Para o médico Evandro Cunha, diretor do Hospital Urológico de Brasília, as estatísticas são o reflexo do maior esclarecimento, entre os homens, sobre a vasectomia. ;Havia várias crendices, como as de que a cirurgia engordava, causava câncer ou impotência. Isso afastava as pessoas;, diz. Muitas pessoas também tinham medo de encarar o procedimento. ;É outra bobagem;, assegura o urologista. Feita com anestesia local e sedação, a vasectomia pode ser realizada de forma ambulatorial, ou seja, sem necessidade de internação. O tempo varia entre 20 e 40 minutos. ;Como em qualquer cirurgia, pode haver infecções locais, hematomas e inchaços, mas nada de muito importante;, diz.
Reflexão
Apesar da facilidade técnica, os médicos alertam que, para se submeter à vasectomia, é preciso estar completamente seguro. De acordo com o Ministério da Saúde, só podem fazer a cirurgia homens com mais de 25 anos e pelo menos um filho. Além disso, eles têm de assinar um termo de compromisso, assim como as parceiras, caso sejam casados.
Ainda assim, Nelson Gattas conta que só faz o procedimento em pessoas com mais de 30 anos e ao menos dois filhos. ;É preciso me convencer muito. Eu sou uma espécie de ;advogado do diabo; da vasectomia: contraindico e nunca marco a cirurgia de imediato. Converso com o paciente e peço que volte em 60 dias para que reflita bem, pois o ato não pode ser intempestivo;, diz. Ele também lembra que o homem não deve se deixar levar pela insistência da mulher. Até porque é comum que, mais tarde, eles constituam outras famílias e se arrependam de não poder mais ter filhos.
O diretor do Hospital Urológico de Brasília explica que, embora seja possível reverter a vasectomia, a cirurgia é bem mais complexa e não garante 100% de sucesso. ;Dos homens que fazem a reversão, entre 50% e 60% conseguem engravidar uma mulher;, diz. Segundo Evandro Cunha, a partir do quinto ano do procedimento, vai se tornando mais complicado recuperar a fertilidade. Além do tecido fibroso ficar mais denso por causa da cicatriz, o que dificulta a religação dos dutos cortados na vasectomia, com o tempo, o próprio testículo passa a produzir menos espermatozoides.
[SAIBAMAIS] Cuidados
Se o homem, porém, está seguro de que quer fazer a vasectomia, ele deve seguir à risca as recomendações médicas. É essencial fazer o espermograma, exame que mede a quantidade de espermatozoides, 40 dias depois da cirurgia. ;Todo médico deve induzir o paciente a fazer o exame até que o espermograma esteja zerado. Até lá, é preciso usar outros métodos anticoncepcionais;, alerta Evandro Cunha.
Contrariando essa regra, o motorista Antônio Tonaco, 46 anos, foi pai pela quarta vez há três anos, depois de ter feito a cirurgia. Ele já tinha três filhas na casa dos 20 anos e, como estava terminando o casamento, resolveu se submeter à vasectomia. No carnaval, certo de que não podia mais ter filhos, acabou engravidando uma mulher com quem teve um rápido relacionamento. ;Foi descuido da minha parte. Eu não fiz o espermograma;, confessa. Avô de dois netos, Tonaco teve de refazer a cirurgia porque, segundo seu médico, em um dos testículos ele tinha dois canais, em vez de um. Algo raríssimo de ocorrer na medicina. Depois do segundo procedimento, o motorista obedeceu as recomendações do cirurgião. ;Filho, agora, só na próxima encarnação;, brinca.