Pesquisadores americanos decifraram a estrutura tridimensional do genoma humano, o que abre caminho para novas descobertas nas funções e estruturas genômicas, segundo trabalho publicado nesta quinta-feira pela revista Science. ;Ao decompor o genoma em milhões de peças, criamos um mapa em três dimensões que revela em detalhe as relações entre todas essas peças;, explicou Nynke van Berkum, da Faculdade de Medicina da Universidade de Massachusetts e um dos autores do estudo. ;Fizemos um quebra-cabeças tridimensional fantástico e, em seguida, o resolvemos com a ajuda de um computador;, acrescentou.
Para isso, foi utilizada uma nova tecnologia batizada de Hi-C, que ajudou na obtenção de respostas que os cientistas não tinham até então e que estão relacionadas com a explicação de como cada uma das células do corpo pode conter cerca de 3 bilhões de pares de base de DNA funcionando perfeitamente. Há algum tempo, sabe-se que, em pequena escala, o DNA é uma dupla hélice. Se essa estrutura fosse desenrolada completamente, o genoma contido em cada célula mediria 2m de extensão.
;Não compreendíamos como era possível que essa dupla hélice estivesse inserida no núcleo de uma célula humana com diâmetro de um centésimo de milímetro;, disse Erez Lieberman-Aiden, pesquisador da Escola de Engenharia de Harvard (Massachusetts) e coautor do estudo. A nova tecnologia empregada permite solucionar o mistério, asseguram os cientistas.
Eles descobriram que o genoma humano está organizado em dois compartimentos distintos: os genes ativos acessíveis às proteínas estão separados do DNA inutilizado, que fica armazenado. Os cromossomos passam de um compartimento para o outro continuamente e seu DNA se ativa e desativa.
Densidade
A pesquisa destaca também o fato de que o genoma adota uma forma de organização descrita na matemática como fractal, que permite às células aglomerar o DNA de uma maneira extremamente apertada. Por isso, a densidade da informação contida no núcleo da célula é milhares de milhões de vezes maior do que a de um chip de computador e evita estrangulamentos que poderiam interferir na capacidade da célula para ler a informação do próprio genoma que abriga.
Além disso, o DNA pode facilmente desenrolar e se enrolar novamente durante as diferentes atividades do gene. ;A natureza encontrou uma solução assombrosamente elegante para armazenar a informação sob a forma de uma estrutura superdensa e sem nós;, observa Eric Lander, diretor do Broad Institute, professor de biologia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e principal autor do estudo.
O número
3 bilhões
Número de pares de base de DNA que existem dentro de uma só célula do corpo humano