Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Saiba quais são os casos mais indicados para tratar lesões com a crioterapia ou a termoterapia

Técnicas usam gelo ou procedimentos à base de altas temperaturas. Especialistas orientam pacientes sobre riscos

Fim de semana com sol e céu aberto. O cenário, inspirador para atletas de fim de semana, é tentador para atividades esportivas, como uma corrida no parque ou uma partida de futebol. Aparentemente nada mal, a não ser pela falta de hábito de muitas pessoas. Como consequência, o dia, que tinha tudo para acabar bem, pode dar lugar ao incômodo das distensões ou edemas. E é nessas horas que muitos se confundem quanto ao melhor tratamento: o uso de gelo ou de água quente?

De acordo com a fisioterapeuta Giselli Cruz, é comum as pessoas se confundirem quanto ao tratamento mais indicado quando ocorre uma lesão. ;Os pacientes costumam agir por indução, e, muitas vezes, podem comprometer a reabilitação. Já vi pessoas que trataram um problema muscular com gelo no lugar de água quente e, em vez de provocar um relaxamento na região, acabou causando uma tensão;, lembra.

Ela explica que, apesar da recomendação médica variar de acordo com o grau da contusão, determinados casos podem ser orientados baseados em crioterapia, que é a utilização do gelo para tratar patologias, ou termoterapia, que faz uso de calor ; e às vezes até dos dois. ;O uso de calor é sugerido para o relaxamento de retenção muscular. Por isso é indicado para pós-operatórios, pois ajuda a ganhar mobilidade;, diz.

Ao recorrer aos recursos da termoterapia, o paciente pode utilizar dois tipos de calor: o superficial ou o profundo. ;O calor superficial é obtido por meio de compressas, bolsas e imersões em água quente. Já o tratamento com calor profundo necessita de aparelhos específicos que emitem ondas (ondas curtas ou micro-ondas) que penetram na pele e atingem camadas mais internas, por isso exige o acompanhamento constante de um profissional habilitado;, explica, lembrando que quem utiliza placas metálicas ou tem parafusos pelo corpo não pode ser submetido a esse último método.

Também é importante alertar que em alguns casos não é recomendável recorrer a soluções baseadas em terapias com calor. Uma delas é a que o paciente está com a área afetada com sensibilidade diminuída ou sob efeito de anestesia. ;Muitas vezes, a pessoa pode não sentir o calor e acabar se queimando;, aponta a fisioterapeuta Silmara Carvalho, da Fisiotrauma.

Ela adverte que tanto os métodos de aplicação do calor como do gelo devem ser utilizados como parte de um tratamento e não como única forma de aliviar os sintomas. Por isso, são medidas importantes a orientação de um profissional qualificado e a consulta médica para que o diagnóstico seja estabelecido e o tratamento orientado.

Temperaturas muito altas também podem piorar a compressão da raiz nervosa de pessoas que sofrem com hérnias de discos, já que favorecem o aumento da circulação local. Para esses casos, é recomendável a utilização de calor superficial, como bolsas de água quente, que ajudam a aliviar as tensões musculares, melhorando a dor, sem alterar a condição patológica do paciente. O uso de compressas quentes, por exemplo, é indicado para pessoas que sofreram alguma contratura, com o intuito de relaxar a musculatura da região afetada.

A imersão em água quente, com temperatura entre 40;C e 45;C, é indicado para pessoas que sofreram lesões em regiões com articulação, como mão, pé, punho e tornozelo. ;Na fase aguda de uma lesão, o uso do gelo é mais indicado. Já na fase crônica, a água quente é sugerida;, aponta o ortopedista Ricardo Cury, calculando que a imersão deve ser feita por um período de até 20 minutos em intervalos de duas horas.

Muito antes de Cristo
Já o uso de terapias que usam baixas temperatura, ou crioterapia, é mais antigo e remonta ao período bem antes de Cristo. A aplicação de gelo é a primeira atitude que as pessoas tomam em caso de lesões e, segundo especialistas, é a melhor forma de diminuir o fluxo sanguíneo na área afetada. Isso porque, numa lesão muscular, os vasos que passam pela região afetada se rompem e há um extravasamento de sangue ; o que causa o hematoma, a dor e a perda da função do músculo.

;A aplicação de baixas temperaturas ajuda a diminuir a dor e a espasticidade muscular, facilitando assim a movimentação da articulação afetada. O frio diminui o calibre do vaso sanguíneo e ajuda a reduzir o inchaço;, explica Cury. ;De maneira geral, o gelo melhora a dor, diminui o edema e o hematoma e reduz o processo inflamatório;, completa o diretor do Instituto Cohen de Ortopedia, Reabilitação e Medicina do Esporte, Moisés Cohen.

Apesar de ter um bom histórico de prática de exercícios físicos, o servidor público Santiago Petrillo, de 39 anos, acabou contraindo uma inflamação na tendinite patelar no joelho esquerdo, tipo de lesão muito comum de quem pratica corrida. ;Depois de ficar seis meses parado, resolvi voltar a correr, então comecei a sentir a dor. Demorei umas duas semanas até procurar um especialista que me indicasse o melhor tratamento;, conta. Na fisioterapia, ele recorre ao uso de aparelhos como ultrassom e laser para diminuir a inflamação e exercícios específicos para reforçar a musculatura, além da aplicação de bolsa de gelo sempre no fim de cada sessão.

Contraste de temperaturas
O uso de terapias baseadas em aplicação de calor, com água quente, por exemplo, ou com gelo (ou vice-versa), é indicado para edemas crônicos e grandes inchações. Isso porque os vasos sanguíneos dilatam quando é aplicado calor e estreitam com a chegada do frio. Essa mudança nos vasos sanguíneos estimula a circulação. Com o aumento de volume de sangue, mais oxigênio e nutrientes são levados até a área afetada, acelerando a remoção de toxinas e acentuando o processo de cura.