Defesa dos professores
Tenho acompanhado com vivo interesse a pesquisa Perigos da Percepção (Perils of Perception) do Instituto Britânico Ipsos Mori. Fiquei ansioso para saber o resultado de 2019, mas, talvez em decorrência da pandemia, não foram divulgados os dados relativos ao último ano.
Por isso, volto aos mapas traçados até agora. Em 2018, o Brasil ficou em quinto lugar. Que ninguém se ufane: é quinto lugar negativo, quinto lugar no índice da ignorância. Só apareceu à frente da Malásia, da Turquia, do México e da Tailândia.
E nos anos anteriores, a nossa posição não foi das mais lisonjeiras. Em 2016, o nosso país figurou em sexto lugar. Já em 2017, chegou ao segundo posto, somente a África esteve pior. Isso talvez explique tantas manifestações que se assemelham a piadas prontas, quando não têm consequências trágicas, como é o caso desse momento de pandemia.
Se Stanislaw Ponte Preta, o criador do Febeabá (Festival de Besteiras que Assola o País), estivesse vivo, faria a festa, apenas com as compilações de coisas tolas, desrazoadas ou disparatadas: “Dar conselhos a um homem culto é supérfluo; aconselhar um ignorante é inútil”, escreveu o filósofo Sêneca.
Quem se espanta com a posição vexaminosa do país em sucessivos rankings de educação e deseducação precisa concentrar o foco na situação dos professores. Na reforma da Previdência, eles foram incluídos na categoria dos detentores de supostos privilégios e, durante a pandemia, não têm sido ouvidos no processo de tomada de decisões relacionadas ao funcionamento das escolas.
De maneira semelhante a que o índice de ignorância afeta a visão sobre múltiplos temas, a imagem que um país tem dos docentes influi no desempenho de suas tarefas. Como romper com as trevas da ignorância sem a mediação de mestres do saber, que iniciem e encaminhem na trilha do conhecimento? Como entrar na rota do desenvolvimento com ataques obscurantistas à ciência, à educação e aos docentes?
A revista Superinteressante publicou uma pesquisa sobre o desprestígio dos professores. Só um em cada cinco brasileiros recomendaria a carreira a um filho. E mais: somente 9% acha que os estudantes respeitam seus mestres em sala de aula.
Em um ranking de 35 países, o Brasil segurou a lanterna das nações que menos valorizam os seus professores, segundo pesquisa da Varkey Foundation, instituição dedicada à melhoria da educação infantil. No contexto dos países da América da Sul, ficamos atrás da Argentina, da Colômbia, do Peru e do Chile.
Quase todos os países que ocupam lugares de destaque no topo do ranking do desenvolvimento se distinguem pelo respeito aos professores: China, Coreia do Sul, Rússia, Canadá e Finlândia. Em entrevista concedida à BBC, Sunny Varkey, o criador da fundação, sustenta: “Podemos, agora, afirmar, sem dúvida alguma, que respeitar os professores não é importante apenas como obrigação moral, é essencial para os resultados educacionais de um país”.
E, para fechar, uma reflexão do filósofo Sócrates, em eras A.C. (Antes de Cristo), mas ainda extremamente atual: “O tolo, quando erra, queixa-se dos outros; o sábio queixa-se de si mesmo”.