Correio Braziliense
postado em 31/07/2020 06:00
A Sala de Situação da Faculdade de Saúde, na Universidade de Brasília (FS/UnB), acompanha de perto o avanço da covid-19 no Distrito Federal. Ontem, Alessandro Igor Silva Lopes, monitor do laboratório, concedeu entrevista ao programa CB.Saúde — parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília. O pesquisador é um dos responsáveis pela elaboração de análises epidemiológicas e comentou a necessidade de um pensamento macro por parte do Poder Público, além da importância de uma comunicação eficaz para que a população saiba como se proteger do novo coronavírus.Qual é a real situação da covid-19 no Distrito Federal?
De ontem para hoje (quarta para quinta-feira), temos mais de 1,5 mil casos novos. No total, Brasília tem mais de 100 mil casos, 104 mil, com mais de 1,3 mil mortes. Aumentaria de qualquer forma, porque abriram o comércio. Você tem pessoas circulando, então, o vírus vai continuar circulando. É simples. A pandemia poderia ter sido evitada antes, caso tivessem sido tomadas todas as medidas. A situação é bem grave. Mas a Sala de Situação, junto a toda a Universidade de Brasília, está trabalhando dia e noite para oferecer ferramentas, máquinas, tudo o que possa contribuir.
De que forma a Sala de Situação contribui para que o GDF possa tomar as devidas ações no sentido de conter a disseminação do novo coronavírus?
A função da Sala de Situação é pegar a informação em saúde, analisar, sistematizar e passar de uma forma clara, para que o governo e as regiões de saúde consigam fazer uma tomada de decisão rápida e direcionada. A difusão da covid-19 é muito rápida, a contaminação acontece de forma acelerada. Na Sala de Situação, desde que a pandemia estourou em Wuhan (na China), viemos formulando. Fizemos um plano de contingência para a universidade (de Brasília), que tem mais de 30 mil alunos. E (isso) é um fator disseminador. Viemos fazendo planos de contingência, boletins informativos. Não só do DF. Trabalhamos com a Ride (Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno), porque, querendo ou não, ela é influente no DF. Trabalho, questão de comércio, saúde; as pessoas do Entorno vêm para Brasília buscar saúde.
No último documento que vocês prepararam para encaminhar ao Distrito Federal, vocês chamaram atenção redobrada para Ceilândia, Taguatinga e Plano Piloto. Ressaltaram também o risco de disseminação da doença em Sobradinho, Paranoá, Lago Sul e Papuda. O que pode ser feito para reverter esse quadro tão assustador?
Primeiramente, organizar realmente essa questão, entender o território. O que adiantou fazer lockdown em Ceilândia e no Pôr do Sol/Sol Nascente? Você priva mais ou menos 30 mil pessoas de trabalharem na própria região, sendo que 36 mil saem para o Plano Piloto. Essas 36 mil podem usar metrô, ônibus, meios de locomoção com aglomeração. Você não tem de pensar somente um lugar, tem de se pensar no todo. A medida de prevenção, de tentar parar essa aceleração, seria essa colaboração.
Na questão das mortes, vocês, novamente, chamam atenção redobrada para Ceilândia, Taguatinga e Plano Piloto, que registram os maiores números de óbitos. Mas ressaltam que a quantidade de vítimas pode aumentar em Brazlândia, Planaltina e Park Way. Ainda dá tempo de preservar vidas nessas regiões?
Tudo dá tempo. Precisa de coordenação. É sentar e entrar em um consenso. Por que tem de ser importante? Porque, se você perde vidas, você não movimenta a economia. Com a celebração do comércio, a população que está saindo de casa é a população economicamente ativa, que gira a economia, gera lucro e imposto. Se você contamina essa população e ela fica (cerca de) 17 dias no hospital, você trava a economia. Tem de se pensar nessa forma. Ceilândia é muito densa populacionalmente. Ela se sustenta por si só. Só que tem muitas pessoas que fazem esse fluxo (de trabalho). Taguatinga idem. Temos de pensar dessa forma. Brazlândia é mais longe. No percurso dessa pessoa — ao se dirigir para o posto de trabalho que tem fluxo muito grande para Plano Piloto e Taguatinga —, ela é colocada em risco.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.