Cidades

DF tem a segunda menor taxa de letalidade por covid, mas números preocupam

Mesmo com 1.266 mortes e 100.726 notificações, o Distrito Federal apresenta sinais de estabilização, segundo balanço da Companhia de Planejamento (Codeplan). Mais de 83 mil recuperaram-se da doença, e índice de letalidade é o segundo menor do país

No dia em que passou a marca de 100 mil infectados pelo novo coronavírus, o Distrito Federal também confirmou o maior número de mortes em 24 horas: 52. As vítimas morreram entre 14 e 28 de julho. Desde o início da pandemia, a covid-19 matou 1.266 brasilienses e infectou 100.726. Mesmo assim, mais de 83 mil (82,7%) recuperaram-se da doença. A taxa de contaminação apresenta sinais de estabilização, mas com as notificações no pico da curva. Para pesquisadores, as próximas semanas continuarão preocupantes e revelando as consequências de um controle debilitado da pandemia.

Boletim divulgado ontem pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) apontou um índice de crescimento diário acumulado no mês de julho de 1,4%. Além disso, a taxa de letalidade — número de mortes em relação ao total de casos confirmados — no DF foi a segunda menor entre as 26 unidades da Federação no último domingo. O indicador ficou em 1,36%, segundo o documento. Em números absolutos, Ceilândia, Taguatinga e Samambaia registram a maior quantidade de vítimas da covid-19.

O pesquisador do Departamento de Ciência do Comportamento da Universidade de Brasília (UnB) Breno Adaid ressalta outro fato: a média móvel de casos ficou mais alta após a retomada de comércios e serviços. Essa taxa leva em conta os registros de uma data específica associados aos resultados observados nos seis dias anteriores. “Ainda não temos indícios de descendência. E, para começarmos a ter, é preciso uma sequência longa de quedas”, observa.

Segundo Breno, a expectativa era de que a curva de contaminação começasse a cair a partir das 100 mil confirmações. No entanto, o total de notificações tem se mantido em patamares elevados. “Temos uma oscilação menor, mas os casos estão se estabilizando em números mais altos. Agora, após duas semanas de reabertura, começamos a colher os efeitos. Espera-se que exista um teto (de casos) mais demorado. Só que, se as pessoas abusarem, teremos uma reaceleração”, alerta o também coordenador do mestrado em administração do Iesb.

Fiscalização

Professora do curso de saúde coletiva da Universidade de Brasília (UnB), Carla Pintas reforça que os resultados de ontem refletem os últimos 15 dias. “Se você olhar os números mais recentes, temos visto que aumentaram rapidamente o número de casos e de pacientes internados. Não vamos ver diminuição, por enquanto, porque não estamos tendo medidas de controle e contenção da população”, comenta. “Testar é importante, porque sabemos como o vírus tem se apresentado em uma região. Assim, conseguimos acompanhar os casos e fazer a vigilância”, completa Carla.

O coordenador do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Brasília, Claudio Maierovitch, sugere dois caminhos para reverter a crescente de notificações: cumprimento de medidas de distanciamento social e monitoramento de pacientes. “É preciso testar, isolar e identificar pessoas que tiveram contato com aquela primeira. Se testarem positivo, elas precisam ser isoladas também. Nenhuma das duas coisas está funcionando. Não dá para dizer que há controle (da doença)”, pontua o sanitarista.

A Secretaria de Saúde informou, em nota, que faz o monitoramento epidemiológico da evolução do novo coronavírus em todo o DF e que o alerta da pasta continua sendo para que a população esteja atenta aos cuidados e às orientações sanitárias. A pasta destacou, entre as medidas de monitoramento, a testagem em postos de drive-thru, além da ampliação dos exames para as 172 unidades básicas de saúde (UBSs). Servidores também têm sido testados e, os que têm resultados positivos, são afastados do trabalho e mantidos em quarentena por 14 dias.

Em relação ao comércio, o órgão informou que a Diretoria de Vigilância Sanitária (Divisa) intensificou as fiscalizações, com 300 operações diárias no DF. “De março a junho, a Divisa realizou cerca de 40 mil ações e instaurou 79 processos referentes a lavraturas de autos de infração dos estabelecimentos por descumprimento dos decretos e sobre as medidas sanitárias de enfrentamento à covid-19”, detalha o texto. Nesse período, 22 estabelecimentos foram interditados.