Muito além do prazer sexual, o orgasmo pode diminuir o estresse, melhorar a qualidade do sono, aliviar crises de enxaqueca, revigorar o aspecto da pele e trazer outros benefícios à saúde. Ontem, foi dia de celebrar o prazeroso clímax do sexo. Porém, para muitas mulheres não há motivos para comemorar. Uma pesquisa do Programa de Sexualidade (Prosex), da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), mostrou que 55% das brasileiras não tem orgasmo na relação sexual. As causas podem ir desde a dificuldade em se excitar até dores na hora do ato. Especialistas, no entanto, afirmam que é possível chegar lá. Mudar a rotina sexual com o parceiro e buscar ajuda médica estão entre as principais recomendações.
A psicóloga e sexóloga Luísa Miranda explica que a anorgasmia — nome dado à disfunção que diz respeito à dificuldade ou ausência de orgasmos — é a consequência de muitos fatores. “Os mais comuns estão ligados à falta de autoconhecimento, acarretado por uma carência de educação sexual e por questões religiosas, que desde cedo colocam a masturbação feminina como pecado, gerando culpa”, diz. Com os homens, todavia, acontece o contrário. “Eles são incentivados sexualmente desde cedo, havendo mais liberdade sexual, os eximindo de muita culpa, o que auxilia no processo do orgasmo. A ausência dessa culpa os faz relaxar mais e ter mais ‘controle’ e poder da situação, consequência essa do patriarcado e falocentrismo”, ressalta.
De acordo com a especialista, iniciar a relação sexual tendo o orgasmo como meta pode fazer com que ele não aconteça. Quando o foco está na reciprocidade do toque e nas carícias, as chances de chegar ao clímax são maiores. Os estímulos para que isso aconteça podem variar a cada pessoa e não precisam vir, exclusivamente, dos órgãos genitais. “Isso limita as possibilidades de novas sensações e, obviamente, traz muita angústia àquelas pessoas que não se sentem estimuladas por esses ‘únicos’ pontos. O corpo é todo orgástico e deve ser explorado. Sendo assim, conexão mente e corpo são essenciais para uma maior satisfação”, completa.
O psiquiatra Luan Diego Marques conta que diversos pacientes procuram o consultório com queixas sobre a vida sexual. Entre as principais reclamações está a falta de libido. “Tem pessoas que usam álcool para relaxar e ter a relação sexual. Pode parecer que ajuda, mas, não, porque o álcool mexe com o humor e com a ansiedade, o que pode dificultar a atingir o orgasmo. Pessoas ansiosas depositam, na vida sexual, uma masturbação intensa e o excesso é prejudicial”, destaca.
Muitos pacientes esperam ter uma relação de confiança com o médico para poder falar sobre a vida sexual, mas Luan ressalta, que, apesar de ser um assunto íntimo, é um dos fatores que trazem qualidade de vida para o ser humano. “Ainda existem tabus individuais. Ter relação sexual saudável traz vida saudável. Ela permite liberação de neurotransmissores que trazem saúde, por isso é importante conhecer o que gostamos, como preferimos, em que ambiente, respeitando os desejos do parceiro”, orienta Luan.
Apetrechos
Dono da Erótika Sex Shop, Marcelo Araújo afirma que as pessoas têm buscado cada vez mais produtos para apimentar a vida sexual. “O orgasmo muda o humor das pessoas. Infelizmente, muitas mulheres têm medo de se conhecer, de se permitir conhecer o novo. Orgasmo é preciso, e o preconceito é prejudicial”, diz.
Vendedora na unidade da Asa Norte, Verônica Vieira conta que a maior parte das clientes que buscam os produtos do sex shop estão acima dos 50 anos. Algumas nunca tiveram uma experiência sexual sozinha. “Semana passada, duas clientes perguntaram se o tal do orgasmo realmente existe. É algo tão longe, que elas não acreditam”, frisa.
Verônica percebeu um aumento na procura por brinquedos sexuais durante a pandemia. “Muitas têm vergonha, mas, hoje, existe uma infinidade de produtos, mais discretos, com formatos fofos, como de pinguim e bolinha. Podem pedir os produtos em casa, e chegam de forma discreta. Um dia desses, um entregador estava com a bolsa de um aplicativo de comida. Ninguém percebe”, brinca. Entre os artigos mais procurados pelas clientes estão os aparelhos de vibração e sucção.
Intimidade
A servidora pública Marília Santos*, 29 anos, lembra que, no início do casamento, tinha dificuldade para atingir o orgasmo. Como se casou virgem, não teve experiências sexuais antes do matrimônio. “Sempre achei que me tocar fosse errado, porque foi assim que aprendi, mas, não. Com o passar do tempo, lendo sobre o assunto e conversando com pessoas experientes aprendi que eu precisava me conhecer, saber onde eu sentia o prazer”, analisa. “Conhecer a si mesmo faz toda a diferença. Hoje, tenho uma vida sexual supersaudável e aconselho amigas e conhecidas que passam por esse problema”.
Divorciada, a empresária Silvia Ramos*, 36, imaginava conseguir ter orgasmos apenas com algum companheiro. Quando se separou do homem com quem viveu por 7 anos, em 2015, decidiu não entrar em outro relacionamento, de imediato. “Aquele era o meu momento. Casei muito jovem e precisava estar sozinha. Mas, a falta da relação sexual vem, não é mesmo? Um dia, decidi entrar num sex shop e comprei um brinquedo. Nunca imaginei poder ter orgasmos sem alguém”, revela. “Consigo me sentir satisfeita e, ainda, quebrei um grande tabu na minha vida”, comemora.
* Nomes fictícios para preservar a identidade dos entrevistados
Conselhos para ter um orgasmo
- Permita-se sentir prazer e foque no que está fazendo
- Se masturbe, sem exageros. Conhecer o seu corpo é essencial
- Pratique. Quanto mais sexo fizer, maior será o prazer
- Aceite o seu corpo
- Varie nas posições e saia do óbvio
- Abuse dos demais cômodos da casa
- Mexa com o imaginário para que consiga se soltar
- Atividade física e alimentação saudável potencializam o alcance do orgasmo
- Curta o momento