Cidades

O infinito (e belo) céu de Brasília

Em meio À seca e menor formação de nuvens pela noite, brasilienses aproveitam para observar o céu estrelado da capital por meio de telescópios ou por aplicativos de celular



Os brasilienses se orgulham do céu da cidade. E, à noite, fica mais bonito com estrelas que brilham mais nessa época do ano. Muitos, por curiosidade, gostam de identificar os corpos celestes e constelações. Um hobby que, durante o período de seca, em que há menos nuvens no céu da capital, a contemplação aumenta, seja a olho nu, por meio de aplicativos de celular, ou seja com o uso de telescópios. Com a pandemia, as pessoas relatam que a observação se intensificou, como uma atividade para tranquilizar os ânimos e desestressar.

O professor de ciência naturais, com especialização em astronomia e mestrado em ensino de ciência, Adriano Leonês, explica que a facilidade em visualizar os astros neste período do ano está relacionada a altitude elevada de Brasília e pouca formação de nuvens. “A altitude do DF é de 800 a 1.200 metros acima do nível do mar e isso faz com que as massas de ar sejam desviadas, o que gera menor incidência solar, menos formação de vapor d’água e, consequentemente, menor formação de nuvens na região”, explica o professor.

De acordo com o especialista, durante essa época do ano é possível visualizar melhor as constelações de Escorpião, de Sagitário (próximas aos planetas Júpiter e Saturno), de Virgem (com a estrela Espiga na formação). Outros destaques são a constelação do Cruzeiro do Sul (bem visível) e a Centauro. “Para a visualização perfeita dos astros o ideal é que a pessoa utilize um equipamento adequado (veja em Sugestões). A olho nu, principalmente dentro da cidade, onde há muita incidência de luminosidade, é mais difícil de enxergar (os detalhes)”, apontou Adriano.

Raphael Steigleder, 28 anos, é formado em geografia e disse que intensificou a observação do céu durante a fase de isolamento social, como uma maneira de lazer. “É um hobby para mim, me tira da rotina. A observação acalma e é uma válvula de escape”, define. Mas destacou que é paixão antiga. “Desde criança, dos 10 anos, tive contato com a área e passei a observar as estrelas pelo telescópio”, contou. O interesse foi aprimorado na faculdade, por meio de algumas disciplinas específicas.  “A partir daí, fui desenvolvendo esse interesse e estudando por conta própria”, explicou.

O que mais lhe chama atenção é grande dimensão do Universo comparado ao Planeta Terra. “Nós fazemos parte de um algo muito bonito e muito grande, e que funciona independentemente da gente e, até por isso, a raridade da nossa existência ser tão bonita. Precisamos ser muito gratos por estar vivendo e podendo observar tudo isso”, definiu Raphael. Com o período da seca, ele acredita que há mais facilidade em visualizar o céu. “Como não tem tanta formação de nuvem é possível ver melhor, apesar de haver algumas modificações ao longo dos dias”, observou.

Paixão

A militar da reserva da Aeronáutica Ana Maria Paes, 57, é aficionada por astronomia. O hábito de olhar para o céu começou desde criança. “A princípio observava as nuvens e os seus formatos. As nuvens têm formas interessantes. Rostos, bichos, árvores... Depois sempre observava a primeira estrela da noite. Acho que o que me despertou desde sempre é a beleza do céu”, relatou. A localização onde mora na capital também a ajuda a manter o hobby. “A maior parte da minha vida morei em Sobradinho, que tem um céu que ainda é possível identificar algumas estrelas”, contou.

O interesse por astronomia, porém, veio mais tarde, na fase adulta. “Tenho instalados em meu celular alguns aplicativos de observação estelar, em que aprendo os nomes e identifico as constelações. Observo a olho nu todos os dias, quase sempre nas madrugadas, às 3h ou 4h. Percebi que é através da astronomia que se tem o entendimento das distâncias que vivemos de outras estrelas” comentou.

A maneira que o astrofotógrafo Leonardo Caldas, 44, encontrou para estar em contato com os astros foi por meio da câmera fotográfica. Professor da Secretaria de Educação, a atividade é uma ocupação importante na vida dele. “É gratificante conseguir fotografar algo que está muito distante da gente”, comentou. Por meio de rede social, ele costuma compartilhar fotografias que registram imagens de corpos celestes e grandes áreas do céu noturno. “A captura precisa de muita técnica e é possível mostrar as galáxias. Só que ela é invisível a olho nu. A técnica consiste em um empilhamento de imagens registradas várias vezes. Feito isso, é possível melhorar a iluminação delas no computador. Também é necessário um tripé que possibilite acompanhar a rotação do céu”, explicou.


Sugestões


» Professor de física da Universidade de Brasília, Paulo Brito explica que a invenção do telescópio por Galileu Galilei, em 1609, foi um divisor de águas para a ciência como um todo. “Quanto maior a abertura do telescópio, mais luz entra e consequentemente melhor a imagem observada. Um telescópio de 150mm é um bom telescópio para observar a Lua, os planetas e diversos aglomerados estelares”, explica.

» Para os mais interessados, ainda é possível adquirir telescópios computadorizados, que acompanham o movimento aparente das estrelas e planetas no céu. Existem uma diversidade de telescópios e suas montagens. Aos iniciantes, podemos recomendar três tipos de entrada:

1) Binóculo, um bom binóculo, com aumento de até 10 a 20 vezes, nos permite ter um olhar para os céus muito interessante. Como o aumento não é muito grande, permite olhar para alguns aglomerados estelares e a Lua.

2) Telescópio refrator (luneta), feito com duas lentes, proporciona aumentos variados de acordo com a 
combinação das lentes.

3) Telescópio refletor (telescópio newtoniano), feito com um espelho e uma lente. Mais comum para os astrônomos amadores.