Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Conheça os riscos dos antipsicóticos em jovens

Pesquisa revela que remédios para distúrbios mentais podem provocar alterações metabólicas severas, como ganho de peso e aumento do colesterol, em crianças e adolescentes

Importantes para tratar distúrbios mentais como esquizofrenia e transtorno bipolar, os antipsicóticos de segunda geração também podem causar doenças graves em crianças e adolescentes. Um estudo que será veiculado hoje pelo Journal of the American Medical Association constatou que, assim como ocorre com adultos, os pacientes jovens medicados com essas drogas ganham peso e massa gorda rapidamente, além de sofrer uma série de alterações metabólicas, como aumento do colesterol e diminuição da insulina.

A pesquisa, liderada pelo psiquiatra Christoph U. Correll, do Zucker Hillside Hospital, em Nova York, teve início em 2001 e acompanhou, até 2007, 505 pacientes entre 4 e 19 anos que tomavam antipsicóticos há menos de uma semana. Depois de três meses, a equipe de Correll analisou os efeitos que as drogas aripiprazol, olanzapina, quetiapina e risperidona provocaram no organismo das crianças e dos adolescentes, que sofriam de distúrbios como esquizofrenia, comportamentos agressivos e transtornos de humor.

;Decidimos investigar a ação dessas drogas em crianças e adolescentes porque, na época em que começamos o estudo, não havia pesquisas a respeito;, explica Correll. Ele lembra que a prescrição de antipsicóticos de segunda geração está aumentando entre os jovens norte-americanos vítimas de psicoses e outros distúrbios mentais. ;A preocupação é que os efeitos cardiometabólicos adversos também estão aumentando. Ganho inapropriado de peso, obesidade, hipertensão e anomalias na glicose e nos lipídios são particularmente problemáticas no período de crescimento, porque elas predeterminam a obesidade na idade adulta, além de síndrome metabólica e morbidades cardiovasculares, entre outros males;, alega o psiquiatra.

Para comparar os efeitos das substâncias, os pesquisadores também avaliaram as mudanças de peso e metabólicas entre crianças e adolescentes não medicados. Os resultados foram significativos. Depois de 12 semanas, os que tomaram olanzapina ; substância que mais provocou ganho de peso ; ficaram, em média, 8,54kg mais gordos. Já o ponteiro da balança do grupo sem medicamento subiu somente 19g. O antipsicótico que menos engordou os pacientes foi o aripiprazol, com ganho médio de 4,4kg no período.

Maiores efeitos
Em relação à massa gorda, novamente a olanzapina liderou o ranking, com 4,12kg a mais, sendo que, entre os não tratados, o aumento foi de 35g. A substância também foi a que provocou o maior aumento da circunferência abdominal, fator de predisposição para diversas doenças, como hipertensão: foram 8,55cm a mais verificados nos pacientes. ;A olanzapina teve os maiores efeitos sobre o peso e também piorou significativamente as taxas de glicose e de lipídios, exceto o colesterol HDL (o chamado bom colesterol);, observa Correll. Já o aripiprazol é apontado pelo pesquisador como a substância que menos trouxe danos ao metabolismo. ;As razões não estão claras, mas podem estar relacionadas ao fato do efeito menor que ela provocou no tamanho da circunferência abdominal, comparado às outras drogas;, diz o psiquiatra.

As conclusões do estudo preocuparam Christopher Varley, diretor clínico do Seattle Children;s Hospital, instituição que atende crianças com problemas mentais. ;Acredito que é essencial prestar muita atenção em relação aos efeitos adversos dessas medicações. Também acho que deveria haver razões mais claras e convincentes para prescrever esses remédios para crianças. Em geral, se há evidências de que eles podem trazer benefícios, não acho que o tratamento deve parar, embora talvez seja necessário indicar dietas e mesmo medicamentos para diminuir a tendência de ganho de peso;, argumenta. Para ele, existe um abuso na prescrição de antipsicóticos para crianças e defende o desenvolvimento de remédios específicos para essa faixa etária. O psiquiatra foi convidado pelo JAMA para escrever um editorial a respeito da pesquisa de Correll.

