Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

UFMG cria novo medicamento contra a hipertensão

Estudo de equipe da universidade resulta em droga eficaz no tratamento da pressão alta, problema que atinge 25% da população mundial

O pioneirismo de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) está abrindo espaço para a tecnologia de ponta brasileira num dos mercados mais promissores do mundo, a China. Em maio, um medicamento anti-hipertensivo com sistema de liberação controlada, desenvolvido na universidade, obteve patente naquele país. Há também pedidos em análise na Coreia, Estados Unidos, Índia, Japão, México e países da Europa.

A China foi o primeiro país a conceder a patente à UFMG, o que, de acordo com a professora Heloísa Schor, da Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica da UFMG), demonstra que o país tem procurado respeitar as leis de mercado desde que ingressou na Organização Mundial de Comércio (OMC). ;Encaminhamos o pedido a vários países, de maneira simultânea, e a China foi o primeiro a reconhecer a patente. Isso comprova que o país vem cumprindo as determinações internacionais com respeito à proteção de patentes;, informa a professora.

O anti-hipertensivo com sistema de liberação controlada é resultado do trabalho de uma equipe multidisciplinar, formada pelos professores Rubén Dario Sinisterra, do Departamento de Química do Instituto de Ciências Exatas (Icex), Frédéric Jean Georges Frezard e Robson Augusto Souza dos Santos, do Departamento de Fisiologia e Biofísica do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) e por Ana Paula Nadu, doutora pela UFMG.

Os pesquisadores estão envolvidos no projeto há muitos anos e, em 2001, a patente foi depositada no Instituto Nacional da Propriedade Intelectual. As pesquisas usam o que há de mais avançado na medicina, que é a liberação controlada de medicamentos, permitindo que o organismo absorva o princípio ativo de maneira mais lenta, com doses menores, reduzindo os efeitos colaterais e a toxicidade e aumentando a eficácia do remédio.

O professor Robson Augusto Souza dos Santos, integrante do grupo que desenvolve o medicamento, explica o funcionamento do sistema de liberação controlada: ;A substância ativa é envolta por um polímero, uma espécie de açúcar modificado, responsável pelo transporte do remédio até o estômago do paciente. Lá, além de evitar a destruição do fármaco pelas enzimas do aparelho digestivo, o açúcar modificado também controla a liberação gradual do remédio;.

O princípio ativo do anti-hipertensivo é o peptídeo angiotensina, resultado de mais um avanço das pesquisas médicas. A grande dificuldade para o uso dos peptídeos (pedaços de proteínas) como medicamentos ministrados por via oral é justamente a sua fragilidade. Sem proteção, eles são facilmente atacados pelas enzimas e destruídos antes que façam efeito. Com a proteção do açúcar modificado, a destruição é evitada e o princípio ativo tem tempo de agir e cumprir seu objetivo.