Os restos mortais do pintor italiano Caravaggio (1571-1610), que sofria de sífilis e intoxicação por chumbo (saturnismo), foram encontrados e identificados através de análises de carbono 14 e DNA, anunciou nesta quarta-feira o Comitê Caravaggio, composto de cientistas e universitários italianos.
Depois de mais de um ano de pesquisas no ossário de uma igreja de Porto Ercole na Toscana, "a equipe de cientistas pode afirmar que os restos mortais encontrados pertencem a Michelangelo Merisi (verdadeiro nome do pintor) com uma probabilidade de 85%", informou o Comitê em um comunicado.
Caravaggio morreu aparentemente de malária na região de Maremma, no sul da Toscana, na época zona pantanosa, e foi enterrado em um pequeno cemitério de Porto Ercole, de onde o corpo foi retirado em 1956 para ser sepultado sem honrarias na cripta da igreja.
A fim de esclarecer o mistério da morte do pintor, há 400 anos, quatro universidade italianas se associaram ao projeto confiado a especialistas em microbiologia, historiadores de arte e antropólogos, para oferecer um "enterro adequado" a Michelangelo Merisi, cuja genialidade e realismo revolucionaram a história da arte.
A pesquisa foi coordenada pelo professor de antropologia óssea, Giorgio Grupponi, da Universidade de Bolonha, que trabalha em particular com a reconstrução do rosto do escritor Dante Alighieri.
Em dezembro, os cientistas haviam aberto o ossário e retirado grandes quantidades de restos mortais para transportar até Ravena, onde fica localizado o departamento de antropologia da Universidade de Bolonha.
Os pesquisadores tiveram de examinar os restos de cerca de 200 pessoas, e, finalmente, atribuíram os ossos registrados com o número cinco ao pintor, porque eles aparentavam pertencer a um homem com entre 38-40 anos (Caravaggio morreu aos 39 anos) e morto num período englobando o ano de sua morte (1610).
Além disso, outro indício comprovou a tese: Caravaggio sofria aparentemente de saturnismo, intoxicação por chumbo, e a ossada apresentava uma taxa elevada do componente.
"Durante as pesquisas, o comitê deduziu que o pintor sofria de intoxicação por chumbo e sífilis (...) Sobre as causas de sua morte (...) nós consideramos crível a hipótese de infecção generalizada.
Caravaggio, famoso pela luminosidade de suas telas, com seus claros-escuros, como "Baco", "A Ceia de Emaús" ou "O Sacrifício de Isaac", foi descrito no teatro, no cinema e na literatura como um dos pintores mais atormentados da história.
O pintor revolucionário havia sido prestigiado durante uma grande exposição em Roma, que terminou na semana passada depois de ter atraído um recorde de 580 mil visitantes.