Ciente de todos esses fatores, o comerciante Emerson Kumabe, 36 anos, iniciou os testes do endurecedor em janeiro último, depois que retornou de uma viagem com a família ao Japão. ;Lá cheguei a conhecer experimentos parecidos. Mas nada que fosse efetivamente bom. Vi que precisavamos de alguma solução aqui no Brasil;, afirma.
Kumabe conta que experimentou vários tipos de gordura vegetal, a fim de encontrar um que fosse compatível com o óleo, ou seja, que possibilitasse a transição do produto ainda na fase líquida para a sólida. ;Precisava de algo 100% natural. Foi aí que cheguei a um derivado da mamona (Ricinus communis L.) que ao ser adicionado ao óleo em ponto de fritura provocava uma reação química deixando a mistura na consistência da gelatina;, explica.
Patenteado no Brasil, hoje o produto faz parte do conjunto de criações da Associação Nacional dos Inventores (ANI). ;Nosso papel é popularizar as inovações tecnológicas no país;, diz o presidente da entidade, Carlos Mazzei, lembrando que a ANI não só orienta pessoas como o comerciante do interior de São Paulo, mas também regulariza as patentes de projetos, buscando num futuro próximo a comercialização dos inventos em escala industrial.
De acordo com o comerciante, o ideal é que depois de misturar os flocos ao óleo, o material gelatinoso seja acondicionado em um saco plástico. Em seguida, é possível descartá-lo no lixo. ;Uma vez no aterro sanitário, o produto é destinado ao tratamento normal dado ao óleo de cozinha. É bom lembrar que ao ser aquecido novamente ele volta ao estado líquido;, destaca.
Entidades ligadas ao meio ambiente ainda chamam a atenção para o descarte do óleo de cozinha em mares e rios, que também pode afetar a saúde da fauna e da flora marinha. Jogar o produto em aterros e lixões, ou diretamente no solo, segundo ambientalistas, ocasiona a liberação de gás metano na atmosfera, colaborando para o agravamento do efeito estufa.
Do óleo ao sabão
Consciente de todos esses problemas, a dona de casa brasiliense Eurídes de Sousa, 61 anos, encontrou uma solução simples. Moradora do Guará II, ela passou a armazenar o produto em garrafas pet há algum tempo. O material é doado a pessoas que fabricam sabão em barra, em casa. ;Com isso, é possível ajudar famílias que precisam de uma renda extra;, diz Eurídes.
Preocupada com o destino do óleo descartado no Distrito Federal, a Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb) iniciou uma campanha de reciclagem em 2006. ;Recolhemos o produto em algumas comunidades e o encaminhamos para duas senhoras do Varjão. Depois de um curso feito na Caesb, elas passaram a produzir sabão com o intuito de complementar a renda doméstica;, conta a bióloga, Luciana Poleto.
A dona de casa Gidalva de Jesus, 46 anos, é uma dessas pessoas. Depois de trabalhar por algum tempo como doméstica, ela fez o curso oferecido pela Caesb no ano passado, no qual aprendeu a fazer sabão e gerenciar seu próprio negócio. Por mês, Gidalva chega a vender até 600 barras de sabão, a R$ 1,50 cada. ;Com essa renda, sustento meus quatro filhos. Meu produto, por sinal, é melhor do que os vendidos em supermercados. Lava roupas, louça e chão como nenhum outro;, garante.