Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Tecnologia desenvolvida na UFMG poderá facilitar diagnósticos de doenças cardiovasculares

Belo Horizonte ; A partir do próximo semestre, uma nova tecnologia para produção de anticorpos sintéticos, desenvolvida pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), vai poder aumentar a precisão quanto a diagnósticos precoces de doenças cardiovasculares e tipos raros de câncer. A plataforma também pode agilizar a identificação de doenças negligenciadas como dengue, malária, mal de Chagas, leishmaniose, febre amarela e lepra, a partir da produção de testes rápidos, como os que são usados hoje para identificar a gravidez.

Os novos anticorpos sintéticos foram batizados de anfitechs. ;São, na verdade, fragmentos de RNA e DNA (conhecidos como oligonucleotídeos) que funcionam da mesma maneira que os anticorpos nos exames;, explica o professor Luiz Augusto Pinto, diretor da Bioaptus, empresa incubada na UFMG, responsável pela plataforma. Hoje, são importados 99% dos anticorpos usados no Brasil, em exames como os de sangue, de acordo com a Bioaptus. Além de produzir kits, a tecnologia permite atender demandas específicas de empresas nacionais de medicina laboratorial, diagnóstico in vitro e biociências.

A previsão é de que, em agosto, os primeiros kits diagnósticos para exames cardiovasculares, criados a partir da novidade, cheguem ao mercado. Com o novo método, eles podem custar até 10 vezes menos, em comparação com aqueles produzidos de maneira tradicional ; que utiliza células ou animais para chegar às proteínas que ajudam a identificar as doenças nos exames.

;Em vez do procedimento usual, partimos de uma sopa com 1x1020 anticorpos sintéticos, que servem de matriz para a replicação em escala industrial daquele anticorpo específico de cada caso;, explica o especialista. A maneira como os pesquisadores produziram a tal sopa é o segredo industrial da produção, já patenteado.

Nesse tubo de ensaio, é feito o procedimento de purificação da mólecula. ;É por isso que chamamos a tecnologia de plataforma, porque a mesma estratégia pode ser usada para a criação de diferentes tipos de anfitechs;, diz o pesquisador. Diferentemente dos anticorpos naturais, os anfitechs não têm reação cruzada, sem diferença entre lotes, o que evita processos por diagnósticos equivocados. O professor aponta outras vantagens: ;Os anticorpos sintéticos são estáveis à temperatura ambiente ; o que minimiza custos de refrigeração e logística de transporte. Como não utilizamos células ou animais na produção, também reduzimos custos de manutenção;.

Além do uso para diagnósticos, vacinas e soros também encontram aplicação nos anfitechs. O soro antiofídico, por exemplo, dispensaria a necessidade de aplicação exclusiva em hospitais. Hoje, essa é uma cautela necessária, já que os anticorpos produzidos por cavalos podem gerar reações adversas no organismo humano, facilmente tratáveis em ambiente hospitalar. Como o anfitech é direcionado, a partir da sintetização em laboratório, esse risco, de acordo com o professor, é zerado. ;A reação alérgica à vacina do H1N1, por exemplo, apresentada por aqueles com intolerância a ovo, seria inexistente se a vacina fosse produzida com um anticorpo sintético;, emenda.