Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Cientistas identificam sinais genéticos da longevidade

Exploradores sempre buscaram a fonte da juventude, mas agora pesquisadores americanos alegam ter chegado a algo tangível no que diz respeito à longevidade, ao afirmar que o sequenciamento genético pode prever se vamos ultrapassar a barreira dos cem anos.

Uma equipe de cientistas da Universidade de Boston estudou cerca de mil centenários para desenvolver uma análise do sistema genético pelo qual podem prever - com 77% de chances de acerto - se uma pessoa tem fortes chances de ter uma "longevidade excepcional", segundo um estudo publicado na edição de sexta-feira da revista Science.

As previsões podem se resumir à presença de 150 variantes genéticas, chamados de poliformismos de nucleotídeo único (SNPs, na sigla em inglês), que os médicos e pesquisadores descobriram ser comuns a idosos que vivem substancialmente mais do que a média da população.

"Notamos no estudo que há um fortíssimo componente familiar na longevidade excepcional e que, em associação com outros trabalhos, nos fez acreditar que a genética desempenha um papel muito importante" na longevidade, disse Thomas Perls, professor de bioestatística da Escola de Saúde Pública da Universidade de Boston e coordenador do estudo.

"Os centenários são, de fato, um modelo de bom envelhecimento. Havíamos notado em um trabalho anterior que os centenários não sofrem incapacidades na idade média de 93 anos, restringindo-as ao fim de suas vidas", acrescentou.

Usando modelagem de computador, a equipe rastreou a presença de múltiplas variantes genéticas nos indivíduos estudados e em membros dos grupos de controle para identificar os SNPs mais previsíveis.

Os cientistas também identificaram 19 diferentes conglomerados ou "assinaturas genéticas" de longevidade excepcional, encontrados em 90% dos sujeitos, com as diferentes assinaturas correlacionadas a diferenças na prevalência e ativação de doenças relacionadas com a idade, como a demência.

Eles destacaram que entre os indivíduos mais idosos do estudo - com 110 anos ou mais - 45% tinham a assinatura genética "com a mais elevada proporção de variantes genéticas associadas à longevidade".

Segundo os autores, identificar tais variantes "pode ajudar a identificar subgrupos chave do envelhecimento saudável".

Perls descreveu as assinaturas genéticas como "um novo avanço na direção de uma medicina personalizada genômica e preventiva, onde este método analítico pode provar ser amplamente útil na prevenção e na proteção de várias doenças, bem como para produzir medicamentos sob medida".

Uma descoberta chave, segundo os autores, foi a de que parece haver uma diferença desprezível entre os indivíduos e o grupo de controle nas variáveis associadas a doenças, sugerindo que a presença de variantes genéticas relacionadas à longevidade é mais importante que a ausência de traços associados a doenças.

Se estas descobertas estiverem corretas, "prever o risco de uma doença usando variantes associadas a doenças pode ser inadequado e potencialmente enganoso, na falta de mais informações sobre outras variantes genéticas que pudessem atenuar este risco", disseram os autores.

Os centenários são um exemplo ideal de envelhecimento, pois desenvolvem doenças relacionadas com a idade, como câncer, problemas cardiovasculares e demência muito depois dos 90 anos, destacaram os autores na pesquisa.