Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Uma das principais causas de consultas médicas no país, a doença, geralmente provocada por bactéria, atinge principalmente as mulheres

Urologista é o especialista indicado para tratamento

Urgência e dificuldade para urinar, dor, queimação ou ardência durante a micção, e, nos casos mais graves, tremor, suor, calafrios e febre. Se você reconhece esses sintomas, provavelmente já sofreu uma infecção no trato urinário (IU ou ITU), uma das principais causas de consultas médicas no Brasil, principalmente entre as mulheres. Nem todos sabem, no entanto, que o especialista indicado para tratar esse tipo de infecção é o urologista, médico que muitos imaginam cuidar somente do aparelho reprodutor masculino. A confusão tem sido um dos fatores que contribuem para que a doença não seja tratada de forma eficaz. Nas mulheres, a infecção urinária baixa ou de repetição é a mais comum. Ela afeta a bexiga e tem como característica a vontade de ir ao banheiro de 10 em 10 minutos. Apesar disso, o xixi é escasso e provoca ardência ou queimação. O urologista Ricardo de Souza Monteiro explica que, diante dos sintomas, as pacientes geralmente procuram o pronto-socorro, são medicadas para o alívio da infecção, mas o tratamento curativo é negligenciado. As cistites geralmente são provocadas pela bactéria Escherichia coli, presente na flora intestinal e responsável por cerca de 80% das ITU. ;A infecção urinária na mulher é mais comum devido à anatomia feminina. A vagina e a região anal estão muito próximas. A uretra delas é menor, tem cerca de 3cm ou 4cm. Já a do homem tem mais de 30cm, e a maior distância entre o ânus e bexiga determina um fator de proteção;, afirma o médico. Fatores Importante para a digestão, a Escherichia coli deve estar presente no organismo. Só que a infecção urinária é uma doença oportunista, que ocorre quando o sistema imunológico está afetado. Uma gripe, o estresse do dia a dia, alimentação deficiente, sedentarismo e até noites mal dormidas podem deixar a pessoa com a imunidade baixa. A bactéria, então, se aproveita e provoca a cistite. A obesidade é outro fator de risco. Isso porque os obesos estão mais propensos ao diabetes, doença que pode aumentar o açúcar na urina, alimento apreciado pela Escherichia coli. As mulheres com atividade sexual frequente também estão mais expostas à infecção urinária. O uso de espermicidas, diafragma, chuveirinho e absorventes internos facilita a contaminação. Durante a penetração, as bactérias que estavam na vagina e no ânus são empurradas para a bexiga. ;Por isso, é extremamente importante que a mulher crie o hábito de urinar após a relação sexual. A hidratação também é fundamental. Quem trabalha fora tem o péssimo hábito de beber pouco líquido. O tempo em que a urina é produzida e armazenada na bexiga aumenta, assim como a proliferação dos micro-organismos que causam a infecção;, esclarece o urologista. O médico observa que a gravidez também favorece a cistite porque as gestantes ficam naturalmente menos imunes. Além disso, ocorre uma compressão da bexiga pelo útero, fazendo com que o esvaziamento sofra mudanças, o que facilita a infecção. ;Já no climatério, a questão é hormonal. A diminuição do hormônio feminino favorece a flacidez muscular do assoalho pélvico e a incontinência urinária. A paciente perde urina sem sentir. Para evitar constrangimentos, as mulheres voltam a usar absorventes e fraldas. O xixi acumulado nessa suposta proteção acaba sendo fonte de contaminação;, assinala Ricardo. A dona de casa Vera Maria de Freitas Machado, 52 anos, sofreu cistite de repetição por cinco anos. A infecção foi provocada pela incontinência urinária que começou em 2005 e não teve solução até a cirurgia a que se submeteu na semana passada. ;Passei por momentos difíceis devido ao constrangimento de não conseguir controlar o xixi. Isso sem falar nos sintomas desagradáveis provocados pela cistite. Ir ao banheiro era uma tortura, ardia e queimava muito. Tomei diversos remédios, mas como a incontinência não era resolvida, a infecção voltava;, relata. As bactérias ou micro-organismos que entram pela uretra e se instalam na bexiga também podem atingir e afetar o rim. A IU que acomete esse órgão é identificada pelos especialistas como pielonefrite e vem acompanhada de febre, calafrios e até sangue na urina. É comum também que o paciente sinta grande sensibilidade na região lombar ou abdominal e que a urina fique mal cheirosa ou turva. Exames De acordo com o urologista Guilherme Coaracy, a pielonefrite pode ocasionar a perda da função renal. ;A febre é um sinal de alerta de infecção no rim. Nesse caso, além do exame de urina, solicitamos o de sangue e, quando necessário, uma tomografia. É um quadro mais preocupante. Mas, se diagnosticado precisamente e a tempo, pode ser remediado com antibióticos também;, aponta. A economista Ana Maria Correia Corassa, 41 anos, recebeu o diagnóstico da cistite durante consulta com um ginecologista. O tratamento indicado aliviava as dores e alguns sintomas, mas não curava a infecção na bexiga. O quadro se agravou e evoluiu para a pielonefrite, levando Ana a uma internação de sete dias. ;Quando procurei um urologista, soube que os antibióticos e anti-inflamatórios que eu tomei por tanto tempo não eram os indicados para o meu tipo de infecção. Por isso, não conseguia me livrar do problema. Levei dois meses para ficar bem;, conta, aliviada. A orientação do especialista foi importante também para prevenir novas infecções. ;Hoje, tomo muita água, dou preferência aos vestidos e saias, e aprendi a ficar atenta aos sinais emitidos pelo meu corpo;, acrescenta. Os especialistas alertam que a coleta da urina é necessária para apontar a infecção e para arealização da urocultura ; cultura de microorganismos do xixi. O resultado do teste normalmente sai em quatro dias. Esse exame identifica a bactéria e determina o antibiótico adequado para o tratamento, orientando o médico na escolha da droga mais efetiva. ;Quando o diagnóstico é feito sem o auxílio da urocultura, alguns sintomas são tratados, mas a causa da infecção não. É o que chamamos de subtratamento porque um mês depois o paciente volta a sentir a mesma coisa;, enfatiza Guilherme. Ouça trecho da entrevista com o urologista Ricardo de Souza Monteiro