Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Pacientes com mal de Parkinson ganham esperança com a neurocirurgia funcional

Procedimento tenta recriar a transmissão de sinais nos circuitos nervosos. Operação prevê a instalação de eletrodos no cérebro




; Companheira de jornada

Quando se conversa com o piloto Carlos Aníbal Pyles Patto, 62 anos, é difícil acreditar que ele sofre de mal de Parkinson há 19 anos. Bem-humorado, ele brinca com os sintomas da doença, inventa alguns só para fazer piada e dá uma verdadeira aula sobre como superar a enfermidade. Além da cirurgia e dos medicamentos, ele lança mão de duas receitas fundamentais para conviver tão bem com o Parkinson: nunca pensar mal dos outros e ajudar a quem precisa.

A fala tranquila é reflexo do modo como Patto encara a vida: ;Sou a pessoa menos estressada do mundo;, diz o piloto, que, há oito anos, ainda comandava helicópteros, mesmo já sendo portador da doença. Na sala de estar do apartamento onde mora com a mulher, ele exibe uma série de esculturas feitas no quarto transformado em oficina. De lá, também saem gatos de concreto e madeira e outras obras que ele eventualmente leiloa para angariar fundos para a Associação Parkinson Brasília.

Presidente da associação, Patto está orgulhoso com o recém-formado coral. ;Podemos começar a ensaiar numa semana e nos apresentar em outra. Se todo mundo cantar mal, é só dizer que a culpa é do Parkinson;, brinca. Nas reuniões com os 80 associados, ele orienta os pacientes com informações sobre alimentação e exercícios apropriados, além de dar lições de vida.

O piloto conta que passou por todas as fases enfrentadas pelos parkinsonianos. ;Começa com a negação ; fui a seis neurologistas para acreditar no diagnóstico ;, passa pela revolta, a depressão e termina com a aceitação;, conta. Ajudar outras pessoas que, como ele, tinham a doença, foi fundamental para combater a depressão. ;Você para de pensar só em você mesmo;, ensina. Autor dos livros de crônica O rabo do macaco e outras histórias e O peru de Natal e outras histórias, Carlos Patto decidiu escrever uma carta para a doença de Parkinson: ;Hoje sei que, para te entender, preciso estar livre dos preconceitos e totalmente aberto ao diálogo. Hoje te respeito, te admiro e te considero uma amiga. Uma amiga e companheira de jornada;.

As reuniões da associação acontecem aos sábados, das 14 às 16h, na Famatec (Sia Trecho 1/2, lotes 1510/1540). Mais informações: 3433-3039.