Correio Braziliense
postado em 23/07/2020 06:00
Apenas no Cerrado, há cerca de 400 espécies de abelhas registradas, uma delas é a africana — responsável por avançar sobre uma família no último domingo, no Estacionamento 6 do Parque da Cidade. Tais incidentes tendem a aumentar no período de seca e a primeira reação das pessoas costuma ser o extermínio dos insetos. Porém, especialistas alertam para a importância das abelhas na manutenção da flora local e explicam como reagir ao se deparar com um enxame.
Com o objetivo de evitar acidente como o que aconteceu domingo, ontem, a administração do Parque retirou uma colmeia da estrutura que da acesso à piscina de ondas, no Estacionamento 7. Presidente da Associação dos Meliponicultores do Distrito Federal (AmeDF), Luiz Lustosa e uma colega apicultora participaram da ação. Por volta das 8h30, oito favos da colmeia foram retirados e colocados em caixas. Ao final do dia, o enxame retornou aos favos e a equipe fechou os recipientes com as abelhas dentro. Os insetos foram encaminhadas a um apiário, no Gama.
De acordo com dados da Diretoria de Vigilância Ambiental (Dival), entre janeiro e junho, houve 60 acidentes envolvendo abelhas, e esse número tende a aumentar nos próximos meses. O diretor de répteis, anfíbios e artrópodes do Zoológico de Brasília, Carlos Eduardo Nóbrega, explica que a abelha africana tem uma postura defensora e ataca pessoas que se aproximam da colmeia. “Enquanto migram, esses animais levam a rainha no centro e se tornam mais agressivas, nesse momento. Então, caso identifiquem algo como possível ameaça, elas atacam com o objetivo de proteger a rainha”, diz.
Foi o que aconteceu no incidente de domingo. Uma mulher, de 38 anos, e a mãe, de 72, estavam passeando com dois cachorros pelo Estacionamento 6, do Parque da Cidade, quando se depararam com um enxame de abelhas africanas em migração. As duas mulheres e os cães sofreram diversas picadas. Um dos pets morreu, mesmo depois de ter sido levado ao veterinário.
Esse processo migratório acontece, principalmente, entre junho e novembro, período de reprodução das abelhas. Segundo Luiz, isso e as queimadas contribuem para o aumento do número desses insetos na capital federal. “As plantas que servem de alimentação para as abelhas são perdidas nas queimadas. Então, elas se deslocam para a cidade, principalmente, para locais que tenham flores e frutas, como o Parque da Cidade”, esclarece.
Também presidente do Instituto Abelha Nativa, uma sociedade civil sem fins lucrativos que visa defender a biodiversidade, Luiz alerta para o papel que esses animais têm na natureza. Estima-se, que elas sejam responsáveis por 90% da polinização do mundo. “Sem esses insetos, vegetações no geral teriam a reprodução prejudicada”, afirma.
Tenha calma
O presidente da AMeDF ressalta que, ao encontrar um enxame, o primeiro passo é não mexer com as abelhas. “É importante que as pessoas não tentem retirar a colônia sozinhas nem irritem as abelhas, pois as chances de ataque aumentam. O recomendado é chamar o corpo de bombeiros ou um apicultor para que a retirada seja realizada da forma correta”, explica Luiz.
A médica alergista e imunologista Natasha Ferraroni afirma que a primeira coisa a se fazer em casos de picada de abelha é aplicar gelo no local, a fim de evitar a dispersão do veneno. “Muita gente acha que a maior urgência é tirar o ferrão. Na verdade, é preciso tirar o ferrão para não dar uma reação de ‘corpo estranho’, mas o veneno já foi introduzido. Por isso, o gelo é a maior urgência nesses casos”, diz. Ela explica que as reações comuns envolvem vermelhidão, dor e inchaço na área da picada. Caso a pessoa não seja alérgica, não é necessário procurar um médico. “A lesão, normalmente, tem de 3 a 5 centímetros e deve sumir em até 24h após o incidente”, afirma.
No entanto, a médica ressalta que existe o risco de reações mais graves. “São poucos casos, cerca de 10% serão reações locais mais graves, que podem ficar com mais de 5 centímetros e dolorida, por cerca de 10 dias. Nesses casos é preciso uma intervenção com antialérgico e corticoide oral”, esclarece. Segundo Natasha, as pessoas alérgicas devem ser tratadas com doses de adrenalina, administradas por um médico. “Quando o indivíduo tem alergia, uma picada pode gerar um choque anafilático, ou seja, uma situação que em que vários sistemas entram em colapso ao mesmo tempo. Pode ser crise de falta de ar, rouquidão, desmaio e inchaço da pele”, diz.
5 perguntas para Alexandre Ayres, médico alergista do Hospital Brasília responde à perguntas sobre casos de alergias às picadas
Como saber se tenho alergia?
Procurar um médico para fazer os testes. O profissional irá realizar um teste: ou de sangue ou por via cutânea (pele) e identificar a sensibilidade alérgica do indivíduo a picadas de abelha e, assim, identificar o histórico.
Quando uma picada de abelha pode levar a morte?
Ao falar de picadas de abelhas temos que separar os indivíduos em dois grupos: os alérgicos e os não-alérgicos. Em relação aos alérgicos, a picada pode levar a morte, mas não é uma regra. Nesses casos, os sintomas se espalham pelo corpo e podem levar a um choque anafilático. Em não-alérgicos isso raramente vai acontecer.
Se alguém alérgico for picado, quais são os procedimentos?
A primeira providência para o alérgico é procurar um profissional de saúde especialista em alergias. Caso a alergia já seja identificada, ele provavelmente terá que carregar a adrenalina autoinjetável ou a ampola de adrenalina para injetar depois da picada, mas sempre sob orientação médica.
Mesmo com após injetar a adrenalina, é importante ir a um médico, pois, dependendo do grau de alergia, a dose de adrenalina terá que ser maior. Além disso, existem efeitos colaterais, como arritmia, que também podem levar a morte.
Quais os sintomas em alguém que tem alérgico?
Dor local, vermelhidão, queda da pressão arterial e choque anafilático. Porém, tudo depende do indivíduo e do local da picada. O choque anafilático, por exemplo, pode ocorrer de 1 minuto a 1 hora depois da picada.
Qual a maior recomendação dos médicos para quem é alérgico a picadas?
Evitar os ambientes onde provavelmente existam abelhas. Fazendas, chácaras, parques, entre outros.
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