Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Hospital francês anuncia um primeiro transplante total de rosto

O primeiro transplante total de rosto foi realizado com sucesso no final de junho no hospital Henri Mondor de Créteil (subúrbio do sudeste de Paris) pelo professor Laurent Lantieri.

Esta intervenção cirúrgica, realizada nos dias 26 e 27 de junho, durou cerca de doze horas, é o quinto o transplante de rosto realizado por esta equipe e é a décima terceira operação do tipo realizada no mundo.

O paciente, um homem de 35 anos, sofria de uma doença genética que deformava seu rosto.

O transplante total de rosto consiste em extrair todo o rosto de uma pessoa falecida, incluindo a boca e as pálpebras, e transplantá-lo numa pessoa viva.

"Nós somos os únicos que até o momento transplantamos um rosto completo, com as pálpebras em sua totalidade e todo o sistema lacrimal. Estou orgulhoso porque isso foi realizado na França", afirmou o professor Lantieri, chefe do serviço de cirurgia plástica e reconstrutiva do Centro Hospitalar Universitário Henri Mondor, falando ao jornal francês Le Parisien/Aujourd;hui en France.

O cirurgião enfatizou à AFP que o transplante das pálpebras constituía um real desafio técnico, já que se trata da parte mais difícil de implantar.

De acordo com Lantieri, "além do próprio enxerto, esses transplantes nos ensinarão muitas coisas em vários setores como imunologia".

Segundo ele, o paciente "se encontra bem, comendo e falando, e a barba já começou a crescer em seu novo rosto".

Ao descobrir pela primeira vez seu novo visual ao se olhar na segunda-feira em um espelho, o paciente, Jérôme, "levantou os dois polegares afirmando que estava muito bem".

O professor Lantieri explicou que, "do ponto de vista fisiológico, os riscos são a infecção e a rejeição, e do ponto de vista psicológico, o paciente evidentemente será tratado".

"Atualmente sabe-se que o novo rosto toma as formas da ossatura que o recebe e que não há nenhum risco de confusão", explicou.

Para Lantieri o transplante será verdadeiramente um êxito quando o paciente deixar o hospital e se reintegrar à sociedade.

"É preciso esperar que os nervos voltem a crescer para que possam ver suas expressões. Levará uns seis meses", explicou.

O cirurgião também indicou que já recebeu uma autorização para outros cinco enxertos. "Gostaria de utilizá-los em queimados graves, que tecnicamente ainda apresentam problemas".

Em abril de 2010, uma equipe espanhola também afirmou ter realizado o primeiro transplante total de rosto no Hospital Universitário Vall d;Hebron de Barcelona (nordeste da Espanha), mas sem chegar ao desafio máximo das pálpebras, segundo a equipe francesa.

Este novo transplante foi realizado cinco anos depois do primeiro transplante de rosto no mundo feito em Isabelle Dinoire, em Amiens (norte da França), por outra equipe médica.

Outro paciente, Pascal, desfigurado pela mesma doença que Jérôme, a neurofibromatose ou doença de Von Recklinghausen, já havia recebido em 2007 um transplante de rosto neste mesmo hospital. O transplante parcial permitiu que voltasse a ter uma vida social.

A neurofibromatose é uma doença genética que provoca a aparição de tumores nos tecidos nervosos e cutâneos. Pode causar problemas vasculares ou deformações corporais.

Jérôme se reuniu com Pascal e ambos falaram muito, o que tranquilizou, segundo o dr. Lantieri.