Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Saiba como reconhecer sinais que antecipam acidentes vasculares cerebrais

O acidente vascular cerebral (AVC) que acometeu José Teixeira Lobo, 87 anos, chegou sem aviso, durante o sono, em uma noite de 21 de abril, há nove anos. Ao acordar, o aposentado sentiu que a mobilidade da perna direita estava comprometida e o braço também não obedecia aos seus comandos. ;Fumei por 47 anos da minha vida, mas estava com a saúde em dia, não tomava remédios nem para dor de cabeça. Fui dormir bem, passei uma noite tranquila, apenas acordei sentindo dificuldades em me movimentar. Não senti dor e imaginei que fosse uma fraqueza corriqueira na perna, coisa da idade. Meu filho percebeu que eu estava me arrastando e me levou ao hospital;, relata. Ao atenderem José na emergência, os médicos suspeitaram do AVC, diagnóstico comprovado pelos exames. ;Fiquei internado por uma semana e até hoje, apesar de continuar fazendo fisioterapia para recupear os movimentos, tenho dificuldade para andar. A bengala passou a ser minha companheira inseparável. Ela me auxilia nos passos, que ficaram mais lentos;, acrescenta.

Na verdade, José teve sorte em ter sobrevivido ao AVC, uma das doenças que mais matam no mundo, ao lado dos distúrbios cardíacos e do câncer. Dados do Ministério da Saúde revelam que, no Brasil, os problemas cerebrovasculares são responsáveis por pelo menos 90 mil mortes por ano. O país está entre as 10 nações com maiores índices de mortalidade por AVC, e a doença é a maior causa de incapacitação da população na faixa superior a 50 anos, já que responde por 40% das aposentadorias precoces. Especialistas acreditam que os números podem ser ainda mais assustadores, pois não há regulação que exija notificação dos casos e muitos não são registrados.

Os neurologistas são unânimes: a doença é grave e, apesar da quantidade de vítimas que faz anualmente, os brasileiros estão pouco atentos a ela. De acordo com o vice-presidente da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), Rubens Gagliardi, sintomas típicos do AVC, como fortes dores de cabeça, perda de equilíbrio e coordenação, fraqueza ou dormência nos braços, pernas e face, além de comprometimento súbito da fala e dificuldade de compreensão são menosprezados e entendidos como manifestações de mal- estar.

;Muitos pacientes não procuram socorro a tempo de se evitar as sequelas do AVC. É extremamente importante buscar atendimento médico adequado o mais rápido possível. O quadro é progressivo e as chances de sobrevivência e recuperação ficam reduzidas à medida que o tempo passa;, explica o neurologista. ;Dependendo da região e da extensão do cérebro afetada pelo acidente, os pacientes ficam com distúrbios graves na fala, deglutição, movimentação, compreensão e até interação;, alerta.

Recuperação difícil
O acidente vascular cerebral é mais comum em indivíduos acima de 55 anos. A prevenção é importante e nem sempre levada em consideração. Tabagismo, obesidade, estresse, sedentarismo e doenças cardiovasculares são fatores de risco.

O Estudo de Mortalidade e Morbidade por Acidente Vascular Cerebral (EMMA), conduzido pela Universidade de São Paulo desde 2006, revela que a hipertensão não tratada é um fator decisivo para a ocorrência do problema. Segundo a epidemiologista e coordenadora da pesquisa, Alessandra Goulart, até dezembro do ano passado, dos 1,2 mil pacientes atendidos com suspeita de AVC no Hospital Universitário, 828 tiveram o diagnóstico confirmado. ;Cerca de 80% das mulheres e 71% dos homens atendidos eram hipertensos. Muitos desconhecem que a pressão alta é um fator de risco;, lamenta.

A médica destaca que uma das manifestações psiquiátricas mais comuns depois de um AVC é a depressão. ;Ela se deve tanto a particularidades da lesão cerebral em áreas relacionadas ao humor quanto à reação psicológica aos prejuízos e incapacidades trazidas pela doença. Os cuidados e o carinho da família dos pacientes são essenciais para a recuperação daqueles que sobrevivem. É preciso dedicação para a reabilitação;, observa Alessandra.