O primeiro dia de mudanças no trânsito em Taguatinga Centro causou surpresa aos desavisados, trânsito intenso e tumulto nos “novos” pontos de ônibus — ainda sem lugar definido. Desde ontem, otráfego de Ceilândia até a Estrada Parque Taguatinga (EPTG) ficou interditado e transferido para a Avenida das Palmeiras, que agora funciona em mão única, no sentido da rodovia e do Pistão Norte e Sul. As obras custarão, inicialmente, R$ 275,7 milhões, e a previsão de entrega é para fevereiro de 2022.
A interdição de parte da via central de Taguatinga ocorre para a construção da ligação subterrânea para motoristas que seguem no sentido Ceilândia para o Plano Piloto, e vice-versa. Após a conclusão das obras, os condutores que trafegarem pela Avenida Elmo Serejo poderão adentrar pelo túnel, e sair diretamente na EPTG. As novas pistas ficarão sob a Avenida Central, e terão 1.010 metros de extensão, sendo 830 metros cobertos. O objetivo da obra é garantir fluidez do tráfego.
Segundo o motorista Ricardo Ribeiro, 48 anos, o projeto é importante para desafogar a retenção que ocorre no centro da região administrativa. Contudo, analisou que a escolha de transferir o trânsito para a Avenida das Palmeiras não foi a melhor opção. “Eu mesmo descobri sobre o desvio pela manhã, quando gastei 40 minutos no trajeto da Samdu Sul para a Avenida das Palmeiras. Geralmente, levo 10 minutos. O fluxo ficou extremamente pesado próximo à Feira dos Importados (ao fim da Samdu Sul), e ninguém conseguia sair do lugar”, afirmou o gerente de vendas.
A mudança do tráfego para a avenida também desagradou os moradores da área, como os residentes do edifício Via Centralle, na Avenida das Palmeiras. O síndico Edivaldo Brito, 64, afirma que a transferência impacta “sobretudo, na saída da garagem do prédio. É uma rampa, então, não há uma boa visão. Ainda mais com um tráfego tão intenso. Fizemos um abaixo-assinado de 300 assinaturas para que o trânsito não fosse encaminhado para a Avenida das Palmeiras, mas não adiantou.”
De acordo com o administrador de Taguatinga, Geraldo César de Araújo, a mudança foi decidida com base técnica. “Toda grande obra traz transtornos, mas essa foi a solução encontrada. Deixamos a avenida com quatro faixas em sentido único, no sentido EPTG. Claro que é uma área que não foi construída para grande tráfego, mas temos que nos adequar, para conseguirmos a grande obra da construção do túnel. A população tem que se conscientizar que precisamos dar um pouco de nós para a evolução da nossa cidade”, destacou.
Transporte público
Com a mudança do tráfego, os pedestres que dependem dos ônibus para se locomover também precisaram se adequar. A auxiliar de limpeza Carmen Lúcia Oliveira, 67, acabou se deslocando para Taguatinga Centro, e encontrou o local deserto. “Só depois é que soube do início da obra e, consequentemente, do remanejamento das paradas para a Avenida das Palmeiras”, explicou.
“Mas, quando cheguei aqui, o que encontrei foi apenas pessoas amontoadas em um ponto da pista. Não há qualquer parada de ônibus que nos proteja do sol ou da chuva, por exemplo. Ficamos expostos, aguardando o transporte passar, e sem muita visibilidade. Claro que é preciso fazer a obra, mas também é necessário pensar na população, que arca com todo o transtorno”, finalizou a moradora da Colônia Agrícola Samambaia.
O administrador de Taguatinga destacou que o início das obras foi informado. Contudo, acredita que “as pessoas acabam não ingerindo a notícia. Como é o primeiro dia, é certo que haverá pessoas desavisadas e muito desencontro de informação.” Geraldo César também frisou que as paradas devem ser transferidas para a Avenida das Palmeiras nesta semana.
A reportagem procurou pela Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob), pedindo esclarecimentos e uma fonte para explicar sobre quantas paradas de ônibus serão transferidas para a avenida e o cronograma para o serviço. No entanto, não obteve retorno até o fechamento desta edição.
Impacto no comércio
As mudanças no tráfego da região também são preocupantes para os comerciantes que mantêm lojas na área fechada para o trânsito. Para Elismar Bernardes, 50, a restrição impactou no movimento. “Abrimos às 9h e tivemos pouquíssimos clientes, foi péssimo. Ainda não pensamos em nada, estamos esperando para ver o que realmente vai acontecer. Como foi só o primeiro dia, pode ser que tenham outros motivos para o baixo movimento”, esclareceu o gerente da Bellapele Perfumaria no Centro de Taguatinga.
Márcio Luiz Ribeiro, 54, dono do posto Petrolino, disse que o estabelecimento foi prejudicado pela obra. “É um projeto mal pensado e mal planejado, e pode acabar com o meu negócio. O movimento já no primeiro dia foi baixíssimo. Além disso, acho que não vai resolver o problema de congestionamento. Pelo contrário, se durar muito tempo, essa obra pode matar o comércio no centro de Taguatinga”, lamentou.