Estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca) revelam que, em 2010, pelo menos 52 mil brasileiros serão diagnosticados com câncer de próstata, o segundo mais comum entre o sexo masculino. A doença mata anualmente pelo menos11mil homens no Brasil. Ainda que considerado um mal da terceira idade, já que 75% dos casos ocorrem a partir dos 65 anos, o câncer de próstata tem chances consideráveis de cura se descoberto em estágio inicial. Avanços científicos e tecnológicos possibilitam terapias eficazes, como a braquiterapia ; que consiste no tratamento dos tumores com fontes de radiação implantadas diretamente nos locais onde eles se desenvolvem.
A técnica é disponibilizada em Brasília desde 2004, com um índice de controle da doença em 94% dos casos. Sementes de iodo125 são colocadas na próstata para eliminar as células tumorais. O urologista Eriston Uhmann explica que a braquiterapia é indicada para casos de câncer de próstata em estágio inicial, quando as células malignas estão confinadas à glândula, sem o comprometimento de outros órgãos. A aplicação das sementes, que são menores que um grão de arroz, é feita com agulhas colocadas no períneo. ;O material libera a radiação dentro da próstata. É um tratamento preciso, de resultados animadores, pois, diferentemente da radioterapia(1), compromete minimamente as estruturas e tecidos sadios próximos à área afetada, o que promove poucos efeitos colaterais e mais qualidade de vida;, detalha o médico, que é diretor do Hospital Urológico de Brasília.
A braquiterapia indicada para a remissão do câncer de próstata ainda não tem cobertura do Sistema Único de Saúde (SUS). O custo fica em torno de R$30mil. Os planos de saúde cobrem a terapia. Ao contrário da prostatectomia(2), a técnica preserva a próstata e oferece menor risco de complicações como disfunção erétil, incontinência urinária e esclerose de colo visical. O paciente fica internado por apenas um dia e retorna a suas atividades em menos de uma semana. O método é realizado em centro cirúrgico por um urologista, um médico radioterapeuta e um físico nuclear. Feito sob anestesia peridural, dura aproximadamente duas horas. ;Com o auxílio do equipamento de imagens, colocamos as fontes de radiação na glândula, na quantidade indicada em um planejamento prévio. No caso da próstata, o implante costuma ser permanente, mas o material radioativo tem meia vida de 60 dias, deixando de emitir radiação pouco tempo depois. A partir daí, o acompanhamento é ambulatorial, com consultas e exames periódicos;, pontua Uhmann.
Para o câncer metastático, a braquiterapia não é indicada. No entanto, como as particularidades de cada paciente fazem parte das nuances dessa doença, a avaliação individual é sempre muito importante para o sucesso do tratamento. ;O dever do médico é apresentar as opções disponíveis ao paciente, avaliar os prós e contras de cada técnica. Hoje, o grande desafio da medicina não é apenas curar, mas proporcionar qualidade de vida após a terapia. A principal vantagem da braquiterapia está relacionada ao menor grau de agressividade a que o paciente é exposto;, acrescenta o urologista. A prostectomia lesa outros órgãos e a reconstituição perfeita nem sempre é possível.
A indicação do tratamento mais adequado leva em conta a extensão do tumor, a diversificação das células malignas e a dosagem do antígeno prostático específico (PSA), exame de sangue que mede alteração de elementos da próstata. O radioterapeuta Carlos Manoel de Araújo, chefe do serviço de radioterapia do Inca e presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia, alerta que é preciso avaliar ainda a anatomia do paciente, pois ela varia de indivíduo para indivíduo e é um fator relevante para a escolha da técnica a ser adotada. ;Cada método de tratamento tem suas particularidades. No caso da braquiterapia, o benefício de ser realizada em um único dia é um apelo forte. Para se ter uma ideia, a teleterapia, radioterapia também usada em vítimas desse câncer, é realizada em 38 dias. O processo, claro, é muito mais desgastante;, enfatiza.
Mas os efeitos colaterais também podem ocorrer na braquiterapia. Reações e processos inflamatórios são os mais comuns e geralmente atingem a bexiga e o reto, provocando sangramento e desconforto para urinar e evacuar. ;Não ocorre sempre, mas é uma reação controlável com medicamentos até que o processo inflamatório seja revertido;, lembra o radiologista.
O médico do Inca recomenda os exames anuais que detectam o câncer de próstata em seu estágio inicial para os homens acima dos 45 anos. Ele observa que os tumores na próstata nem sempre são sintomáticos. ;Adotar um estilo de vida saudável é benéfico em todos os sentidos, mas não conhecemos uma forma 100% eficaz para evitar a doença. Por isso, a detecção precoce é fundamental. Para os que possuem histórico na família, o exame preventivo deve ser feito a partir dos 40 anos;, reforça. A detecção pode ser feita pelo exame clínico ; toque retal ; e pelo de sangue (PSA). Em caso de indicação do mal, avaliações mais apuradas, como a biópsia prostática transrretal, são recomendadas.
O aposentado Nelson Roberto Roballo, 62 anos, considera que o diagnóstico precoce do câncer de próstata foi fundamental para que vencesse a doença sem traumas. ;Desde os 45 anos faço o PSA anualmente e o toque retal de dois em dois anos. É claro que ainda há preconceitos de muitos homens em relação ao exame, mas, para preservar a saúde, precisamos superar tabus. Sempre fui uma pessoa saudável, não tinha histórico desse câncer na família e ainda assim fui vítima da doença. Pude optar pela braquiterapia e hoje levo uma vida perfeitamente normal;, relata. Nelson se diz aliviado por ter tido a chance de fazer esta opção. ;Foi ótimo poder sair do hospital no mesmo dia. Retomei minha rotina, inclusive a sexual, que não foi alterada, e não tive nenhum efeito colateral;, assegura.
Ao contrário de Nelson, o aposentado Ubiraelson de Sousa Lima, 70 anos, era conservador. Ele admite que, apesar das indicações médicas, não se submetia ao toque retal. Um problema na bexiga o obrigou a fazer um exame que deu ao médico a oportunidade para colher material da próstata. ;Foi a minha sorte, pois a biópsia detectou o câncer. Como estava no estágio inicial, o urologista apresentou a opção da braquiterapia. Me surpreendi com a rapidez e a eficácia do tratamento. Estou muito bem e sem sequelas. Hoje, batalho para que meus filhos não tenham o mesmo preconceito que eu tive. Não fosse a perícia do médico, hoje poderia não estar aqui para contar a história;, reconhece.
1 - Radioterapia
A radioterapia é um método capaz de destruir células tumorais com o emprego de feixes de radiação ionizante. Uma dose pré-calculada de radiação é aplicada, em um determinado tempo, a um volume de tecido que engloba o tumor, buscando erradicar todas as células tumorais, com o menor dano possível às células normais circunvizinhas. A resposta dos tecidos ao tratamento depende de diversos fatores, tais como a sensibilidade do tumor, sua localização e oxigenação, assim como a qualidade, quantidade e tempo total de radiação administrada.
2 - Prostatectomia
É a remoção cirúrgica de parte ou de toda a próstata. É realizada em casos de tumores e quando a próstata se torna grande a ponto de restringir o fluxo de urina através da uretra.
Os maiores receios dos pacientes com relação à prostatectomia são a impotência sexual e a incontinência urinária.
Ouça entrevista com o urologista Eriston Uhmann: