Embora não cause dores físicas, o vitiligo impinge grande sofrimento às pessoas. De acordo com um estudo publicado pelos dermatologistas Lucas Nogueira, Pedro Zancanaro e Roberto Azambuja, 75% dos pacientes costumam se autodepreciar e 80% queixam-se de passarem por emoções desagradáveis, como medo de que as manchas se espalhem (71%), vergonha (57%), insegurança (55%), tristeza (55%) e inibição (53%). Para chegar a essas conclusões, os médicos acompanharam 100 pacientes com diversas formas da doença e aplicaram um questionário.
;O vitiligo afeta o paciente de maneira arrasadora e atinge também os familiares. A manifestação mais clara é o comparecimento de toda a família à consulta, quando se trata de vitiligo numa criança, o que mostra que os pais estão particularmente ansiosos;, diz o estudo. ;Apesar disso, os médicos, em geral, não dão atenção ao aspecto mais grave do vitiligo, atendo-se a procedimentos terapêuticos, quando não desestimulando o paciente de tratar-se com a afirmação de que é ;apenas; estético;, alerta.
[SAIBAMAIS] ;Certamente, doenças como a psoríase, a Aids, o diabetes e o vitiligo representam um desafio à autoestima de qualquer indivíduo, mas, entre elas, o vitiligo é, sem sombra de dúvida, a mais misteriosa para todos os que lidam com ela;, dizem os médicos. O dermatologista do Hospital Universitário de Brasília Roberto Azambuja, um dos autores do estudo, diz que o próprio paciente se discrimina. ;Dependendo da localização (das manchas), ele evita ir a certos lugares onde estará mais exposto. Se a pessoa estiver muito afetada emocionalmente ou tiver um estilo de vida ansioso, é absolutamente necessário fazer terapia;, diz.
Sofrimento
A mesma opinião tem a psicóloga Anita Del Grande, 24 anos, de São Paulo. Ela entende bem do assunto, já que, desde a adolescência, sofre de vitiligo. As manchas começaram a aparecer ao redor das unhas. Hoje, estão nas axilas, mãos, virilha e rosto. Anita conta que sofreu muito. ;As pessoas que desconhecem o assunto costumam ser bastante preconceituosas. Muitas olham com cara de desprezo, outras se afastam como se fosse uma doença contagiosa. Os sentimentos são diversos;, diz.
Há um ano, decidiu parar de sofrer. ;Eu resolvi ser feliz e me aceitar como sou. Não me acho inferior às outras pessoas, sou apenas diferente. Sei que, em muitos casos, as pessoas não sabem lidar com a diferença, pois ela assusta, mas já não sofro porque tem alguém me olhando e se perguntando por que eu tenho tantas manchas;, conta. Para quem sofre do problema, ela enumera os conselhos: ;Jamais podemos deixar de ser feliz por medo, vergonha, sentimento de inferioridade. Nós somos pessoas normais e merecemos ir à academia, ao clube, à praia. Jamais devemos deixar de fazer algo que nos agrada. O vitiligo não é empecilho para nada nesta vida;.