Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Irritações na pele requerem atenção

Podem ser micoses, causadas por fungos que se proliferam no calor e na alta umidade do ar



As férias de verão chegam ao fim e a volta à rotina de quem aproveitou a estação mais quente do ano no litoral ou nas piscinas da cidade pode vir acompanhada das indesejáveis micoses. Essas doenças de pele, causadas por fungos que proliferam facilmente com o calor e a alta umidade, não são malignas, mas podem apresentar sintomas incômodos e problemas estéticos, como manchas, irritações e descamações, que atingem do couro cabeludo aos dedos do pé.

Os fungos estão presentes naturalmente no meio ambiente, no ser humano e nos animais. A virilha, as axilas e as dobrinhas dos dedos são as partes do corpo preferidas desses micro-organismos, que provocam bolhas, coceira intensa e mudança na coloração da pele. A dermatologista Grace Caldas explica que a areia da praia e as piscinas são locais de grande incidência de fungos. Mas algumas micoses podem surgir sem que a pessoa tenha passado por áreas consideradas mais arriscadas. No verão, a micose na virilha é recorrente. A umidade contínua, o calor e o uso de roupas abafadas, como calças jeans, são suficientes para desencadeá-la. ;Surge, então, a manifestação: uma vermelhidão, que pode vir seguida de coceira ou não. Muitos pacientes confundem essa micose com assadura ou alergia;, esclarece.

O fotógrafo Wallace Torres*, 40 anos, conta que notou uma mancha vermelha na virilha. ;Não coçava. Por isso, o desconforto era somente estético. Não imaginei que pudesse ser um fungo o causador do problema porque não tinha estado em praias ou piscinas. Usei sabonete neutro achando que remediaria o mal. Mas, para a minha surpresa, a mancha aumentou cerca de um palmo para cada lado da virilha;, conta. O diagnóstico de micose foi feito por uma dermatologista, e Wallace se tratou durante um mês com medicação oral e tópica. ;Fui orientado a prosseguir com o tratamento até o fim para que os fungos fossem totalmente exterminados. Deu certo. Da micose, ficou apenas a lembrança;, diz.

Contágio
Para o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica no Distrito Federal, Erasmo Tokarski, o maior erro das vítimas do problema é a automedicação. ;Assim como utilizar sabonetes e loções aparentemente inofensivos, usar medicamento indicado a amigos e parentes acometidos por doença similar pode agravar ainda mais a situação. As micoses são contagiosas. O paciente deve procurar um especialista o mais rápido possível;, alerta o dermatologista.

Segundo o médico, a micose de unha é a mais difícil de tratar. ;Ela também é adquirida em salões de beleza devido à falta de esterilização do material usado por manicures e pedicures. O tratamento é diário, feito com medicação tópica e oral e pode durar mais de oito meses. O paciente precisa ser persistente na terapia;, afirma. Para não correr riscos, a dona de casa Georgete Pantazis, 70 anos, não abre mão de fazer as unhas em um salão que conta com sistema de esterilização de alicates e espátulas. ;Nunca tive micose, mas conheço casos de pessoas que sofreram para se livrar da doença. Como faço as mãos duas vezes por semana, não dispenso esse cuidado. É a minha saúde que está em jogo;, diz.

A designer de unhas Marciany Érika Nascimento explica que, para garantir o bem-estar das clientes, o material deve ser lavado com água e sabão, lacrado e esterilizado. ;No salão em que trabalho, usamos a autoclave. A máquina trabalha a uma temperatura de 260;, funciona a vapor e fica travada por uma hora para a esterilização. Lixas, palitos e toalhinhas são descartáveis e não usamos mais bacias. As mãos são envolvidas em luvas e os pés em meias de plástico que já vêm com hidratante para amolecer a cutícula. Tudo descartado em seguida;, assegura.

Outros vilões
Mas as micoses não são as únicas vilãs da pele no verão. Uma doença comum, conhecida como bicho geográfico, também pode provocar grande desconforto por conta da coceira intensa e vermelhidão. A dermatose é causada por uma larva encontrada nas fezes de cães. ;Ela penetra, geralmente, no pé ou no bumbum do indivíduo, locais de maior contato com a areia e a terra. A partir daí, a larva vai caminhando pelo corpo e formando algo parecido com um mapa, por isso é conhecida também como bicho geográfico;, detalha a dermatologista Grace Caldas. O tratamento envolve medicação oral e pomada específica, mas dependendo do tamanho da área acometida, também são indicados anti-histamínico e anti-inflamatório.

A miliária, conhecida popularmente como brotoeja, e a urticária solar também atormentam crianças e pessoas com pele sensível em tempos de muito calor e umidade. ;O aumento do suor e o uso inadequado de cremes e loções em peles frágeis provocam brotoejas rosadas cheias de líquido que surgem nas dobrinhas do pescoço, braços e pernas. Já a urticária surge depois de dois ou três dias de exposição solar, coça muito e forma grandes placas em todo o corpo;, ilustra a especialista.

Se o calor é intenso, sucos, picolés e a brasileiríssima caipirinha são sempre bem vindos. No entanto, todo cuidado é pouco com as frutas cítricas, como a laranja, o abacaxi e o próprio limão. Um descuido pode causar queimaduras graves e manchas escuras na pele caso, depois de ter contato com essas frutas, a pessoa se exponha ao sol. ;Todo cuidado é pouco com os melasmas também. Eles são sinais decorrentes da exposição solar principalmente por gestantes ou mulheres que tomam anticoncepcional. A predisposição genética facilita o aparecimento dessas manchas, que são tratadas com fórmulas clareadoreas que devem ser indicadas apenas pelo dermatologista;, orienta Tokarski.

* Nome fictício a pedido do entrevistado