Além de constatar que, sob pressão, as pessoas tendem a ganhar quilinhos, o estudo revelou padrões diferentes entre homens e mulheres. Enquanto elas engordam quando são afetadas por problemas no emprego e nas relações familiares, depressão, ansiedade e dificuldade para pagar contas, eles aumentam de peso por questões relacionadas à autoridade. Quando se sentem diminuídos na tomada de decisões estratégicas ou não conseguem aprender novas ferramentas necessárias ao mercado de trabalho, tendem a ficar ansiosos e a engordar. Block, porém, alerta que o estresse só leva ao aumento do peso quando as pessoas já possuem tendência: ;Os participantes com índices de massa corporal (1)no limite que afirmaram estar estressados ganharam mais peso, enquanto que aqueles com baixo IMC não apresentaram o mesmo padrão;.
A empresária Denise Pacelli, 48 anos, chegou a engordar 21kg por causa de problemas familiares. Ela se casou aos 22 ; com vestido manequim 36 ; e, quatro anos depois, começou a ganhar peso. ;Apelei para remédios, dietas malucas, tive problemas seriíssimos de fígado e de memória;, lembra. Denise sentia-se ansiosa e insegura e descontava tudo na comida. ;Tem gente que, sob estresse, fuma mais ou bebe mais. Eu comia;, diz. Descontente com as tentativas para emagrecer, resolveu entrar num programa de reeducação alimentar. ;Mas senti que faltava algo, que o problema não estava só na boca;, conta.
[SAIBAMAIS]Depois de estudar os transtornos de compulsão alimentar, Denise descobriu que as razões que a levaram a engordar eram mais emocionais que nutricionais. Ela fez terapia e, a partir daí, resolveu ministrar palestras sobre reeducação e qualidade de vida no grupo Resultado Positivo, que une dicas sobre alimentos à prática de meditação. ;Eu estou muito mais feliz e experiente agora do que quando tinha 30 anos. Costumo dizer que sou linda e maravilhosa. Estou muito bem comigo mesma;, garante.
Compulsões
Segundo o estudo conduzido por Jason Block, quando estão passando por períodos estressantes, as pessoas tendem a mudar seus padrões alimentares. ;Geralmente, as pessoas estressadas desenvolvem compulsões alimentares. Elas apresentam um consumo baixo de vitaminas e minerais, que regulam o organismo, e alto de gorduras saturadas e trans e de carboidratos refinados;, confirma a nutricionista Joana Lucyk, da clínica Saúde Ativa.
Além da dieta inadequada, a pesquisa mostra que alterações orgânicas desencadeadas pelo estresse são responsáveis pelo ganho de peso. Um deles é o cortisol(2), associado à gordura abdominal, que se torna mais elevado. ;Quando há estresse psicológico, pode haver estresse fisiológico também. Nesse caso, há perda de massa magra e proliferação de células de gordura;, diz Joana Lucyk.
De acordo com o estudo norte-americano, é possível que a pressão emocional estimule uma complexa interação entre o cortisol e a grelina, hormônio responsável pelo aumento do apetite. Ao mesmo tempo, o estresse baixa os níveis de lepitina, substância produzida pelo organismo que reduz a fome e estimula o gasto de energia em repouso. A pesquisa norte-americana aponta para a necessidade de desenvolver, no trabalho, programas de redução de estresse, como flexibilidade nos horários e promoção de atividades físicas.
1 - ÍNDICE DE MASSA CORPORAL
A medida, desenvolvida no século 19, é usada ainda hoje como padrão pela Organização Mundial de Saúde. Para calcular, basta dividir o peso pela altura (em centímetros) ao quadrado. Quem está abaixo de 18,5 é considerado magro. De 18,5 a 24,9, a condição é saudável. O sobrepeso é verificado no ICM entre 25 e 29,9. A partir de 30, a pessoa é considerada obesa.
2 - CORTISOL
Hormônio esteroide produzido pela glândula suprarrenal, que está diretamente envolvido na resposta ao estresse fisiológico. Embora essencial ao organismo, em altas doses ele aumenta a pressão arterial e o nível de açúcar do sangue. Ele também diminui a massa muscular.
; Transtorno é caso psiquiátrico
Devorar uma pizza inteira de vez em quando é normal, principalmente depois de muitas horas de estômago vazio. Porém, para algumas pessoas, comer em quantidades exageradas torna-se um hábito. Em consequência, podem ficar obesas, sem saber que sofrem de um transtorno que, muitas vezes, precisa de tratamento à base de medicamentos psiquiátricos.
O psicólogo Sergio Carlos Stefano, do Programa de Orientação aos Pacientes com Transtornos Alimentares (Proata) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), está fazendo um estudo sobre o distúrbio como projeto de pós-doutorado. De acordo com Stefano, entre 3% e 5% da população sofre do Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica (TCPA), uma incidência maior do que a de bulimia (1%) e anorexia (0,5%). Trinta por cento das pessoas que sofrem do problema desenvolvem obesidade.
Embora grave, o TCPA nem sempre é diagnosticado. ;As pessoas não sabem que têm uma doença e basicamente, quando engordam, buscam tratamentos para perder peso e não incluem o atendimento psicológico;, diz. Como se trata de uma compulsão, porém, a simples mudança na dieta não adianta. Sem acompanhamento, mesmo que consiga ficar uma semana sem atacar a despensa, o paciente voltará a fazê-lo.
O TCPA não tem uma causa única, mas surge devido a uma série de fatores. ;O que dispara a doença não é a ansiedade. A pessoa pode estar triste, se sentindo sozinha, alegre ou com raiva;, diz Stefano. ;Muitos pacientes têm depressão combinada com o transtorno;, diz. Embora não exista um perfil específico, geralmente a doença acomete quem tende a ser perfeccionista e possui baixa autoestima. Ao contrário de bulimia e anorexia, prevalece mais em pessoas mais velhas, entre 20 e 30 anos. Para cada três mulheres, dois homens apresentam o distúrbio.
O psicólogo esclarece que um dos sintomas é ter crises compulsivas pelo menos duas vezes por semana. Nos casos leves, a pessoa pode ir à despensa comer um biscoito e terminar por devorar todos os pacotes e mais o que encontrar pela frente. Só para quando o organismo já não suporta mais. ;Ela é incapaz de controlar o quê e o quanto está comendo;, diz. Nos estágios graves, o paciente tem uma espécie de blecaute, e sequer consegue se lembrar do que fez. ;Tive uma paciente gravíssima, que só se deu conta quando o cachorro rosnou. Ela estava de joelhos, comendo a ração. Outra quebrou o dente ao tentar morder um congelado;, conta Stefano.
Depois dos episódios, o paciente sente-se frustrado e culpado pelo que fez. Geralmente, come escondido e evita a vida social, principalmente quando os eventos incluem comida. Nos casos leves, o psicólogo diz que a terapia é suficiente. Já nos estágios graves, também é preciso tomar remédios. Em ambos, porém, Stefano ressalta que é importante procurar um psicólogo especializado em distúrbios alimentares.