Vertigens e quedas maltratam idosos

Cerca de 70% das mortes acidentais de pessoas com mais de 75 anos são provocadas por tombos. Ambiente doméstico é o mais perigoso

Um estudo inédito da Sociedade Brasileira de Otologia (SBO) revela que 70% dos idosos sofrem vertigens. O dado é preocupante, segundo um dos coordenadores da pesquisa, o médico Fernando Ganança, não apenas por causa do desconforto, mas devido a uma de suas principais consequências: as quedas. Cinquenta e um por cento dos entrevistados que afirmaram sentir tonturas caem no chão recorrentemente. Metade dos episódios acontecem dentro de casa, na parte da manhã. Para os mais velhos, as quedas são bastante arriscadas. De acordo com a SOB, 70% das mortes acidentais de pessoas acima de 75 anos estão relacionadas a elas.

O estudo, realizado com 323 idosos, vai servir de subsídio para as próximas campanhas nacionais de prevenção às quedas na terceira idade, promovidas regularmente por otologistas (especialistas em audição e equilíbrio corporal) e otorrinolaringologistas (médicos que cuidam do aparelho auditivo, do nariz e da garganta). Embora problemas de vista, doenças coronarianas e neurológicas também estejam relacionados às quedas, as tonturas ainda são as causas principais. ;Em idosos internados, o índice dos que sofreram quedas chega a 80%;, diz Ganança.

Segundo o médico, a origem das vertigens está no chamado sistema vestibular, que integra o labirinto, estrutura do ouvido responsável pelas funções de audição e equilíbrio. Apesar de ocorrerem em todas as faixas etárias, as tonturas costumam aumentar com a idade. Além da vertigem, outros sintomas caracterizam os distúrbios do equilíbrio e precisam ser reportados aos médicos: náuseas, suor frio, sensação de flutuar, zumbidos na cabeça e no ouvido, diminuição da audição, dificuldade de concentração, desconforto com sons intensos e fadiga física e mental.

Mudanças
Além de tratar do problema, os idosos precisam reformular o ambiente doméstico, pois, conforme indicou o estudo da SBO, é o local mais propício às quedas. ;Os cuidados começam dentro de casa. Tapetes, cera e escadas são perigosos e podem acabar gerando fraturas;, diz o ortopedista Miguel Akkari, do Instituto Saúde Plena e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa, em São Paulo. Ele lembra que, além de promover mudanças nos cômodos, é necessário rever os hábitos. ;Os idosos não devem subir em escadas para trocar lâmpadas e lavar janelas, por exemplo. Não se pode fazer com 80 anos as mesmas coisas que se fazia aos 60;, diz.

[SAIBAMAIS]O ortopedista afirma que também é essencial reabilitar a musculatura, o que ajuda a dar mais força e recuperar o equilíbrio. A professora de educação física Natécia Carvalho, da Countors Express, diz que, para os idosos, a musculação é a atividade mais indicada. ;Ela aumenta a absorção do cálcio, proporciona ganho de massa muscular, melhora a resistência e o equilíbrio e ajuda nas atividades cotidianas. Com o idoso, você não vai trabalhar performance, mas qualidade de vida;, diz.

Segundo o otologista Fernando Ganança, também existem exercícios específicos para tratar os distúrbios do equilíbrio, chamados de reabilitação vestibular. ;Poucas pessoas sabem disso. Mas com atividades adequadas, é possível recuperar o equilíbrio perdido;, diz. Os exercícios são passados pelo médico e acompanhados por fonoaudiólogos ou fisioterapeutas. ;Mas é importante que esses profissionais atuem sempre sob a supervisão médica, pois o problema pode até piorar;, adverte.

; Veja exercícios recomendados pela Sociedade Brasileira de Otologia para readquirir o equilíbrio

- Ande, levantando um braço, depois o outro
- Ande, abrindo os braços para os lados até a altura dos ombros e abaixando
- Dobre e estique os punhos, num movimento com as palmas das mãos para cima e para baixo
- Abra e feche os dedos com força. Repita 20 vezes
- Deite de costas, mantendo a cabeça e a coluna apoiadas. Mantenha uma perna dobrada. Dobre a outra e, ao mesmo tempo, puxe com a mão. Troque a perna e repita 10 vezes
- Segure em alguma superfície estável, eleve bem um joelho de cada vez, como se estivesse marchando