Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Dinossauros teriam pesado bem menos que o estimado

Paleontólogos da Universidade Estadual do Colorado (EUA) chegam à conclusão de que os animais teriam tido até metade do peso estimado até hoje

Um estudo publicado por paleontólogos da Universidade Estadual do Colorado (EUA) revelou que os dinossauros podem não ter sido tão grandes quanto se pensava. Os cientistas norte-americanos chegaram à conclusão de que o modelo estatístico usado para calcular a massa (altura e peso) dos mamíferos (inclusive os dinossauros), ao longo dos últimos 25 anos, era falho. A partir dos novos cálculos, houve casos, a exemplo do apatossauro (Apatosaurus louisae), em que o peso estimado chegou a ser reduzido pela metade. De acordo com a pesquisa, a espécie do animal popularmente conhecido como brontossauro sofreria uma redução de 52% em seu peso ; passando a ter 18 toneladas, em vez das 38 já conhecidas. Especialistas acreditam que os resultados do estudo, publicado no jornal da Sociedade Zoológica de Londres, podem apontar novas direções sobre o modo de vida dos dinossauros. Em entrevista ao Correio, por e-mail, o pesquisador responsável pelo estudo, Gary Packard, afirma que diante dos poucos indícios sobre a vida dos dinossauros, é normal que os cientistas acabem superestimando alguns dados. Em relação ao peso dos animais pré-históricos, principalmente os quadrúpedes (com quatro patas) e herbívoros (que se alimentam de plantas), não é diferente. Ao longo dos últimos 25 anos, cientistas relacionaram a massa do corpo dos dinossauros de maior tamanho à medida dos ossos da perna (fêmur) e do braço (úmero). Os resultados eram obtidos por meio da técnica ;transformação logarítmica;, muito conhecida em estatística, porém, bem mais sujeita a erros, conforme os paleontólogos. De acordo com o responsável pelo estudo, os pesquisadores não inventaram um novo método. Eles, na verdade, aproveitaram as medidas já existentes do fêmur e do úmero dos animais, porém aplicadas em uma outra equação matemática ; uma técnica conhecida em estatística como regressão não linear. A partir da aplicação dessas fórmulas, os pesquisadores chegaram a novas conclusões sobre a biologia dos dinossauros. Se realmente pesavam metade do que se imaginava, quer dizer que também necessitavam de uma quantidade menor de alimentos. ;Muitas das ideias sobre esses animais, a respeito do seu metabolismo, passando pelo tipo da alimentação e chegando à área que habitavam, estão todas relacionadas ao peso;, afirma Packard. Ar nos ossos Na avaliação do paleontólogo da Universidade de São Paulo (USP) Jonathas Bittencourt, o estudo divulgado pelos cientistas norte-americanos representa um avanço, mesmo que sutil, com relação ao que se conhecia anteriormente. Segundo ele, a nova técnica estatística usada, condiz com a realidade, principalmente ao ser aplicadas em animais de grande porte existentes nos dias de hoje, como o elefante e o hipopótamo. ;É preciso avançar mais, pois o estudo só leva em consideração animais quadrúpedes. Porém, muitos dos dinossauros eram bípedes, como o tiranossauro, o velocirraptor e o estauricossauro;, avalia. Ainda de acordo com o paleontólogo, diversos estudos em curso identificaram dinossauros com cavidades pneumáticas (com ar) nos ossos. ;Tanto entre os médios e grandes carnívoros bípedes quanto nos gigantescos herbívoros e quadrúpedes;, enfatiza. Essas descobertas, conforme o paleontólogo, também acabam por reduzir o peso do animal ; o que de fato, sugere que as estimativas dos cientistas ao longo dos últimos 25 anos sobre o estudo da massa podem realmente estar supervalorizadas. Um dos menores herbívoros dos quais se tem conhecimento até hoje, o psitacossauros (Psittacosaurus gobiensis), espécie batizada popularmente de dinossauro-papagaio, também foi tema de um estudo importante, divulgado na última semana. A partir de uma análise mais detalhada da estrutura craniana, uma equipe da Universidade de Chicago (EUA) liderada pelo paleontólogo Paul Sereno chegou à conclusão de que esses animais eram tão habilidosos em comer certos alimentos quanto os periquitos e papagaios existentes hoje. Nozes, castanhas e sementes são exemplos de alimentos presentes nesse variado cardápio. A capacidade para quebrar alimentos tão duros, de acordo com os especialistas, se dava pelo tipo e formato do bico, que podia ser movimentado na diagonal, a exemplo das aves modernas tão comuns, hoje.