerca de 90% dos pacientes infectados. Trata-se de uma doença infecciosa aguda altamente contagiosa, transmitida tanto por via respiratória quanto pelo contato direto.

Os meses de maior incidência da doença são agosto e setembro, quando as crianças estão concentradas nas salas de aula. Mas a doença também acomete bebês e adultos. Estudos epidemiológicos demonstram que a catapora afeta cerca de 60 milhões de pessoas no mundo, por ano.

O período de incubação, desde o contágio até os primeiros sintomas, é de aproximadamente 14 dias. O aumento da temperatura corporal, seguido de mal-estar, falta de apetite e dor no corpo, são apenas o começo do desconforto. Depois surgem as manchinhas na pele que evoluem para pequenas bolhas com um líquido transparente. Quando essas vesículas se rompem, formam-se crostas que causam a coceira. E é essa a fase mais desagradável, e que precisa de maior atenção e cuidado. A quantidade de bolhas varia de 200 a 500, podendo atingir também os olhos e as mucosas, como a região interna do nariz.

A principal complicação da catapora são as infecções bacterianas (1) que podem se formar nas lesões. Por isso, a pele deve ser mantida sempre limpa. E, por mais que seja irresistível, não se deve coçar as feridas, muito menos arrancar as cascas para evitar que deixem cicatrizes. ;Os banhos com permanganato de potássio podem ser usados como antisséptico e secativo, porque melhoram a higiene da pele e diminuem a possibilidade de infecção bacteriana secundária;, recomenda o pediatra Bruno Vaz. Mas o tratamento não altera a evolução da varicela, apenas diminui a complicação, explica. Até o desaparecimento total das lesões a exposição solar também não é recomendada, para evitar a formação de manchas na pele.

O processo
O período de contágio da catapora vai desde os dias que antecedem o surgimento dos pontos vermelhos, com transmissão apenas pelo ar. Desse momento até que todas as lesões estejam com as crostas, ocorre tanto a contaminação pelo ar quanto no contato com a pele. ;A pessoa infectada deve ficar isolada durante o período de contaminação e caso haja piora dos sintomas, procurar um médico;, afirma o especialista em infectologia Marcos Cyrillo.

A varicela é uma doença benigna e, geralmente, o próprio corpo se recupera sozinho. Para Cyrillo, pessoas saudáveis não precisam de tratamento específico, apenas sintomáticos, ou seja, para aliviar os sintomas, principalmente a febre (veja arte).

O infectologista afirma que tanto os adultos quanto crianças podem ter formas mais severas de catapora: ;A gravidade dependerá do estado imunológico do doente e de suas doenças de base;. Mas o pediatra defende que pacientes com mais de 13 anos, inclusive os adultos, e aqueles com baixa imunidade devem ser tratados com medicação antiviral.

Ele adverte que tanto para a catapora quanto para outras doenças provocadas por vírus, não se deve usar aspirina ou outros remédios à base de ácido acetilsalicílico (AAS), pois podem provocar insuficiência hepática e agravar o quadro da enfermidade.

1 - Ação bacteriana
As infecções bacterianas da pele podem afetar uma só zona e ter o aspecto de uma borbulha ou então propagar-se em algumas horas e afetar uma área muito mais extensa. As infecções cutâneas podem apresentar um grau de gravidade variável, desde um acne sem importância até uma doença potencialmente mortal, como a síndrome da pele escaldada provocada por estafilococos. Muitos tipos de bactérias podem infectar a pele. As mais frequentes são os Staphylococcus e os Streptococcus.

O risco de doenças secundárias

Quanto à afirmação popular de que catapora só se pega uma vez, os dois especialistas concordam. ;Uma vez tendo a doença produziremos anticorpos que vão nos conferir proteção durante toda a vida;, explica Vaz. Na mesma linha, Cyrillo completa: ;Muito raramente, muito mesmo, pode ter uma segunda vez;. Mas, apesar de a doença só se manifestar uma vez, o vírus pode continuar circulando pelo organismo e evoluir para uma espécie de herpes(1) (herpes zoester). As lesões formadas por essa doença secundária, que acomete mais os idosos com imunidade muito baixa, são semelhantes às da catapora, mas atingem os nervos e provocam dores fortes.

A vacina contra varicela existe e tem eficiência de 97%. Crianças vacinadas podem contrair a doença, mas de forma mais leve, com febre baixa e poucas lesões. A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda o uso da vacina em dose única quando o bebê completa um ano de idade, com as de sarampo, caxumba e rubéola.

Se a criança não foi vacinada nem manifestou a doença até os 12 anos, deve tomá-la em duas doses, com intervalo de quatro semanas entre elas. De acordo com dados do Ministério da Saúde, entre 2003 e 2008, foram registrados mais de 25 mil surtos de varicela no país. No entanto, a vacina não está disponível na rede pública. Em clínicas particulares a dose custa cerca de R$ 150.

1 - Baixa imunidade
A herpes zoester ocorre em geral após a varicela, no caso de algumas pessoas que não desenvolvem imunidade total ao vírus, que permanece latente em gânglios próximos à coluna vertebral. Quando encontra condições de se desenvolver, o vírus reativa-se e chega à pele através dos nervos correspondentes ao gânglio. Acomete homens e mulheres, sendo mais frequente na idade adulta e nos idosos.