Ações na área de infraestrutura, bem como projetos para antes e depois do fim pandemia de covid-19 estão no radar do Executivo local. O alto escalão do Distrito Federal reúne-se amanhã para discutir esses temas e definir prioridades para o restante do ano. Um dos focos dos encontros planejados para os próximos dias são as obras em que o governo vai investir até o fim do ano, na tentativa de gerar novos empregos e movimentar a economia. O esforço nesse sentido começa pelo setor da construção civil, segundo o governador Ibaneis Rocha (MDB). Para além dessa área, o Palácio do Buriti e as secretarias vão discutir projetos na área social para garantir suporte às famílias mais prejudicadas pela crise.
Os chefes das pastas vão apresentar um balanço do que fizeram durante os últimos meses e do que pretendem fazer nos próximos. Na parte de obras, um documento de 14 de julho lista as ações em andamento, além de licitações previstas ou temporariamente suspensas. O arquivo do Governo do Distrito Federal (GDF) inclui 107 intervenções, como restauração de vias, urbanização, além de construções nas áreas de saúde, educação e segurança (veja Calendário). O total previsto inicialmente chega a R$ 3,3 bilhões, incluídos os valores de certames interrompidos por decisões judiciais.
Apesar da organização do encontro, até ontem, ao menos três secretarias da área social — Justiça, Desenvolvimento Social e Segurança Pública — não tinham informações oficiais sobre a reunião. Os encontros com toda a equipe do governo ocorriam periodicamente, quando havia necessidade de alinhamento das pastas. Porém, tornaram-se mais espaçados desde o início da pandemia.
Além disso, as mudanças recentes do comando de algumas secretarias demandaram novos acertos com a equipe. “Estamos diante de um desafio. Além de enfrentar uma pandemia que não tem prazo para terminar, temos os reflexos dela, principalmente no tocante aos empregos. O GDF (Governo do Distrito Federal) vai liderar a retomada da economia com uma série de obras necessárias em todo o Distrito Federal”, afirma o chefe do Buriti.
Outro ponto que o governador disse ter interesse em desenvolver são ações sociais, a fim de proteger as “famílias menos favorecidas”. “Essa reunião é para definir os objetivos do governo neste período em que a pandemia continua, mas seus reflexos vão além da doença. É preciso saber onde investir, as prioridades de curto e médio prazos, as necessidades da maioria da sociedade. Isso tudo estará em discussão nesta e em outros encontros setoriais que teremos a partir de agora”, completa Ibaneis.
Andamento
Só a Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal (Terracap) tem previsão de investir R$ 552 milhões até 2020. A previsão é de que as ações promovidas pela empresa gerem três mil empregos direta e indiretamente. “Em algumas delas, estamos viabilizando recursos da agência, como para a troca do pavimento da Via Estrutural e para o fim da revitalização da W3 Sul, nas quadras onde não houve obras. Também estamos fazendo regularização fundiária e vamos começar a regularização em Arniqueiras. Os trabalhos que estavam mais adiantados, em processo licitatório ou em fase final, foram priorizados para gerar emprego e renda”, ressalta o presidente da Terracap, Izidio Santos.
Presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF), Dionyzio Klavdianos afirma que a atenção a esse setor tem sido uma demanda antiga ao GDF. “O setor da construção civil não está demitindo. As percepções que temos é de que as obras novas vão elevar mais o número de empregos”, acredita. “(As obras públicas em andamento) estão bem diversificadas, tanto no setor de edificações quanto no de infraestrutura, principalmente em regiões como Vicente Pires, Sol Nascente/Pôr do Sol, Taguatinga e Noroeste”, elenca.
Dados da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) mostram que os investimentos do Distrito Federal no fim do ano passado chegaram a R$ 266,2 milhões. A última vez em que o índice superou esse total foi em dezembro de 2014, quando chegou a R$ 319,1 milhões. O montante aplicado até junho último alcançou R$ 96,5 milhões. Por outro lado, o endividamento público no mesmo período foi de 29,2%. Considerada a média móvel dos 12 meses anteriores, o crescimento desse indicador é consistente desde o segundo semestre de 2017.
Capacidade
Doutora em economia e professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Virene Matesco defendeu que as autoridades comecem a se planejar para os próximos meses e para a fase do pós-pandemia. “Olhar para o amanhã é fundamental neste momento. E esse amanhã é o investimento. Se o governo não fizer isso, não sairemos do atoleiro. Essa pandemia mostrou que vamos sair mais pobres, mais endividados e muito machucados, porque tivemos amigos, familiares ou alguém conhecido que morreu em decorrência da doença e do descaso do poder público”, salienta.
A pesquisadora reforçou que a aplicação de recursos em áreas como infraestrutura é o caminho no momento. Contudo, ela demonstra preocupação com o aumento da dívida pública. “Não sei se vai sair do papel. Mas a construção civil é um setor pelo qual vale a pena começar. Temos sérias dificuldades de integração da atividade econômica, de distribuição e logística. O momento de juros baixos é ideal para investir”, completa Virene.
Professor do Ibmec-DF, William Baghdassarian explica que gastos governamentais podem ajudar a economia a rodar e, a depender da aplicação, é possível produzir um “círculo virtuoso”. “O que limita isso é a capacidade de arrecadar e de se endividar. A situação mudou drasticamente com a eclosão da pandemia. Em março, houve fechamento de lojas, empresas e queda brusca das atividades econômicas. Em um contexto como esse, é natural que os governos acabem gastando bastante para reaquecer”, avalia.
O especialista afirma que a decisão de ampliar as despesas pode ser difícil, mas será positiva se gerar novos postos de trabalho. “Setores mais intensivos de mão de obra são importantes neste momento. Você tira do desemprego pessoas que têm menos capacidade de reagir à pobreza. O endividamento só não pode explodir. A decisão é acertada, mas o governo tem de ficar atento à sustentabilidade”, reforça William.
Distribuição
Confira os valores previstos pelo GDF para as ações por setor:
Construção de sete viadutos: R$ 192.289.741,68
Construção e recuperação de quatro pontes: R$ 23.198.739,37
Execução e supervisão de dois túneis: R$ 285.727.120,19
Duplicação e restauração de três vias: R$ 61.000.000,00
Pavimentação de cinco rodovias: R$ 46.722.730,86
Restauração e revitalização de oito vias: R$ 323.567.896,88
Alargamento de duas rodovias: R$ 17.301.928,90
Urbanização em diversos locais do DF: R$ 859.445.573,49
Educação: R$ 108.106.631,42
Saúde: R$ 273.479.372,87
Segurança: R$ 199.851.775,45
Área social: R$ 41.104.000,00
Construção e reforma de terminais rodoviários: R$ 28.580.887,57
Edificação: R$ 55.577.950,47
Ambiental: R$ 18.975.324,79
Desenvolvimento rural: R$ 5.476.607,00
Caminho das escolas: R$ 8.533.927,18
Distribuição elétrica: R$ 37.651.932,64
Água e esgoto: R$ 524.785.531,54
Áreas de desenvolvimento econômico (ADE): R$ 85.776.371,43
Total geral: R$ 3.327.652.659,56 (incluídas obras com licitação suspensa)
Quantidade de obras: 107
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