O cientista Frank Postberg, do Instituto para Física Nuclear Max-Planck - com sede em Heidelberg, na Alemanha -, detectou sais de sódio expelidos de plumas vulcânicas em Enceladus, uma das 53 luas de Saturno, por meio de imagens feitas pela sonda Cassini, da agência espacial norte-americana (Nasa). Em entrevista ao Correio, ele falou sobre a existência de um oceano no subsolo do satélite.
Como o senhor descobriu que jatos de sal têm sido expelidos das plumas vulcânicas de Enceladus? O que representa essa descoberta?
[SAIBAMAIS]Nós temos um instrumento a bordo da espaçonave Cassini que é capaz de determina a composição dos minúsculos grãos de gelo expelidos pela Enceladus. A sonda atravessou um anel de partículas de gelo que consistem nesses grãos (o chamado %u201Canel E). Muitos dos grãos de gelo poderiam ser facilmente identificados como contendo água salgada congelada. Essa descoberta significa que os jatos emergindo do subsolo de Enceladus são alimentados por um reservatório líquido de água salgada. Nós achamos que os grãos de água salgada são gotículas congeladas do líquido que são então expulsas para fora pelo vapor, por meio das rachaduras na lua. Nossos intrumentos gravam o espectro de massa dos grãos de gelo que atingem nosso Analisador de Poeira Cósmica (CDA, pela sigla em inglês). Nós poderiamos reproduzir esses espectros no laboratório. Então, os grãos ricos em sal são, sem sombra de dúvidas, gotículas congeladas de água salgada. Quando a Cassini atravessa o anel E, nossos instrumentos têm boas oportunidades para captar dados da composição de várias centenas de grãos de gelo.
Ao analisar a composição das partículas de gelo de Enceladus, a que conclusões o senhor chegou?
Não pode haver dúvidas de que há água salgada alimentando as plumas de vapor. Isso torna muito provável que estes reservatórios de água salgada estejam de alguma forma conectadas a um oceano, ainda em contato com o núcleo rochoso de Enceladus.
Por que Enceladus é uma lua tão controversa? O que a torna diferente dos outros satélites de Saturno?
Ela é um dos poucos corpos planetários com o potencial de ter um oceano líquido. Muitos cientistas não podem acreditar que uma lua tão distante do Sol e com uma superfície de 200 graus Celsius abaixo de zero seja capaz de manter água no estado líquido e vulcões de gelo sem o envolvimento de água líquida. Mas nossos resultados agora claramente mostram que a água líquida está presente sob o Polo Sul da lua. Ao contrário de outra luas em que se supõe terem um oceano, como Europa, a Enceladus nos dá acesso direto aos processos do subsolo. A Enceladus %u201Clança amostras de seu oceano na frente da espaçonave%u201D.
Se existe realmente um oceano em Enceladus, qual seria o impacto disso na percepção sobre outros satélites e planetas?
Você não pode facilmente comparar Enceladus a outros satélites. Mas as luas em Urano e Netuno ainda não foram investigadas e, por isso, não sabemos o que está ocorrendo por lá. De qualquer modo, a descoberta de água salgada em Enceladus, junto a fontes de calor, tem definitivamente ampliado a possibilidade para formação de precursores de vida. Nos últimos 10 anos, mais e mais descobertas parecem indicar que condições favoráveis para habitats são encontradas em mais locais no espaço do que imaginávamos.