Testes realizados em roedores e em 71 voluntários podem levar a uma droga mais efetiva contra ataques de pânico e crises de ansiedade. Pesquisadores da Universidade Ludwig Maximilians, em Munique, na Alemanha, acreditam ter descoberto como acionar um dispositivo antipânico no cérebro. O novo componente poderá servir de base para remédios sem os efeitos colaterais dos medicamentos atuais.
"Estamos confiantes de que funcione em pacientes com ataques de pânico, mas isso depende de testes", afirmou o psiquiatra Rainer Rupprecht. O componente descoberto, uma molécula chamada XBD173, estimula uma proteína que auxilia no transporte de moléculas de colesterol e permite que algumas se transformem em neuroesteroides, cujo nível se reduz no cérebro durante um ataque de pânico. Os neuroesteroides também regulam o efeito de uma molécula chamada gaba (ácido gama-aminobutírico), neurotransmissor que atua no relaxamento.
Os pesquisadores induziram os voluntários, todos saudáveis, a ter ansiedade. Foi usado um peptídeo (pedaço de proteína) que provoca um rápido sentimento de pânico. A XBD173 foi administrada por via oral, durante uma semana.
Efeitos colaterais
Os voluntários se dividiram em grupos: um recebia placebo, outro doses diferentes de XBD173 e o terceiro, a droga contra ansiedade alprazolam. Quem recebeu 2 miligramas de alprazolam ou a maior dose de XBD173 (90 miligramas) teve menos ansiedade do que as pessoas que receberam o placebo.
"Enquanto 57% dos tratados com alprazolam reclamaram de sintomas de abstinência, como distúrbios do sono e agitação, isso praticamente não foi notado nos voluntários que receberam XBD173", informa a revista Science em sua edição on-line.
O novo composto causou menos efeitos colaterais do que o alprazolam, que provocou uma forte redução da atividade locomotora. A maioria das drogas contra ansiedade atua dosando a liberação e a absorção de neurotransmissores (moléculas que carregam impulsos químicos) em algumas áreas do cérebro. Esses remédios são eficazes contra a ansiedade, mas causam efeitos colaterais que vão da sonolência ao vício.
Outra questão importante é o desenvolvimento de tolerância aos remédios: a necessidade de usar doses cada vez mais altas para ter o mesmo efeito. Por isso, os pesquisadores usaram roedores. A molécula XBD173 foi administrada duas vezes ao dia por cinco dias nos roedores.