Correio Braziliense
postado em 24/07/2020 04:16
As abelhas têm papel fundamental na natureza. A função do inseto na cadeia alimentar é essencial para a sobrevivência de muitas espécies, inclusive a humana. Uma pesquisa da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, estima que um terço dos alimentos consumidos no mundo é diretamente dependente do trabalho das abelhas no meio ambiente, responsáveis pela polinização de 80% dos cultivos do planeta. Há estudos, inclusive, que estimam o fim da vida na Terra, caso esses insetos sumissem.
Um relatório produzido, no ano passado, pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES) e a Rede Brasileira de Interações Planta-Polinizador (Rebipp) mostra que o valor econômico da polinização para a produção de alimentos no Brasil é de R$ 43 bilhões. Ou seja, esse é o montante estimado que os produtores teriam que investir para manter a produtividade alimentícia, caso os animais polinizadores, como as abelhas, desaparecessem da natureza. Cerca de 80% do total estão associados às culturas de soja, café, laranja e maçã.
Professor do Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília (UnB), o biólogo Bráulio Dias explica que diferentemente dos animais, as plantas precisam de ajuda para se reproduzir e contam com o apoio das abelhas e outros insetos para levar o pólen (gameta masculino) até o óvulo (gameta feminino). “As plantas estão fixas, com raízes. A maioria produz pólen pegajoso e oferece néctar para atrair os insetos. Eles vão até o pólen, lambuzam-se e levam à próxima flor que for visitada, e ele (pólen) atinge o óvulo”, detalha.
Ao contrário do que muita gente pensa, nem todas as espécies de abelhas têm ferrões. As nativas de território brasileiro, conhecidas como indígenas ou meliponas, não tem tal mecanismo de defesa. Já as africanizadas — geradas a partir do cruzamento entre abelha africana e europeia — têm.
Na apicultura, cada espécie vive em um tipo de colmeia diferente. As indígenas ficam em meliponários, que podem ser construídos próximo a residências. Já as africanizadas se estabelecem em apiários, que devem ser instalados em áreas rurais, uma vez que elas são mais agressivas.
O professor Bráulio conta que, para localizar as flores, as abelhas são orientadas pelo som. As africanizadas costumam ir até elas, buscam o néctar e o pólen e levam para a colmeia. “Lá, ela faz uma dança e a velocidade dos movimentos dá uma ideia da abundância de flores que há naquela região. Elas conseguem passar essa informação. É uma comunicação muito sofisticada”, revela o especialista.
No Distrito Federal, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do DF (Emater-DF) é quem presta apoio aos agricultores em geral. Hoje, o órgão não consegue quantificar quantos apicultores atuam na capital, já que o mercado cresce, sem precisar de cadastro. A maioria dos produtores que trabalham com as abelhas africanizadas recorre a espaços nas periferias da cidade ou em regiões do Entorno, longe de residências e próximo de plantações que agradam os insetos, como eucaliptos, aroeiras e cítricos.
Produção
De acordo com o extensionista rural da Emater-DF Névio Guimarães, as abelhas com ferrão têm enxames de 70 mil a 90 mil indivíduos, em média, e produzem de 30kg a 40kg de mel, por caixa, por ano, em apiários fixos. Quando fazem produção migratória e são levadas para regiões com muitas flores, a quantidade pode duplicar. Devido à pandemia do novo coronavírus, o quilo do produto certificado sofreu um aumento entre 30% e 50% no valor. Antes, era vendido entre R$ 30 e R$ 40. Hoje, pode-se encontrar o produto por R$ 60. O mel produzido no DF foi premiado em competições nacionais e internacionais (veja em Melhor mel do Brasil).
Névio cria abelhas em quatro regiões do DF e em Flores (GO). Ao todo, são 80 caixas de colônias. Ele explica que, para criar esses insetos, deve-se ter uma área grande, disponibilizar bastante água e cultivar plantas que as atraiam. “É importante colocar as caixas com uma distância, mínima, de 500 metros de outros animais e de residências. De preferência, em um local sem grande movimento de carro e de pessoas”, aconselha.
Presidente do Instituto Abelha Nativa, Luiz Lustosa cria abelhas nativas, ou seja, sem ferrão, há cinco anos. A maior parte de suas colmeias está no Parque da Cidade. Para ele, a atividade é especialmente importante neste momento de pandemia, já que os insetos produzem própolis, um dos alimentos que aumentam a imunidade do corpo humano. Além disso, por meio da polinização dessa espécie, é possível fazer óleos e sabonetes. “Tenho uma parceria com o GDF (Governo do Distrito Federal) e o Parque da Cidade para criar no meio da natureza. Elas não apresentam risco nenhum e são abelhas sociais. Apesar de produzir menos mel, ele tem uma qualidade excelente”, ressalta. O produto tem o preço acima dos méis produzidos pelas abelhas africanizadas e o quilo pode custar R$ 200.
Para o presidente da Associação Apícola do DF (API-DF), Carlos Alberto Bastos, Brasília é pequena para criar abelha, mas avalia de forma positiva a produção de mel da capital, principalmente, pela mata nativa e o clima. O período de seca, é um dos que mais se produz. “O bioma daqui é diferente das demais regiões do Brasil, interfere no sabor do mel, e a seca eleva a qualidade, principalmente, pela quantidade de água. O mel fica mais concentrado”, explica. De acordo com um levantamento da API-DF, o DF produz 34 toneladas de mel por ano.
Benefícios do mel
A nutricionista Camila Pedrosa explica que o mel é um alimento rico em nutrientes que ajudam na melhora da saúde, como o funcionamento do intestino, digestão e controle da glicose, pela baixa taxa glicêmica, quando usado como adoçante. Ele, também, combate o estresse, melhora o bem-estar e ajuda na qualidade do sono. Além disso, serve como hidratante natural para a pele e é uma boa fonte de energia.
Em sua composição há:
» Antioxidante
» Probiótico
» Antifúngico
» Minerais
» Cálcio
» Carboidrato
Melhor mel do Brasil
Brasília sempre esteve em destaque pela produção de mel nas premiações do Congresso Brasileiro de Apicultura, que ocorre a cada dois anos. De 1996 a 2010, foram sete títulos: cinco de melhor mel do país (1996, 2000, 2006, 2008 e 2010), um de segundo melhor mel cristalizado (1998) e outro de segundo melhor pólen (2002). Em competições internacionais, a cidade foi premiada no 9º Encontro Ibero-Americano de Apicultura, em 2011, e recebeu menção elogiosa no Congresso da Apia Mondi, em 2012.
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