Responsável pela sensação da formação das imagens, a retina está relacionada a duas das quatro principais causas de cegueira. O descolamento da membrana atinge principalmente míopes e pessoas com mais de 50 anos, mas também pode ser decorrente de traumas na região ocular, como uma forte pancada no local. Tumores e inflamações são outros fatores de risco. Ela se descola do olho em consequência de buracos que vão aparecendo, principalmente na periferia da retina, que é mais fina. Com o rasgo, o líquido que preenche o olho se infiltra entre a membrana e a superfície do órgão.
Buracos
Segundo o oftalmologista Renato Braz Dias, chefe do departamento de retina e vítreo do Instituto de Olhos e Microcirurgia de Brasília, os míopes têm mais probabilidade de apresentar o problema, porque possuem olhos maiores que o normal e, para acompanhar esse alongamento, a retina fica esticada. Isso facilita o aparecimento dos buracos na membrana. ;Quanto maior o grau de miopia, mais a retina fica sujeita a degenerações;, diz.
Os sintomas ; moscas volantes, como são chamados os pontos pretos que acompanham a visão de quem sofre do mal, flashes, borrões e manchas ; podem não aparecer quando a pessoa sofre rasgos na retina. Por isso, é importante que míopes e idosos façam o exame preventivo periodicamente. Com colírios e um equipamento especial (veja arte), o especialista em retina é capaz de detectar se há riscos de a membrana se descolar. Caso apareçam lesões, as aplicações de laser resolvem o problema. ;Mas se a retina já estiver deslocada, o laser não adianta. Só mesmo a cirurgia;, adverte o médico Elisabeto Ribeiro Gonçalves.
A rapidez no diagnóstico é fundamental para o sucesso da operação. ;Quanto mais rápido ocorrer a cirurgia, maior a chance de recuperar a visão;, diz Renato Braz Dias. Depois de um mês, a membrana começa a ficar rígida, o que dificulta o trabalho do cirurgião. Segundo o presidente do Congresso Brasileiro de Oftalmologia, embora todas as operações tenham um grau de risco, o índice de intervenções bem-sucedidas é bastante alto. ;Não existe cirurgia simples, mas essa é muito segura;, diz Elisabeto Gonçalves.
; Além da estética
Quando se fala em plástica nos olhos, logo se pensa em intervenções estéticas, como retirada de rugas e bolsas de gordura. A cirurgia, contudo, está associada a problemas bem mais graves do que se imagina e abrange todas as patologias das pálpebras, da órbita e das vias lacrimais. O médico Eduardo Soares, fundador e chefe do Setor de Cirurgia Plástica Ocular do Departamento de Oftalmologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), explica que as intervenções são necessárias para tratar diversas doenças, como blefarite e ptose, problemas que afetam a visão.
O médico pretende esclarecer aos colegas brasileiros e estrangeiros esperados no 35; Congresso Brasileiro de Oftalmologia, em Belo Horizonte, as principais aplicações das oculoplásticas, como são chamadas as intervenções. Coincidentemente, Minas Gerais é o estado pioneiro na técnica, introduzida no Brasil na década de 1960. ;Não se pode pensar em plástica de olho somente como cosmética. Há pessoas que ficam deformadas por causa de lesões, e a intenção primordial da cirurgia é preservar a visão;, diz. ;E também há os pacientes deformados pela perda do globo ocular, que ficam segregados da vida social. Os implantes estéticos que fazemos devolvem essa vida a eles;, diz o professor da UFMG.
Segundo Eduardo Soares, em alguns casos, as cirurgias são necessárias mesmo em bebês. ;Algumas crianças são operadas nos primeiros dias de vida;, diz. Isso acontece quando são diagnosticadas com canal lacrimal obstruído, o que provoca um lacrimejar constante. A plástica também é indicada aos pequenos no caso de ptose, distúrbio caracterizado pela queda das pálpebras. Além do aspecto estético, a visão pode ser atingida, o que faz a intervenção necessária. As crianças com o problema devem passar pela cirurgia até os 6 anos, quando a formação do sistema ocular está completa.