Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Eclipse total do sol no século 21 mergulha a Ásia na escuridão

Fenômeno semelhante só se repetirá em 2132

Vários países da Ásia assistiram na manhã de hoje (ontem à noite no horário de Brasília) ao eclipse solar total mais longo do século 21. Uma grande faixa da região, sobretudo a China e a Índia ; os dois países mais populosos do planeta ;, ficou em completa escuridão. O fenômeno evoca mitologias e crenças, mas também é uma oportunidade rara de astrônomos e físicos observarem o movimento de interposição da Lua entre a Terra e o Sol. ;É o eclipse mais longo do século. Nenhum de nós viverá o suficiente para ver outro igual;, afirmou, estusiasmado, Federico Borgmeyer, diretor da agência de viagens alemã Eclipse City.

O astrofísico norte-americano Fred Espenak definiu esse eclipse do Sol como um fenômeno gigante, que seria observado por nada mais, nada menos, que 2 bilhões de pessoas, um recorde na história da humanidade. A mancha de escuridão começou a se espalhar na manhã de hoje (horário local), no oeste da Índia, e avançou por um corredor de 15 mil quilômetros de extensão e 200 quilômetros de largura, atravessando a Índia, o Nepal, o Butão, Bangladesh, Mianmar e China, e alcançando, também, as ilhas meridionais japonesas de Ryukyu.Os eclipses solares totais acontecem quando a Lua está alinhada entre a Terra e o Sol, o que significa que o astro-rei ficará escondido para os habitantes de nosso planeta que estejam à sombra da Lua. Há pelo menos dois eclipses solares por ano, com frequência parcial, quando o disco solar parece ter sido ;mordido; pela Lua sem ficar totalmente oculto. Dessa vez, o Sol ficou completamente bloqueado pela Lua, durante seis minutos e 39 segundos, em uma zona pouco habitada do Pacífico. Um recorde de duração para um eclipse que só será quebrado em 2132. A escuridão, no entanto, durou menos na Índia (entre três e quatro minutos) e em Xangai (cerca de cinco minutos).

[SAIBAMAIS]Desde Claudio Tolomeu, no século 2, pode-se predizer a data de um eclipse e, a partir o século 18, onde ocorre. A criação dos computadores simplificou os cálculos que outrora levavam, às vezes, até um mês para os astrônomos. O Sol possui um diâmetro 400 vezes maior que o da Lua, mas está também 400 vezes mais distante. Visto a partir da Terra, seu disco é sensivelmente do mesmo tamanho, no entanto, com algumas variações. Como as órbitas da Terra e da Lua não são perfeitamente circulares, as distâncias Terra-Lua e Terra-Sol variam. A Terra se encontra mais distante do Sol no mês de julho, período em que nos parece menor. A Lua também parece mais ou menos maior, segundo sua distância (de 350 mil a 400 mil quilômetros da Terra). Quando o Sol se encontra mais perto da Terra, em janeiro, e a Lua muito longe para ocultá-lo por completo, um anel de luz solar fica visível: trata-se de um eclipse anelar.

O próximo eclipse anelar está previsto para 15 de janeiro de 2010. E o próximo eclipse solar total acontecerá em 11 de julho de 2010, quase inteiramente sobre o Pacífico Sul. O último fenômeno foi visível em 1; de agosto de 2008, do nordeste do Canadá ao noroeste da China.

; Astrólogos fazem alerta

Para vários povos do mundo, os eclipses estão relacionados a crenças e mitos. Astrólogos associam o fenômeno que deixou às escuras países da Ásia à possibilidade de catástrofes e guerras. ;Se o Sol, o senhor das estrelas, adoece, então algo de grave ocorrerá no mundo;, advertiu Raj Kumar Sharma, astrólogo de Mumbai. Entrevistado antes do eclipse, disse crer na possibilidade de que haja ;atentados perpetrados no território indiano pelo grupo Jaish-e-Mohammad (separatista da Caxemira) ou pela Al-Qaeda;, além de uma terrível catástrofe natural no sudeste asiático.

Na Índia, os hindus, que representam cerca de 80% dos 1,17 bilhão da população do país, acreditam que os demônios Rahu e Ketu tragam o Sol, fazendo com que seja impossível comer os alimentos e que a água se torna impura. Por medo, mulheres indianas que haviam programado cesárea para hoje decidiram adiar o parto, contou Shivani Sachdev Gour, ginecologista do Hospital Fortis de Nova Délhi. ;É uma crença profundamente arraigada na sociedade indiana. Os casais fazem de tudo para que seu bebê não nasça nesse dia;, explicou.

Na China imperial, os eclipses eram sinal de catástrofes naturais ou da morte do imperador. Até hoje, essas crenças e superstições persistem. ;A probabilidade de que haja violência ou uma guerra durante um eclipse total é de 95%;, indicava ontem um artigo do portal chinês Baidu.com.