Duzentos e cinquenta milhões de anos atrás, quando os dinossauros sequer existiam, a Terra passou por uma catástrofe que provocou a morte de quase todos os animais que habitavam o planeta ; até então, uma enorme massa denominada Pangeia(1). No fim do chamado Período Pérmico, toneladas de lava provenientes da atual região da Sibéria cobriram o solo e sufocaram a atmosfera com a liberação de gases tóxicos. Até hoje, os cientistas pensavam que as árvores teriam sobrevivido ao desastre. Porém, uma pesquisa realizada pelo geólogo Mark Septhon, do Imperial College London, na Inglaterra, acaba de revelar que nenhuma floresta ficou de pé.
O estudo, que contou com a participação de cientistas dos Estados Unidos e dos Países Baixos, chegou a essa conclusão depois de constatar que houve, após a catástrofe, um grande salto na quantidade de um fungo já extinto chamado Reduviasporonites, que se espalhou por toda Pangeia. Isso só seria possível se as árvores tivessem morrido, já que a proliferação do micro-organismo está associada ao aumento da existência de madeira podre. De acordo com Septhon, o achado muda a forma como a ciência entende o período da Pangeia.
;A presença em massa desses fungos indica que o ecossistema sofreu um colapso maior do que imaginávamos;, diz. Os fósseis do Reduviasporonites foram encontrados em formações geológicas. ;É irônico que a pior condição imaginável possível para espécies de plantas e animais promoveram a melhor condição possível para a proliferação dos fungos;, observa.
O pesquisador conta que, sem as árvores, a vegetação resumiu-se a pequenos herbáceos, que apareceram cerca de 5 milhões de anos antes de as florestas voltarem a se impor na Terra. Ele diz que a maior contribuição do estudo à ciência é oferecer uma compreensão mais específica de dramáticos episódios que resultaram em extinções de espécies. ;Além disso, nossas investigações químicas revelam como as condições ambientais mudaram e vão atrás das possíveis causas;, explica.
Chuva ácida
De acordo com a pesquisa, a lava basática que cobriu a Terra durante a catástrofe contaminou o ar com gases tóxicos. Esses gases tiveram um efeito duplo: produziram chuva ácida e danificaram a camada de ozônio, que protege o planeta contra os raios solares. Septhon acredita que foi aí que ocorreu a extinção das florestas, graças aos efeitos tóxicos na atmosfera. Consequentemente, nesse momento, os fungos encontraram um ambiente propício para se alastrar.
O cientista explica que os males causados à camada de ozônio na época já não são mais sentidos. ;Mas a humanidade produz gases que têm efeitos similares nos dias atuais. Ainda bem que a ameaça vem diminuindo à medida que protocolos internacionais procuram limitar a produção das substâncias químicas que destroem a camada de ozônio;, observa.
O professor do Imperial College London conta que o próximo passo é examinar e comparar os aspectos morfológicos e químicos dos fungos fossilizados e dos organismos que vivem hoje no planeta. ;Assim, vamos entender melhor como era o estilo de vida desses fungos no final do período Pérmico;, explica.
1 - Massa continental
Há milhões de anos, o mundo não era dividido por continentes. Todos os atuais países e ilhas formavam um só bloco territorial. Um único oceano, chamado Pantalassa, banhava o planeta. Lentamente, com a atividade das placas tectônicas, a Pangeia fragmentou-se em dois continentes, chamados Laurásia e Godwana que, mais tarde, transformariam-se na geografia atual da Terra. A teoria foi proposta no início do século 20 pelo meteorologista Alfred Wegener, a partir da constatação que a costa da América e da África encaixavam-se perfeitamente. Em 1960, após novas pesquisas, a hipótese foi confirmada.