O maior problema no Brasil, segundo Kellner, é justamente a falta de financiamento. Ele diz que a maior parte dos recursos investidos parte da iniciativa privada. ;O Brasil gaba-se de ser melhor do que a Argentina no futebol, mas no campo da paleontologia, os argentinos dão um show de bola. Lá, são investidos seis vezes mais recursos do que aqui no Brasil, quando se fala em retirada de fósseis de dinossauros;, ironiza Kellner.
O paleontólogo Reinaldo Bertini, da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), também reclama da falta de investimentos do governo na área. ;Na verdade, o governo investe pouco na ciência. O Brasil é um país rico em fósseis. Há muitas ossadas que poderiam ser descobertas e não são porque não se realiza pesquisa;, ressalta.
[SAIBAMAIS]Para se ter uma noção da falta de investimentos em paleontologia, há profissionais da UFRJ que conseguiram tirar em 2002 e 2003 cerca de 8 toneladas de fósseis em dois lugares diferentes, mas as duas descobertas ainda não foram examinadas por causa da falta de dinheiro. ;Estamos fazendo algo devagar porque usamos recursos dos próprios estudantes;, revela Kellner, que já viajou por conta própria pelo interior do nordeste em busca de dinossauros.
Agulha no palheiro
É justamente feito um andarilho que o paleontólogo inicia o trabalho. Ele escolhe um lugar de grande potencial para fósseis e anda, anda, anda até achar um pedacinho de osso, que fica para fora da terra como um espeto. ;É como se a gente procurasse uma agulha num palheiro;, define Kellner. Após achar uma ponta de osso, que pode ser do tamanho de uma unha, faz-se um trabalho de prospecção para se descobrir o que de fato está escondido sob o terreno. ;É uma loteria. Pode ser que haja uma descoberta incrível, ou apenas um animal comum que tenha vivido no passado, como um jacaré;, diz Kellner.
Outro grande inimigo das descobertas científicas no ramo da paleontologia é a falta de especialistas na área. Para um geólogo ou um biólogo se tornar um paleontólogo, por exemplo, é preciso fazer uma de pós-graduação. Mas são raras as instituições que oferecem o curso e poucos os estudantes que se interessam. A cada ano, são formados cerca de 20 cientistas. ;A remuneração desse profissional é muito baixa;, destaca Bertini.
; Rede Nacional de Paleontologia
O governo de Minas Gerais bem que tentou dar um impulso à pesquisa de fósseis no Brasil, criando há quatro anos a Rede Nacional de Paleontologia. Inaugurada com pompa e um orçamento de R$ 6 milhões, a ideia até que parecia dar certo e consistia, ainda, em criar um banco de dados que facilitaria a catalogação das espécies já encontrada e montada.
O projeto previa que 14 institutos de pesquisa de 12 estados estariam ligados à rede. Com a rede, segundo os pesquisadores que a criaram, seria possível consolidar as pesquisas e apresentá-las como referência para a comunidade científica. Mas a própria categoria passou a criticá-la. ;A rede foi criada por políticos e a comunidade científica resolveu não participar. Por isso, ela não vingou;, diz o paleontólogo Carlos Custto, da Universidade Federal do Rio do Acre.
Na mais recente reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, a Rede Nacional de Paleontologia foi duramente criticada, principalmente por conta do dinheiro investido e que nunca foi convertido em progresso de pesquisa nessa área. Dos R$ 6 milhões investidos, metade saiu da conta do Ministério da Ciência e Tecnologia e a outra metade, do governo mineiro. ;Essa rede, até agora, não passou de uma falácia. Até hoje não sabemos nem quantos paleontólogos têm no país;, afirma o Bruno Castro, da Sociedade Brasileira de Paleontologia. (UC)