Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Técnica de arquitetura usa plantas no lugar de telhas

Atitude ameniza o calor, traz economia de energia e ajuda a combater o efeito estufa

Dois mil anos depois, a humanidade redescobre os jardins suspensos, uma das sete maravilhas do mundo antigo. Mas agora, diferentemente do que ocorria na Babilônia, a estética não é o principal motivo de se cultivar plantas nas alturas. A preocupação é com o meio ambiente. Populares na Europa e nos Estados Unidos, os telhados verdes, também chamados de vivos ou ecológicos, ganham força no Brasil, e são a nova arma dos arquitetos para economizar energia e combater o efeito estufa.

Ao pintar o céu de verde, amenizam-se as ilhas de calor que sufocam as grandes cidades. De acordo com a organização não governamental (ONG) One Degree Less, um estudo do Lawrence Berlekey National Laboratory, na Califórnia, constatou que 25% da superfície de uma cidade é constituída por telhados. Por causa da retenção da luz solar nos edifícios e do abuso da energia elétrica, o meio urbano pode alcançar temperaturas até 6;C a mais que a zona rural. Já quando a laje é revestida por plantas, ocorre o contrário, e o clima torna-se mais ameno. Os termômetros podem baixar até 3,9;C e reduzir o calor em 25% no verão.

Adepto dos telhados vivos, desde o fim da década de 1990, o bioarquiteto Sérgio Pamplona, de Brasília, acredita que a preocupação com a sustentabilidade vem crescendo. Há 11 anos, ele transformou a laje da casa onde mora em jardim suspenso. Segundo Pamplona, há uma boa procura por esse tipo de projeto na cidade, mas ele alerta que não basta mudar só o telhado para ter uma casa sustentável. ;A pessoa precisa mudar o estilo de vida e adotar uma atitude realmente ecológica;, adverte.

O engenheiro agrônomo e presidente da Associação Telhado Verde Brasil, João Manuel Feijó, lembra que, além de promover mais conforto térmico, o ecotelhado ajuda a diminuir a emissão de gás carbônico na atmosfera, já que reduz a energia elétrica utilizada por aparelhos de climatização. Outra vantagem é a melhora do escoamento de água da chuva, evitando enchentes. Um estudo experimen-tal da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS) constatou que os telhados com cobertura vegetal conseguem, nas seis primeiras horas após a chuva, reduzir o escoamento em até 100%. A água retida pelas plantas pode, inclusive, ser reutilizada. O bioarquiteto Sérgio Pamplona, por exemplo, construiu reservatórios para reaproveitá-la em seu telhado vivo.

De acordo com João Manuel Feijó, a cobertura verde também ajuda a diminuir a poluição das cidades, já que, além da fotossíntese, promove a aderência dos agentes poluentes no substrato. ;Novos problemas exigem novas soluções, e o telhado verde vem resolver muitos problemas dos centros urbanos;, diz o engenheiro. A Associação Telhado Verde Brasil está realizando uma campanha para sensibilizar os legisladores locais e incentivá-los a incluir, nos planos diretores, iniciativas que promovam a adesão dos moradores das cidades ao método. Em Porto Alegre, a tentativa deu certo. O novo plano prevê que os terrenos tenham pelo menos 20% de área verde, que pode ser substituída pelo telhado vivo.

Adotando o estilo
Existem diversas técnicas usadas para a construção da cobertura verde na laje. Para quem quer as plantas sempre verdinhas, é indicado optar por um sistema de irrigação, embora não seja indispensável. Segundo o bioarquiteto Sérgio Pamplona, mesmo casas já prontas podem ser adaptadas, mas, nesses casos, será preciso avaliar se a laje suporta a estrutura do telhado verde. É possível, inclusive, adotar a técnica em condomínios e prédios. Em Porto Alegre, até mesmo um teatro, o São Pedro, aderiu à cobertura viva, feita pela empresa Ecotelhado, que também projetou uma enorme passarela em São Paulo com a técnica.