Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

A Nasa e a Agência Espacial Europeia planejam missão para explorar luas de Júpiter

Lançamento de duas sondas está marcado para 2020, com a chegada ao sistema prevista para cinco anos depois

Nos últimos anos, foram descobertos gelo em Marte e água na Lua. Agora, toda a atenção dos cientistas está voltada para a mesma imagem que impressionou Galileu Galilei em janeiro de 1610. Nas luas de Júpiter, descobertas pela luneta do astrônomo italiano há quatro séculos, pode estar a resposta para a pergunta que assombra há tempos a humanidade: existe vida fora da Terra? Um passo importante para responder a questão será dado pela Europa Jupiter System Misson, missão conjunta da Agência Espacial Americana (Nasa) com a Agência Espacial Europeia (ESA), com lançamento programado para 2020.

A prioridade é a exploração de Europa, um dos 16 satélites do maior planeta do Sistema Solar. A preferência tem razão de ser. Para começar, há indícios de que um grande oceano exista na lua dourada. E o fato de que, nas últimas duas décadas, a ciência descobriu que a vida na Terra pode existir em ambientes considerados extremos ; sem oxigênio, sem luz solar e em alta pressão ; também despertou a curiosidade dos cientistas. ;É natural nos perguntarmos se há vida em Europa ou em outras luas geladas do nosso Sistema Solar, ou mesmo em outro lugar do Universo. Porque ela pode ter os ingredientes, como a água e alguns tipos de elementos químicos, que seriam fundamentais para existir vida. Nós queremos mandar uma missão lá para confirmar se realmente esse oceano existe, mas também para trabalhar essas questões;, disse ao Correio Robert T. Pappalardo, cientista e projetista da Europa Jupiter System Misson.

Além de Europa, a missão vai explorar os outros satélites descobertos por Galileu ; Ganímedes, Io e Calisto (veja quadro) ; e o sistema de Júpiter como um todo. ;Esse projeto pode responder às expectativas dos cientistas e deve resultar em muitas descobertas. Vamos conseguir caracterizar as propriedades físicas das luas, como os oceanos de Europa e o campo magnético de Ganímedes;, avalia Pedro Russo, astrônomo português do Departamento Educacional do European Southern Observatory.

O primeiro passo para descobrir se há vida na principal lua de Júpiter é entender as condições em que ela se encontra e, segundo Pappalardo, isso pode ser feito pela órbita. ;O objetivo é entender como Europa funciona, onde está a água e como ela se relaciona com a superfície. Queremos entender a química da atmosfera, pois ela pode nos revelar mais sobre o oceano;, afirma. A sonda Jupiter Europa Orbiter (JEO), desenvolvida pela Nasa, vai ser capaz de medir o quanto a órbita local é flexível. ;Se existir mesmo um oceano, ele poderá se estender por até 30m. Caso contrário, a extensão não vai ter mais do que 1m. Apenas com essa medição vamos saber se existe água abaixo da superfície. E isso já é um grande passo;, comenta o cientista americano.

Outra técnica a ser usada pela JEO é acionada por um radar que consegue enviar ondas capazes de atravessar o gelo e chegar à água abaixo da superfície, voltando como eco à espaçonave. ;Assim poderemos ver onde esse oceano está;, explica o cientista, que trabalha no projeto desde 1999. A sonda também vai detectar se existe alguma atividade no fundo do oceano. ;Se existir calor ou, de repente, vulcões, isso deve produzir elementos químicos interessantes;, prevê Pappalardo.

A sonda JEO deve entrar na órbita de Júpiter em 2025 e alcançar Europa três anos depois, mas cientistas do mundo inteiro começam a especular o que pode ser encontrado lá e qual será o próximo passo das agências espaciais. ;Se for encontrada água, é inevitável programar uma outra missão que possa chegar até a superfície. Buscar por vida é um passo para o futuro. Isso significa que temos de procurar amostras do solo. O que sabemos é que a Rússia, baseada nos nossos estudos, está planejando ir até Europa depois de 2020;, revela o americano.

Busca incansável
Segundo os especialistas, a confirmação de vida extraterrestre pode ajudar a entender o passado e, quem sabe, o futuro do nosso próprio planeta. ;A origem da vida na Terra ainda é alvo de grande debate na comunidade científica. Não existe um modelo único para o tema. Do ponto de vista biológico, a descoberta de vida em outro planeta vai nos dar importantes pistas ou mesmo responder as dúvidas que temos no nosso modelo de origem;, afirma Pedro Russo.

Para Pappalardo, as circunstâncias verificadas em uma descoberta também podem ser esclarecedoras. ;Se encontrássemos vida, poderíamos dizer que ela é provavelmente comum no Universo. Podemos não encontrar nada. Também podemos encontrar nessa lua de Júpiter um ambiente apropriado para abrigar vida, mas não localizar nenhum sinal biológico por lá;, aponta o cientista. Os questionamentos devem surgir independentemente do resultado. ;Assim como ocorreu com Galileu há 400 anos, quando ele encontrou essas luas, podemos perceber que não estamos sozinhos no Universo e passar a entender que a Terra não é o centro do universo. Só temos um exemplo de vida e, se descobrimos outro, o campo da biologia e da química vai ser revolucionado;, conclui.