Enceladus, a mais misteriosa lua de Saturno, tem um depósito de água sob sua superfície. Em seus dois sobrevoos sobre o satélite, a Cassini %u2014 sonda lançada pela Nasa (agência espacial dos Estados Unidos) %u2014 detectou amônia nos jatos de água congelada, expelidos de fraturas no Polo Sul. Em entrevista ao Correio, por e-mail, o norte-americano Jonathan Lunine, professor de ciência planetária e física da Universidade do Arizona, explicou que a amônia baixa o ponto de congelamento da água, funcionando como um anticongelador eficiente. %u201CDe outras medidas feitas pela mesma nave, sabemos que a temperatura na região das plumas é alta o bastante para que a mistura de água e amônia seja líquida%u201D, observou. %u201CEssa é nossa melhor pista de que há água em estado líquido sob a superfície de Enceladus.%u201D
As medidas foram feitas pelo espectrômetro de massa neutral de íons, um instrumento que coletou amostras de gases expelidos nas plumas e analisou sua composição. %u201CNos dois sobrevoos, detectamos amônia e água, algumas moléculas orgânicas e outras substâncias%u201D, disse Lunine, coautor da pesquisa, publicada pela revista científica Nature. Segundo ele, a chave para detectar a amônia foi o voo à baixa altitude %u2014 em ocasiões anteriores, a distância da Cassini em relação à Enceladus impediu o registro.
A Cassini também encontrou argônio radiogênico de isótopo 40, produzido a partir da decomposição de potássio %u2014 fenômeno natural ocorrido nas rochas, também comum na Terra. %u201CAo acharmos argônio 40 em Enceladus, pudemos confirmar um interior rochoso. A quantidade dessa substância é grande o bastante para sugerir que água líquida circulava na rocha de modo eficiente%u201D, explicou Lunine.
O achado indica que Enceladus possui uma região morna em seu interior, uma espécie de %u201Csopa%u201D de moléculas orgânicas e amônia. %u201CNós fortemente suspeitamos que isso se deva à água líquida e salgada, em contato com minerais. Essas são condições suficientes para abrigar vida%u201D, destacou o especialista da Universidade do Arizona. Para Lunine, a descoberta sinaliza um caminho para futuras missões da Nasa em busca de organismos vivos fora da Terra.