Pesquisadores da Universidade Estadual de Montana, nos Estados Unidos, um dos principais centros americanos de paleontologia, garantem que a ciência errou, durante mais de 100 anos, na classificação de duas espécies de dinossauros. Desde o fim do século 19, acredita-se que os triceratopes e os torossauros eram dois tipos diferentes do grande lagarto. O primeiro ostentava dois grandes chifres no topo do crânio e um menor, no nariz, semelhante a um atual rinoceronte. Já o segundo exibia dois chifres menores e uma formação no topo do crânio em forma oval, parecendo duas enormes orelhas.
Apesar das diferenças, os paleontólogos John Scannella e Jack Horner afirmaram, em artigo publicado ontem no periódico especializado Jornal de Paleontologia Vertebrada que eles, na verdade, eram o mesmo animal, em diferentes estágios de crescimento. De acordo com os cientistas, a confusão sobre o triceratopes e o torossauro é fácil de ser entendida, porque os dinossauros jovens não eram uma %u201Cminiatura da versão adulta%u201D. Eles, de fato, tinham uma aparência muito diferente ao longo da vida, e seus crânios mudavam radicalmente quando estavam maduros. Estudos recentes revelaram alterações radicais no crânio de tiranossauros, entre outros animais da espécie que morreram há 65 milhões de anos na América do Norte.
%u201COs paleontólogos ficam em desvantagem, porque não temos como ir a campo observar o triceratopes crescer, se transformando de um bebê em um adulto%u201D, lembram os autores, no estudo. %u201CTemos que formular a história baseados apenas nos fósseis. Para conseguir completar essa história, é preciso ter muitas amostras de vários indivíduos, representando diferentes estágios do crescimento%u201D, acrescentam. Sem levar em conta as mudanças morfológicas que ocorriam ao longo da vida, superestima-se a variedade dos dinossauros, produzindo uma visão irreal desses animais, sustentam os pesquisadores.
Para chegar à conclusão de que as duas espécies são, na verdade, a mesma, os cientistas estudaram profundamente diferentes fósseis ao longo de 10 anos. O projeto também incluiu a reconstrução do ecossistema do período Cretáceo, que terminou há cerca de 65 milhões de anos, quando houve uma extinção maciça de dinossauros. Como parte do estudo, os paleontólogos foram a campo e recolheram centenas de espécimes. Quase todos eram de triceratopes em diferentes estágios do crescimento. Alguns crânios pertenciam a indivíduos jovens e tinham o tamanho de uma bola de futebol. Os fósseis dos torossauros eram bem mais raros e nenhum sugeria pertencer a um jovem. Isso fez com que os pesquisadores concluíssem que, na verdade, o torossauro era o triceratopes na idade adulta.