Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Brrr! o inverno chegou

Doenças que pegam carona na estação mais seca e fria do Planalto Central e parte do Sudeste aumentam em 40% a média de atendimento hospitalar. Especialistas alertam para a necessidade de tomar vacinas e outros cuidados


Está aberta, oficialmente, a temporada de espirros, tosses e inflamações na garganta. Com a chegada definitiva do inverno, no dia 21, que já vinha se insinuando nas baixas temperaturas registradas desde o início do mês, aumentaram as ocorrências das doenças típicas do frio. Além das transmitidas por vírus, como resfriado e gripe, as de origem respiratória, como asma e alergia, tendem a piorar. Um levantamento do Hospital 9 de Julho, de São Paulo, registrou um aumento de 40% nos casos desses males, sendo que a média de atendimento no pronto-socorro relacionada às doenças respiratórias crescem mais de 20%.

No frio, as pessoas tendem a se aglomerar em locais fechados, o que propicia a circulação dos vírus. Só da gripe, existem mais de 90 tipos. ;Ninguém precisa usar máscaras, mas adotar medidas gerais de higiene, como lavar as mãos com frequência e não esfregá-las no nariz, nos olhos e na boca, porque isso leva o vírus para as mucosas;, diz o médico Ademir Lopes, da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SMFC). Ele também recomenda evitar lugares com grande concentração, como shoppings.

[SAIBAMAIS]O médico esclarece que tanto o resfriado quanto a gripe são virais, mas provocados por agressores diferentes. As enfermidades provocam sintomas semelhantes, como nariz entupido e secreção. Porém, enquanto o resfriado não interfere nas atividades diárias, a gripe é mais grave. ;A pessoa fica prostrada, com dores pelo corpo inteiro, é acompanhada de febre e dor de cabeça. O risco de aparecerem complicações é maior, e a pessoa pode até morrer;, explica.

Orientação médica
Nos dois casos, o sistema imunológico pode, sozinho, combater os vírus. É importante beber pelo menos dois litros de água por dia, para tirar a secreção, inalar vapor e lavar o nariz com soro. O paciente também pode tomar analgésico comum para evitar as sensações desagradáveis e, no caso da gripe, um antitérmico, além de repouso. Porém, se depois de cinco dias os sintomas persistirem, com febre acima de 37,8;, é possível que o resfriado ou a gripe tenham evoluído para alguma infecção.

;Com o acúmulo de secreção, uma bactéria pode aparecer e se instalar, provocando, por exemplo, a sinusite bacteriana;, diz Ademir Lopes. De acordo com a avaliação médica, pode ser necessário tomar antibióticos ; que nunca devem ser administrados sem orientação do especialista. ;O antibiótico não é uma medicação para tomar sem recomendação médica;, lembra o membro da SMFC.

Para evitar doenças infecciosas no frio, os médicos recomendam a vacinação contra a influenza comum e a H1N1 antes da chegada do inverno. A época certa de se vacinar é entre abril e maio, meses nos quais, no Brasil, os idosos recebem a dose nos postos de saúde.

Neste ano, a vacina distribuída pelos laboratórios produtores foi a trivalente, que combate também a influenza A. Por causa da pandemia de 2009, a corrida mundial foi grande e, com a procura maior que a oferta, as clínicas particulares acabaram desabastecidas. ;Muita gente está procurando, mas não há mais doses;, afirma a responsável técnica pela clínica de vacinas do Laboratório Sabin, Ana Rosa dos Santos.

Imunização segura

O aposentado Edmundo Marinez Lopes, 72 anos, não perdeu tempo e aderiu à campanha do Ministério da Saúde assim que a vacina da gripe comum começou a ser oferecida, no mês passado. ;Todos os anos, eu tomo a vacina. Já tive pneumonia que foi consequência de uma gripe mal curada, então não posso me descuidar. Desde que comecei a me vacinar, nunca mais tive nem resfriado;, afirma. Segundo Ana Rosa dos Santos, a vacina da gripe é feita com vírus mortos, o que impede que a pessoa adoeça em decorrência da imunização.

Além dos vírus da gripe, a especialista lembra que há outros que podem atacar no inverno, também devido às aglomerações que favorecem o contágio. Varicela, coqueluche, sarampo, meningite, caxumba e rubéola são doenças típicas do frio e, portanto, crianças e adultos com a carteira de vacinação vencida devem ficar atentos e se imunizar, antes que os vírus comecem a circular.

Para asmáticos e alérgicos, o inverno pode agravar os sintomas e desencadear crises. Uma das explicações, de acordo com o médico de família Ademir Lopes, é que a mudança brusca de temperatura fecha os cílios do sistema respiratório. Essas estruturas ficam na superfície das células e se movimentam, de forma que conseguem expulsar os corpos estranhos detectados. Mas quando há oscilação nos termômetros, os cílios ficam paralisados, facilitando a circulação de um agente infecioso.

A alergista Yara Mello, do Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos, de São Paulo, lembra que, no inverno, o ar fica mais seco, e as partículas responsáveis por alergias respiratórias, como a poeira, ficam em suspensão. ;Inaladas, estimulam as crises;, diz. ;Nessa época do ano, os alérgicos devem beber bastante água, evitar ambientes fechados e aglomerações, onde há facilidade de se adquirir uma virose;, ensina. Além disso, não devem, de acordo com a médica, se esquecer dos cuidados básicos que precisam ser observados durante todo o ano, como a higienização do ambiente para evitar a disseminação das substâncias alergênicas.