Rio de Janeiro - A alimentação é uma das principais formas de contaminação por vírus, como o norovírus, que provoca gastroenterite com quadro de diarreia e vômitos. A constatação tem preocupado especialistas de todo o mundo, que defendem uma maior regulamentação e incentivos às pesquisas virológicas.
Jan Vinjé, pesquisador do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos, apontado com um dos maiores especialistas em norovírus do mundo, lembra que um surto em Londres ganhou grande repercussão. No restaurante mais famoso da cidade inglesa, o manuseio de alimentos sem cuidados de higiene provocou a infecção pelo vírus em mais de quinhentas pessoas em poucas semanas. Para Vinjé, a preocupação com esse tipo de infecção está justamente no fato de a comida ser hoje um produto %u201Cinternacional%u201D.
%u201CVocê pode contaminar muitas pessoas ao mesmo tempo. E você precisa da presença de muito pouco norovírus para provocar uma grande infecção. Enquanto precisa de uma presença muito grande da [bactéria] salmonela, por exemplo, para deixar uma pessoa doente.%u201D
O especialista explica que, atualmente, a única forma eficiente de prevenção é a higiene. Ele recomenda, além dos hábitos de higiene pessoal de quem manipula esses produtos, que os alimentos sejam muito bem lavados, se possível com ajuda de outros elementos além da água, como o vinagre. Verduras, legumes, frutas e moluscos, como ostras, por ser consumidos crus ou apenas levemente cozidos, estão entre os mais preocupantes.
O estado de Santa Catarina é o maior produtor de ostras do Brasil, respondendo por 90% da produção nacional. Pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) estão desenvolvendo estudos sobre a presença de adenovírus (que pode causar conjuntivites, gastroenterites e infecções urinárias) e vírus da hepatite A nestes moluscos, que representam o principal atrativo gastronômico do estado.
A pesquisadora Célia Regina Monte Barardi diz que não existem números que ilustrem a infecção por vírus em ostras de Santa Catarina por falta de uma legislação que permita dimensionar o problema e pelo fato de o alimento ser muito consumido por turistas que retornam para as cidades de origem, o que impossibilita o registro de eventuais surtos. Célia Regina garante, entretanto, que as pesquisas feitas por iniciativa da universidade confirmam que o estado produz ostras em águas com boas condições.
Os cientistas da UFSC ainda não conseguiram apresentar uma solução para os produtores, mas estão disseminando uma técnica de desinfecção que usa radiação de luz ultravioleta em pequenos tanques e que pode ser usada pelos distribuidores de ostras e donos de restaurantes.
%u201CEm 96 horas, os moluscos estão desinfectados [tanto em relação a presença de vírus quanto de bactérias, como a salmonela]. Não tem como estimar custos mas quem vai vender uma ostra depurada, vai vender por um preço mais alto porque está vendendo um produto de mais qualidade. Acredito que o retorno financeiro é mais garantido%u201D, observou Célia Regina.