O principal autor do estudo diz que suas descobertas indicam que, em vista dos pobres programas de atividades físicas voltados a portadores de psicoses e do monitoramento metabólico insuficiente, os médicos devem analisar se os benefícios dos medicamentos são maiores que os riscos à saúde dos pacientes. Já o médico Lúcio Simões de Lima, coordenador de psiquiatria da infância e adolescência da Associação Brasileira de Psiquiatria, diz que, para severidades mentais graves, o benefício dos remédios é maior que os custos. ;A olanzapina é, disparadamente, o remédio que mais engorda. Traz aumento de peso, de cintura, mas é o único remédio que tira a pessoa de um surto psicótico;, diz.

Lima explica que os remédios da velha geração tinham efeitos muito mais danosos, como a cinesia tardia (transtorno de movimento irreversível) e a impregnação, quando os músculos se contorcem involuntariamente, a ponto de ser necessário tomar remédios prescritos para quem tem mal de Parkinson. ;Remédio sempre tem efeito colateral. Uma aspirina pode gerar uma hemorragia, por exemplo. Crianças bipolares não conseguem ficar no colégio. Vai deixar essa criança sem medicação?;, questiona. Ele diz que o importante é orientar os pais para incentivarem os filhos a praticar exercícios físicos, que ajudam a reverter os efeitos do aumento de peso e gordura localizada. ;Além disso, a criança precisa fazer psicoterapia também, isso é fundamental. À medida que vai melhorando, o remédio começa a ser retirado.;

Drogas modernas
Também chamados de atípicos, os antipsicóticos de segunda geração começaram a ser comercializados na década de 1990. Além de tratar doenças para as quais os medicamentos anteriores apresentavam poucos efeitos, como a esquizofrenia, eles possuem efeitos colaterais menos danosos à saúde. O primeiro antipsicótico atípico foi a clozapina, descoberta em 1970, mas aprovada nos Estados Unidos apenas em 1990, e, no Brasil, dois anos depois.

; Teste para a ;pílula da felicidade;

Para muitos pacientes diagnosticados com depressão, a fluoxetina é considerada a ;pílula da felicidade;. Porém, em alguns casos, algumas pessoas apresentam pouca melhora ou até mesmo ficam mais graves, sofrendo alucinações e ataques de fúria. Muito se tem pesquisado para saber o porquê desses efeitos paradoxais. Na opinião de pesquisadores da Tel Aviv University, em Israel, a resposta pode estar nos genes dos pacientes. Se o estudo que estão desenvolvendo for bem-sucedido, os cientistas acreditam que poderão criar um teste genético simples para auxiliar os psiquiatras em suas prescrições.

A procura pelo ;gene do Prozac (nome comercial da fluoxetina); é o fundamento da pesquisa liderada pelo médico David Gurwitz, da Sackler School of Medicine, em parceria com uma aluna, Aylet Morag. ;No mercado, há muitas drogas para tratamento da depressão. Os mais populares, incluindo o Prozac, são inibidores da recaptação da serotonina. Eles funcionam, porém, apenas para cerca de 60% dos pacientes depressivos. Os demais precisam receber drogas de outras famílias de antidepressivos. Nós estamos trabalhando para ajudar os médicos a escolher qual a melhor opção para cada paciente;, diz Gurwitz.

O médico diz que a chave está nos genes, e o primeiro passo para solucionar o quebra-cabeça está em descobrir os biomarcadores ; elementos biológicos presentes no sangue ou no DNA que dão pistas sobre as doenças, como a presença da glicose, que indica diabetes ; revelantes para o tratamento da depressão. Gurwitz explica que essa técnica já vem sendo usada em pacientes com câncer, principalmente de mama. A partir dos testes gênicos, os médicos prescrevem os medicamentos que trarão melhores benefícios. ;Por que não usarmos o mesmo princípio para tratar a depressão?; (PO)