Correio Braziliense
postado em 24/07/2020 14:30
Pesquisadores voluntários da Universidade de Brasília (UnB) e de instituições parceiras do observatório PrEpidemia observaram que o isolamento social não é mais capaz de diminuir o número de infectados no DF. Em nova Nota Técnica, o grupo propõe as vigilâncias epidemiológica e geográfica, que possibilitam o rastreio e identificação dos casos infectados pelo novo coronavírus, como a única forma de conter a pandemia.
Com a afirmativa, os responsáveis descrevem, no documento, quais ações deveriam ser tomadas no Distrito Federal para garantir a implantação das vigilâncias e, consequentemente, a erradicação da pandemia na capital. A primeira medida a ser tomada, para eles, deve ser o rastreamento de casos atendidos pela Atenção Básica de Saúde do DF. “O foco das ações de caráter preventivo compõe a essência das atividades da Atenção Básica de Saúde", explica trecho do documento.
Somente a partir da identificação dos infectados é possível rastrear outras pessoas com coronavírus. Nesse caso, caberá à equipe de visitação domiciliar, composta por Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e Agentes de Controle de Endemias (ACE), em segunda fase, a visitarem residência e o trabalho (se estiver ativo) de quem adoeceu e testar todos os membros da família e amigos mais próximos nas comunidades. Projeta-se para essas ações uma janela de tempo em até 48 horas.
De acordo com o documento e com o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), o contingente destes profissionais é de 285.668 e 94.774, respectivamente. “O número é bem maior que o número de novos casos por dia, com isso, é possível fazer um rastreamento efetivo”, explica o professor de Planejamento e Gestão em Saúde da Escola Superior de Ciências da Saúde (Escs), Roberto Bittencourt.
Saiba Mais
Em relação à vigilância geográfica, o estudo propõe que sejam usadas plataformas de geoprocessamento disponíveis amplamente em Secretarias Estaduais de Saúde ou Municipais de grandes cidades. Elas vão identificar os principais focos, por região, bairros e por CEP, assim como verificar os fluxos de contágio e mapear as zonas mais atingidas para concentrar as atividades de rastreamento, busca ativa e isolamento comunitário seletivo.
“Desta maneira, é possível construir mapas e possíveis rotas de transmissão do vírus, acompanhadas por tecnologia móvel e a utilização dos princípios e modelos de cartografia colaborativa. Podendo assim estabelecer critérios de monitoramento dos possíveis ciclos de reinfecção, estabelecendo sistemas de alerta permanente”, relata trecho do documento.
Para o professor Roberto, a tecnologia pode ser um importante aliado nesse momento, porque faz um controle inteligente das áreas mais afetadas no DF. “Por meio dessa vigilância, é possível fazer um controle inteligente das regiões. Ao invés de abrir todas as escolas ao mesmo tempo, pode-se começar gradualmente, nas regiões mais controladas”, observa. Mas o professor reforça que, mesmo com a adoção das medidas, as aglomerações devem ser evitadas. “Não dá para ser flexível em relação às aglomerações. Uma pessoa infectada transmite para uma pessoa e meia e isso é um número alto e ainda um desafio no controle das transmissões”, pontua.
Etapas propostas na Nota Técnica
(1) As Unidades Básicas de Saúde (UBS), as Equipes de Saúde da Família (ESF), com ênfase nos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e nos Agentes de Controle a Endemias (ACE) articulados nas comunidades e nos municípios, a fim de identificar os casos, rastrear seus contatos, testá-los (rt-PCR) e monitorá-los em condições de isolamento seletivo para interromper a transmissão do vírus;
(2) Os hospitais e os serviços de emergência hospitalar, Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e Serviço Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) que atendam casos suspeitos de covid-19 podem, complementarmente, ativar a rede de agentes sanitários de campo para testar seus familiares e colegas de trabalho, determinando o isolamento daqueles positivos ou aguardando resultado;
(3) As plataformas de geoprocessamento, disponíveis amplamente em Secretarias Estaduais de Saúde ou Municipais de grandes cidades, poderão identificar os principais focos, por região, bairros e por CEP, assim como, verificar os fluxos de contágio e mapear as zonas mais atingidas para concentrar suas atividades de rastreamento, busca ativa e isolamento comunitário seletivo.
PrEpidemia
O PrEpidemia é um observatório que tem como objetivo subsidiar os gestores públicos e a população no monitoramento espacial da disseminação do Sars-CoV-2, abordando aspectos de diversas áreas do conhecimento, a partir de estudos e simulações apoiadas em dados e modelagem matemática. O acompanhamento tem ênfase no Distrito Federal e na Região Integrada de Desenvolvimento Econômico (RIDE) e, atualmente, conta com contribuições de uma equipe multidisciplinar composta por pesquisadores voluntários da UnB e de instituições parceiras das áreas de geociências, saúde, engenharia de produção, transportes, estatística e matemática.
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