Assessora especial para assuntos de ciência e tecnologia da Agência para Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos (Usaid), a doutora Nina V. Fedoroff é tida como uma das maiores especialistas em genética e biologia molecular em seu país. Professora do Instituto Huck de Ciências da Vida, na Universidade do Estado da Pensilvânia, Nina é autora do livro Mendel in the kitchen: a scientist;s view of genetically modified foods, no qual analisa os fatores científicos e sociais referentes à introdução de organismos geneticamente modificados na sociedade. Durante esta semana, ela esteve no Brasil para assinar um acordo de oferecimento de bolsas de estudos para estudantes brasileiros em universidades norte-americanas. ;Acompanhei a mudança que vem ocorrendo no Brasil nos últimos 30 anos e vi incríveis avanços nos campos científicos e da agricultura;, relatou, com exclusividade, ao Correio.
A senhora acredita que os alimentos geneticamente modificados são uma evolução na produção de alimentos?
Uma maravilhosa evolução, porque, em termos ambientais, eles são considerados muito mais limpos, já que é preciso usar menos pesticidas durante o plantio, o que é muito importante para preservar o ambiente. Um fator pouco conhecido dessas plantas é que elas eliminam a necessidade de arar e sugar todas as substâncias da terra, permitindo o uso contínuo e prolongado do solo.
Qual a relação dos alimentos geneticamente modificados com as mudanças climáticas?
Se você comparar uma semente com um gene modificado e outra natural, verá que não há absolutamente nenhuma diferença. No entanto, por elas crescerem mais rapidamente e permitirem a colheita mais cedo, só saberemos dos verdadeiros impactos nas mudanças climáticas no futuro. No entanto, o que se sabe é que, se modificarmos geneticamente as plantas para que elas precisem de menos fertilizantes, elas podem ser extremamente úteis e importante para a natureza.
Por que há tanta oposição aos alimentos transgênicos?
A melhor resposta que eu posso dar é que existe um histórico de medo que gira em torno desse tema. E, quando há medo, é muito difícil espantar esse receio com fatos. Há 14 anos estamos recolhendo fatos e só temos tido surpresas positivas. Por exemplo, um grande problema enfrentado nas plantações de milhos são os fungos. A partir de genes modificados essas plantas podem ficar muito mais resistentes às ameaças que as rondam. Em nossa cultura, é muito difícil espantar esses rumores e ainda vai demorar um tempo até as pessoas se convencerem da real importância dessas plantas. Os fazendeiros já perceberam os benefícios e estão apoiando o movimento. Um exemplo é a Índia. Muita gente foi para as ruas protestar contra os alimentos geneticamente modificados, mas depois que os benefícios começaram a ser comprovados, em menos de cinco anos, a adoção, por parte dos produtores, pulou de praticamente nada para quase 100%.
Qual a contribuição que os alimentos transgênicos podem trazer para o Brasil num cenário mundial?
Vocês já adotam os alimentos geneticamente modificados e com isso poderão se tornar um grande exportador, talvez um dos maiores exportadores agrícolas do mundo.
Por que os acordos internacionais que tratam sobre a comercialização desse tipo de produto não conseguem avançar?
Na União Europeia, esse movimento se encontra um pouco parado porque países como Áustria, Alemanha e França são contra. Cada um tem suas razões e os acordos não avançam porque ainda não há um consenso no continente. O Japão é um caso especial, já que eles são ultrassensíveis quando se trata de assuntos relativos a alimentos, ainda mais depois da contaminação de leite que houve na China (em 2008, o leite em pó chinês deixou milhares de crianças japonesas doentes). Em todos os países onde os cientistas se reuniram para analisar as evidências, eles foram unânimes em dizer que não havia problemas com os transgênicos. No entanto, geralmente são os políticos que não mudam de ideia.
O Brasil tem avançado nesse cenário?
Acompanhei a mudança que vem ocorrendo no Brasil nos últimos 30 anos e vi incríveis avanços nos campos científico e agrícola. Tenho acompanhado o desenvolvimento e estou surpresa. Hoje, estamos anunciando um novo programa de colaboração com a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) para tratar de assuntos globais e oferecer bolsas para os estudantes nas universidade americanas, reforçando os laços entre os países do Sul e do Norte. Nosso país e todos os países reconhecem que temos problemas globais ; alimentos, água, energia, clima ; e trabalhar em parceria é absolutamente crucial.